Walter Delgatti está preso preventivamente desde quarta-feira (2) por invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), a pedido da deputada Carla Zambelli (PL-SP)
A CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), do Congresso Nacional, que investiga os atos antidemocráticos de 8 de janeiro aprovou, nesta quinta-feira (3), a convocação de Walter Delgatti Neto, o “hacker da Vaza Jato”, para depor.
Foram apresentados quatro requerimentos (pedidos) para ouvir Delgatti no colegiado após operação da PF (Polícia Federal).
Delgatti está preso, preventivamente, desde quarta-feira (2), quando a PF deflagrou operação que investiga a invasão dos sistemas do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e a inserção de documentos e alvarás de soltura falsos no BNMP (Banco Nacional de Mandados de Prisão).
Segundo Delgatti, em depoimento à PF, ele teria invadido o sistema do CNJ a pedido da deputada Carla Zambelli (PL-SP) para tentar criar embaraços com a Justiça para o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
ANDERSON TORRES
Na reunião desta quinta-feira, a CPI também marcou para a próxima terça-feira (8) o depoimento de Anderson Torres, ministro da Justiça no governo de Jair Bolsonaro, e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.
No dia dos ataques às sedes dos Três Poderes, Torres estava nos Estados Unidos, onde Bolsonaro também foi se acoitar após a derrota nas urnas. Torres entraria de férias no dia 9, mas se ausentou do cargo na véspera dos ataques do dia 8 de janeiro, deixando a Secretaria de Segurança Pública acéfala, sem plano para combater os golpistas, apesar dele ter sido avisado dos ataques com antecedência.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, demitiu Torres no mesmo dia dos ataques enquanto ele estava nos EUA
A pedido da da Polícia Federal, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a prisão do então secretário.
Dias depois, quando retornou ao Brasil, Torres foi preso no aeroporto de Brasília. Atualmente, ele está solto, mas cumpre medidas protetivas, como uso de tornozeleira eletrônica. Ao todo, Anderson Torres ficou preso por cerca de 4 meses.
GUERRA DE VERSÕES
Segundo Zambelli, que também foi alvo da operação, Delgatti se encontrou com o então presidente, Jair Bolsonaro (PL), em 2022. “Ele [Delgatti] se ofereceu para participar de uma espécie de auditoria no primeiro e segundo turnos das eleições”.
“Ele encontrou Bolsonaro, que perguntou se as urnas eram confiáveis. Nunca mais houve contato entre eles”, acrescentou Zambelli, na versão dela. E em clara tentativa de livrar o ex-presidente de qualquer comprometimento. Isso ficou evidente na coletiva que a deputada bolsonarista concedeu à imprensa nesta quarta-feira (2).
A versão de Delgatti é outra. Segundo o “hacker da Vaza Jato”, Bolsonaro, na verdade, teria perguntado se ele conseguiria invadir uma urna eletrônica. E por aí se desenvolveu a conversa com o então chefe do Executivo e o hacker, que inclusive estava prestando serviços para a deputada.
DELGATTI LIGA BOLSONARO À INTENTONA GOLPISTA
O deputado Rogério Correia (PT), que pediu a convocação de Delgatti, declarou que “Zambelli trouxe o hacker para o interior do golpe com aval de Bolsonaro”.
A mesma tese foi defendida pela relatora da CPI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA): “A oitiva do Walter Delgatti Netto, conhecido como ‘hacker de Araraquara’, poderá auxiliar esta comissão a esclarecer como a deputada Carla Zambelli atuou de modo a questionar a legitimidade do sistema eleitoral brasileiro nas eleições de 2022. O depoimento nos parece fundamental para a investigação dos fatos desta Comissão de Inquérito.”
QUEM É WALTER DELGATTI NETO
Trata-se, pois, do hacker que invadiu celulares de quase 200 autoridades, segundo a PF, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos).
Em entrevista à CNN, ele também afirmou ter invadido a conta do Telegram do ministro Alexandre de Moraes.
“Eu estava empolgado com tudo e fiquei cego. Eu comecei a enxergar somente isso. Eu sonhava com isso, acordava pensando nisso, ia para aula com o Telegram conectado ali nas conversas”, destacou.
Ele também pontuou que não tinha, num primeiro momento, foco na Operação Lava Jato. “Se eu tivesse foco a Lava Jato, teria conseguido antes. A Lava Jato é o último lugar em que imaginei que encontraria irregularidades”.
Entretanto, em junho de 2019, o site The Intercept Brasil divulgou mensagens do então juiz Sergio Moro e procuradores da Lava Jato que foram vazadas pelo hacker. Segundo o hacker, ele não recebeu pelas informações divulgadas.
Nessas, as mensagens sugeririam que Moro e o procurador Deltan Dallagnol combinavam operações. Um mês depois, em julho de 2019, Delgatti foi preso na operação Spoofing, que investigava o caso.
Em outubro de 2020, o hacker foi para o regime semiaberto, com uso de tornozeleira eletrônica. Ele chegou a ser preso novamente em junho deste ano por descumprir medida da Justiça que o proibia de acessar a internet, mas, depois, foi posto novamente em liberdade.