Na sexta-feira (26), o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, confirmou o corte de 24% do orçamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). De acordo com ambientalistas, a medida é mais uma atitude do governo para fragilizar os órgãos ambientais.
“Deve encolher a fiscalização e aumentar os desmatamentos”, afirmou Paulo Barreto, pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Com o corte, o orçamento do Ibama passará para R$ 279,4 milhões, em vez dos R$ 368,3 milhões que constavam na Lei Orçamentária (LOA). O montante não atende nem as despesas fixas da pasta deste ano, de R$ 285 milhões. Na prática, isso irá refletir na diminuição da capacidade de resposta do órgão.
A fiscalização é uma das áreas que mais consome recursos. No ano passado foram R$ 101,1 milhões. Mas a manutenção das 27 superintendências da autarquia também deve ser afetada, o que tende a refletir nas operações de monitoramento, com a diminuição das horas de treinamento dos funcionários e redução das visitas de campo.
Essa política pode afetar uma das iniciativas mais bem-sucedidas do Ibama em relação à fiscalização, que é o monitoramento via satélite. A tecnologia permite que a autarquia compare imagens de áreas desmatadas e cruze com dados das propriedades privadas. “Isso poderia ser usado, inclusive, para minimizar o problema do corte de recursos”, diz Barreto, do Imazon.
Desmatamento na Amazônia aumentou 24%
Entre agosto de 2018 e março de 2019, foi detectado um aumento de 384 km² de desmatamento na Amazônia Legal em relação ao mesmo período no ano anterior. O número representa um aumento de 24% na destruição das florestas no período atual do calendário do desmatamento.
A informação foi apresentada pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), composto por pesquisadores brasileiros que levantaram as informações com base nos dados do Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD).
No mês de março de 2019, o SAD detectou 67 km² de desmatamento na Amazônia Legal. A maioria (58%) ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. No ranking das dez Unidades de Conservação que mais sofreram com a perda de suas florestas, seis estão localizadas em Rondônia: Florex Rio Preto-Jacundá, Resex Rio Preto Jacundá, Resex Jaci Paraná, PES de Guajará-Mirim, Florsu Periquito, Flona do Jamari.
O PAÍS QUE MAIS DESMATOU NO MUNDO EM 2018
Cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais desapareceram em 2018, o equivalente a 30 campos de futebol por minuto. Só no Brasil, foram desmatados 1,3 milhão de hectares de florestas, sendo o país que mais perdeu árvores no ano passado.
Os dados de 2018 são do Global Forest Watch, atualizado pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. O levantamento mostra o complexo retrato do desmatamento em áreas densas de florestas tropicais da Amazônia, na América do Sul, a África e Indonésia.
A maior preocupação apontada pelo relatório diz respeito à destruição continuada das florestas primárias, como são chamadas as áreas com as árvores mais antigas e que não são fruto de replantio. O Brasil liderou o desmatamento de florestas primárias no mundo em 2018.