Presidente argentino teve participação ativa no escândalo da chamada ‘capitalização’ no valor de US$ 4,5 bilhões da $Libra, evaporada em pouco tempo, quando a cotação da criptomoeda passou de US$ 5,54 para apenas US$ 0,96
A Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso argentino apontou existirem fartas evidências de que Javier Milei prestou “colaboração essencial” no assalto da criptomoeda $Libra, realizado em fevereiro. A ação trouxe um prejuízo bilionário a pessoas que foram induzidas pelo chefe de governo a entrar com elevadas somas de dinheiro. Diante da sua participação ativa no escândalo – que enriqueceu meia dúzia de chegados ao presidente -, avaliam os parlamentares, ele deve responder pelo crime e ser levado ao impeachment.
“Devido à alta gravidade institucional e ao abuso de poder da Presidência da República, a CPI indica que Javier Milei e Karina Milei [sua irmã] têm responsabilidade política pela série de eventos relacionados à criptomoeda”, afirmou em seu relatório final, na última terça-feira (18), a Comissão Libra Anexo 1 da Câmara de Deputados, agora sob a responsabilidade do procurador do caso, Eduardo Taiano.
Diante da gravidade dos fatos, os parlamentares decidiram apresentar uma denúncia criminal contra os funcionários do Poder Executivo Nacional que se recusaram sistematicamente a cooperar com a investigação, obstruindo o exercício dos poderes constitucionais, o que também se configura abuso de poder.
O fato é que, Javier Milei foi a primeira pessoa a compartilhar o número do contrato de forma pública em rede social de algo que não era público, e segue sem explicar como obteve tal informação, o que torna evidente o vínculo prévio e direto com os criadores da criptomoeda.
“Este projeto privado será dedicado a incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenos negócios e empreendimentos argentinos. O mundo quer investir na Argentina. $Libra”, alardeou o presidente. Turbinada pelo aval e pela propaganda ostensiva do chefe de governo, a cotação da criptomoeda valorizou rapidamente, passando de US$ 0,25 para US$ 5,54 em poucos minutos. Segundos antes da postagem, o ativo não registrava nenhuma movimentação.
Em sua defesa, Milei disse que divulgou a criptomoeda, mas que não a promoveu. “Sou um otimista tecnológico fanático e quero que a Argentina se torne um polo de tecnologia”, declarou ao ser flagrado. “Se você vai ao cassino e perde dinheiro, qual é a reclamação se você sabe que o cassino tem essas características? Aqueles que participaram o fizeram voluntariamente. É um problema entre particulares, porque o Estado não tem nenhum papel aqui”, disse, tentando enrolar.
16 ENCONTROS COM OS GOLPISTAS ENVOLVIDOS
A promoção do vexaminoso “projeto $Libra” não foi um incidente isolado, pois uma manobra financeira do mesmo naipe, ligada à criptomoeda KIP Protocol, aconteceu em dezembro de 2024, na qual Milei esteve envolvido. As alegações do ultradireitista de que desconhecia os detalhes do projeto e que simplesmente divulgou informações públicas carecem de qualquer fundamento. Afinal, qual a razão que justifique os dezesseis encontros realizados com os golpistas envolvidos, documentados nos registros de entrada das residências presidenciais Casa Rosada e Olivos?
Conforme investigou o jornal “La Nación”- com a ajuda do engenheiro de dados especializado em criptomoedas, Fernando Molina – o que fez soar o alerta é que as primeiras compras da $Libra foram de valores altíssimos: uma única compra de mais de US$ 3,5 milhões e outras quatro compras idênticas de US$ 250 mil cada.
O que evidencia a fraude é que menos de uma hora após o post de Milei, o movimento de investidores era tão grande que a $Libra alcançou uma capitalização de US$ 4,5 bilhões. Foi então que os primeiros grandes investidores da criptomoeda passaram a se desfazer de enormes quantidades de $Libra, obtendo lucros fantásticos. Poucas horas se passaram e foram feitas duas grandes vendas e a criptmoeda colapsou, com os detentores das maiores quantidades do ativo enchendo seus cofres. Com a chamada “Rug Pull” (puxada de tapete”, a cotação da criptomoeda passou dos US$ 5,54 para apenas US$ 0,96.
Para Molina, essas transações evidenciam a ação de robôs, que ativam a compra. Assim, foram programados para comprar grandes quantidades de $Libra assim que o presidente propagandeasse seu aval ao “investimento”. Mas para que os robôs realizassem essas compras, assinala, os responsáveis por sua programação precisariam do acesso a uma informação privilegiada. E quem a teria: o “libertário” Javier Milei.











