Contra o governo e pela vida, um panelaço tomou conta de Quito, Cuenca e as demais principais cidades equatorianas no domingo denunciando o fracasso e a irresponsabilidade do presidente L.Moreno na condução do combate ao coronavírus, e as criminosas medidas econômicas adotadas.
Convocado por movimentos sociais comunitários, de trabalhadores, indígenas e religiosos, o panelaço foi realizado no exato momento em que o ministro da Economia, Richard Martínez, anunciava uma série de violações arbitrárias aos direitos dos trabalhadores em cadeia nacional. Entre as mais abusivas medidas está a retenção de um percentual dos salários sob pretexto de criar um fundo governamental a ser destinado ao enfrentamento à pandemia. Ao mesmo tempo, desde Guayaquil, a oposição alertava para a morte de mais de 1.800 pessoas pelo covid-19 e o completo abandono oficial, que desinforma e subnotifica sobremaneira esses números.
“Lembramos que o Equador é do tamanho da cidade de São Paulo, e o governo mantém o sub-registro das pessoas contaminadas, de pessoas que estão sendo tratadas e de mortos. O governo não faz a menor ideia do que está acontecendo. Quando se fala em ‘alguns mortos’, não! São milhares de mortos, não há praticamente um bairro que não tenha cadáveres nas ruas ou nas casas das pessoas”, explicou o analista político Amaury Chamorro, em entrevista à TV Diálogos do Sul.
Com míseros 6% de aprovação, mais do que inaptidão e negligência, Moreno é acusado de se submeter à política estadunidense com medidas que sangraram recursos da Saúde para favorecer o grande capital. Apesar de argumentar que não há recursos, o governo dilapidou recentemente o erário em US$ 325 milhões com o pagamento de parcelas da dívida externa. Além disso, fez um acordo com a justiça corrupta para impedir que o ex-presidente Rafael Correa possa ser candidato novamente.
Em relação a novas medidas, o governo aguarda o aporte de US$ 500 milhões de grandes empresas, das quais perdoou US$ 987 milhões em multas, e entre US$ 650 e US$ 800 milhões da remuneração de trabalhadores privados e estatais, com a redução inconstitucional e desumana dos salários.
O Centro de Direitos Econômicos e Sociais denunciou que as medidas anunciadas pelo governo não proíbem demissões, não garantem recursos aos desempregados e aos trabalhadores informais, nem financiamento suficiente para deter a crise social e sanitária.
A Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie) destacou que o país se vê diante de um governo ladrão e incapaz. “Este é um novo assalto ao bolso de milhares de trabalhadores e suas famílias, aumentando a instabilidade no emprego e o não pagamento de salários”, condenou a Conaie, frisando que “o saque de fundos do Estado é outra pandemia”.
A pandemia encontrou o país sem um centavo nas contas e com uma dívida histórica de US$ 65 milhões de dólares, enquanto despenca o preço do petróleo, as exportações e o recebimento de impostos. Somando-se a isso, acabaram de se romper dois oleodutos que transportavam o petróleo equatoriano.
Frente ao caos, as entidades que convocaram o panelaço anunciaram que este foi só o começo de uma série de ações para, respeitando a quarentena, dizer um basta ao criminoso desgoverno.
O próprio Banco Central do Equador aponta que o país sofrerá neste ano sua crise de maior impacto econômico desde 1967, com uma regressão de 6%, projeção similar à queda indicada pelo Banco Mundial. Os números do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgados nesta terça-feira são ainda piores: – 6,3%, percentual muito acima da queda de – 5,2% estimada para a América Latina e o Caribe, ou os – 3% para o mundo.