A despedida a John Lewis, um dos maiores heróis da ampla e alongada luta dos norte-americanos contra o segregacionismo, e deputado desde 1986 pelo Estado da Geórgia, começou no lugar onde sua luta junto com Martin Luther King teve o ponto mais intenso. No domingo, 26, os funerais de Lewis, que morreu no dia 17 passado aos 80 anos de idade vítima de um câncer de pâncreas, chegaram a Selma (Alabama) e o carro com o seu corpo atravessou pela última vez a ponte Edmund Pettus.
Foi esse o lugar em que John protestou em 1965 para exigir o direito ao voto para os negros norte-americanos, manifestação que foi decisiva para que cinco meses mais tarde o presidente Lyndon B. Johnson aprovasse a Lei de Direito ao Voto que, pelo menos legalmente, proibia a discriminação racial no país. Nesse episódio, Lewis teve o crânio fraturado por um porrete de um policial do Alabama. A foto da violenta agressão à marcha encabeçada por Martin Luther King, de Selma a Montgomery, naquele que foi denominado o “Domingo Sangrento”, imagem que foi fartamente divulgada nos Estados Unidos, ajudou a acelerar o desencadeamento de um amplo movimento de massas pelos direitos civis dos negros por todo o país.
Agora, no domingo, 26, a ponte foi coberta com pétalas de rosas vermelhas e o féretro, envolvido em uma bandeira dos Estados Unidos, atravessou numa carruagem levada por cavalos. Diversas organizações e grupos sociais pediram que, a partir de agora, a ponte leve o nome deste lutador pelos diretos civis. A proposta ocorre em meio a intensos protestos contra o racismo em todo o país, considerando que o nome atual do local é o do oficial Edmund Pettus do Exército confederado cuja participação, durante a guerra civil, foi a favor da manutenção da escravidão dos negros norte-americanos.
A última aparição pública de Lewis foi no início de junho, quando participou de um ato perto da Casa Branca, em Washington, em meio aos protestos motivados pela morte de George Floyd, o negro estrangulado por um policial branco em Minneapolis.
Já debilitado pelo câncer e usando uma bengala, ele caminhou com a prefeita Muriel Bowser, em Washington, DC, em uma rua da Casa Branca que ela havia acabado de renomear Black Lives Matter Plaza, e que tinha sido decorada com um grande mural amarelo onde foi escrito “Black Lives Matter” (Vidas negras importam).
“É muito emocionante, muito emocionante, ver centenas de milhares de pessoas por toda a América e em todo o mundo tomarem as ruas – para falar, para se envolverem naquilo que eu chamo de ‘bom transtorno’”.
“A sensação e a visão são tão diferentes”, acrescentou, “é tão mais massivo e inclusivo. Não há mais como retroceder”.
As homenagens continuarão durante a semana, primeiro no Capitólio, em Washington, onde se realizará uma missa na terça-feira, 28, e depois acontecerá o funeral em Atlanta (Geórgia), na quinta-feira, 30.
A família de Lewis pediu aos que gostariam de homenageá-lo que não viajassem de todo o país para isso. Em vez disso, eles sugeriram que as pessoas prestassem tributo virtual on-line usando as hashtags #BelovedCommunity ou #HumanDignity.