Os cortes de R$ 127 milhões anunciados pelo governador de São Paulo, João Doria, na Cultura causarão o cancelamento de exposições e fechamento de instituições e impedirão pelo menos 1,2 milhão de visitas. No domingo, manifestantes tomaram a Paulista contra os cortes.
João Doria anunciou, no fim de março, que irá cortar 23% da verba da Secretaria da Cultura, equivalente a R$ 127 milhões, que financia diversos museus e projetos culturais em todo o estado.
Inicialmente o corte seria de R$ 148 milhões e iria fechar as portas do Projeto Guri, o maior programa sociocultural existente no país e que dá diversos cursos gratuitos de iniciação musical para os jovens estudantes.
Mesmo tendo voltado atrás do fechamento do Projeto Guri, o corte de Dória continua causando graves impactos a pelo menos 23 instituições e projetos culturais, impedindo com que pelo menos 1,2 milhão de visitas ocorram.
O presidente da Associação Brasileira de Organizações Sociais de Cultura (ABRAOSC), Paulo Zuben, afirma que os recursos para a Cultura vêm sendo achatados desde 2010. “A nossa briga é pelo orçamento da pasta que em 2010 representava 0,71% do orçamento [total do governo] e vai passar a representar menos de 0,34%. Ou seja, em nove anos nós tivemos mais de 50% de redução do orçamento para Cultura”, disse.
MANIFESTAÇÕES
Uma manifestação com artistas e entusiastas da cultura saiu do MASP e caminhou até o Museu Afro Brasil, no domingo (7). Para o maestro João Carlos Martins, “A indústria, o comércio e a saúde são o corpo de uma sociedade. Mas a arte é a alma. Pode haver diálogo, conversas, mas corte, nunca”.
Durante a passeata, o maestro Nelson Ayres lembrou que “em todas as áreas, o corte é de cerca de 3%, na Cultura, de 23%. Isso é uma facada nas costas de projetos que são referência no Brasil e no mundo”.
Também no domingo, a Orquestra Jazz Sinfônica fez um minuto de silêncio durante sua apresentação para demonstrar sua indignação.
No sábado (6), antes de sua apresentação, os músicos da Orquestra Jovem do estado levantaram cartazes se manifestando contra o corte promovido por Dória. Na ocasião, o maestro francês Bruno Mantovani, afirmou que “O Estado de São Paulo é uma das regiões mais ricas do mundo e deveria ter orgulho dos programas que aqui existem”.
RESULTADOS
De acordo com as informações dadas pela ABRAOSC, as conseqüências serão desastrosas.
Um dos mais tradicionais museus da capital, a Pinacoteca, terá que demitir um terço de seus funcionários, passará a cobrar ingresso aos sábados e cancelará exposições. Cancelará, também, toda a programação cultural temporária de 2019.
O museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera, deverá cancelar todas as exposições temporárias de 2019 e fechará as portas às sextas-feiras, sábados e domingos.
O museu Catavento terá que demitir parte de seus monitores universitários e paralisou todos os projetos temporários programados para 2019.
O Museu da Imagem e Som (MIS) terá de reduzir a quantidade de municípios com atuação do programa Pontos MIS, atualmente em 120 cidades.
O Museu da Casa Brasileira terá sua operação e corpo funcional atingidos, podendo passar a fechar alguns dias da semana. O Museu do Futebol, no Pacaembu, terá seu funcionamento e número de visitantes afetados. O Museu da Língua Portuguesa terá sua implantação ameaçada. O Sistema Estadual de Museus de São Paulo (SISEM) reduzirá a quantidade de exposições itinerantes.
Na Casa das Rosas, Casa Guilherme de Almeida e Casa Mário de Andrade preveem a não realização de 140 atividades programadas, atingindo mais de 40 mil visitantes.
A Biblioteca de São Paulo e a Biblioteca Parque Villa-Lobos também serão afetadas. O Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de São Paulo (SISEB) deixará de atender 200 municípios e cortará o programa Viagem Literária 76 cidades. O Prêmio São Paulo de Literatura não terá recursos para cerimônias de entrega.
A São Paulo Cia. de Dança atingirá apenas metade do público beneficiado em 2018, que foi de mais de 80 mil pessoas.
O Theatro São Pedro terá que desmobilizar toda a sua Orquestra e cancelará temporadas inteiras de ópera.
A Escola de Música do Estado de São Paulo (EMESP) Tom Jobim corre risco de acabar com o Grupo Artístico de Bolsistas.
O Conservatório de Tatuí terá que demitir 60 professores e deixar sem aula 800 alunos. Além disso, o pólo de São José do Rio Pardo será fechado.
As Oficinas Culturais deixará de realizar 120 atividades. As Fábricas de Cultura deixarão de realizar 250 ateliês, afetando cerca de 5.100 aprendizes.