Falta tudo, oxigênio, médicos, leitos de UTI, mas Bolsonaro só pensa em desovar a cloroquina que ele mandou comprar. Ofício do MS tenta impor a ordem absurda. Secretária de Saúde diz que só vai usar “medicamentos cuja eficácia tenha sido comprovada”
A notícia de que o Ministério da Saúde está obrigando a Prefeitura de Manaus (AM) – que enfrenta um colapso em seu sistema de saúde pela aceleração dos casos de Covid-19 – a disponibilizar a cloroquina, uma medicação ineficaz contra o coronavírus, é um sintoma grave da desorganização e irresponsabilidade que está imperando no órgão que deveria estar coordenando o combate à pandemia no Brasil.
Estão faltando profissionais de saúde, oxigênio e não há leitos de UTI suficientes para atender a população da cidade, enquanto o ministro Eduardo Pazuello está preocupado em desovar as milhões de doses de cloroquina que insistentemente Bolsonaro mandou o Exército adquirir.
Um ofício foi enviado à Prefeitura de Manaus obrigando a administração municipal a enviar os comprimidos para os postos de saúde. O ministro avisa ainda que o órgão vai fazer inspeção para ver se a ordem está sendo cumprida. O governo considera ‘inadmissível” não distribuir cloroquina. Já oxigênio, para essa gente, não tem a menor importância. Vacina, então, menos ainda.
O ofício enviado à Prefeitura de Manaus contém “orientações do Ministério da Saúde para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19”. O governo federal sugere um combinado de cloroquina ou hidroxicloroquina com azitromicina para pacientes com sintomas leves, moderados e graves.
O documento é assinado por Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde. A médica tornou-se conhecida em 2013 por ter hostilizado cubanos que participavam de curso do Mais Médicos. Em 2019, Mayra entrou no governo para cuidar do programa, que mudou de nome.
“Aproveitamos a oportunidade para ressaltar a comprovação científica sobre o papel das medicações antivirais orientadas pelo Ministério da Saúde, tornando, dessa forma, inadmissível, diante da gravidade da situação de saúde em Manaus a não adoção da referida orientação”, continua o ofício.
A secretária de Saúde de Manaus, Shadia Fraxe, rebateu a ordem do MS e afirmou, na segunda-feira (11), que somente distribuirá medicamentos cuja eficácia tenha sido comprovada por estudos científicos e que tenham passado por aprovação dos conselhos Regional e Federal de Medicina. “Esses dias têm sido muito difíceis. Nem oxigênio na rede eu estou tendo mais, de tanto que a demanda subiu”, desabafou a secretária.
Veja o ofício do MS dirigido à Secretaria de Saúde de Manaus