Um medicamento anticoagulante está sendo utilizado contra a síndrome de dificuldade respiratória aguda, principal complicação da Covid-19, associada aos óbitos pela doença.
Uma observação clínica feita no Hospital Sírio-Libanês de São Paulo com 27 pessoas constatou que o uso da heparina, remédio indicado para prevenir trombose, reduziu o tempo de internação e de intubação, mostrando-se uma estratégia promissora para os casos graves da enfermidade.
A presidente do Instituto Questão de Ciência, doutora Natália Pasternak, apontou que os anticoagulantes já são utilizados no trabalho das UTIs e, pelo que indica o trabalho no Sírio-Libanês, a heparina teve uma resposta melhor. No entanto, ela adverte que isso está longe de ser considerado uma cura.
Em entrevista no “Papo Com Ciência”, com a doutora Mariana Moura, do grupo Cientistas Engajados, a cientista destacou a necessidade de ter cautela em relação a medicamentos como a heparina.
Natália disse que o medicamento normalmente já é usado no procedimento, em uma fase da doença que ajuda, junto ao respirador.
“Já observado, o que aparenta é que a trombose é um efeito colateral da doença, fazendo com que os anticoagulantes sejam necessários ao tratamento. Mas é importante lembrar que estamos falando de um vírus respiratório, é uma doença que ataca vias respiratórias, os receptores das células que o vírus ataca, são as células pulmonares, células do trato respiratório. Então é uma síndrome respiratória aguda”, disse.
Veja a entrevista:
ESTUDOS
O estudo, publicado online pela revista British Medical Journal (BMJ), soma-se a pesquisas anteriores realizadas em outras partes do mundo que também apontaram os anticoagulantes como um tratamento eficaz para evitar a falência dos pulmões.
No entanto, todas as pesquisas com a substância, porém, são experimentais, e os cientistas alertam que é necessário realizar mais testes com numerosos pacientes, incluindo grupos de controle, para validar a descoberta. Não há comprovação sobre a eficácia e mais estudos com a heparina estão sendo realizados ao redor do mundo, como na França, Itália e Suíça.
Na França, um estudo clínico que envolve 808 pacientes vai avaliar a eficácia e a segurança da anticoagulação em pacientes com infecção pelo novo coronavírus. São pessoas internadas no hospital-escola Cochin, no Europeu Georges Pompidou e no Hospital de Paris, ambos públicos e localizados na capital francesa, e o hospital universitário Louis-Mourier, em Colombes. Segundo o portal ClinicalTrials, o estudo teve início no último dia 20 e seu término está previsto para 30 de setembro.
Em Genebra, na Suíça, 200 pacientes de Covid-19 internados em hospitais universitários na cidade participam de um estudo cujo objetivo é prevenir a trombose associada à doença causada pelo novo coronavírus, bem como avaliar doenças causadas por coágulos sanguíneos e a mortalidade com uso de anticoagulante em baixas e altas doses de heparina. Iniciado no dia 14 deste mês, o estudo deve terminar em 30 de novembro.
ALERTA
O uso do medicamento sem prescrição de um profissional pode matar. O anticoagulante que se vende em farmácias não têm a mesma dosagem que foi utilizada no tratamento da Covid-19 pelos pesquisadores. Ainda, se você está com uma coagulação normal e toma o anticoagulante, pode morrer sangrando. De jeito nenhum é um remédio para automedicação nem para prevenção.