Sabe o que Bolsonaro fará quando atingirmos 1,5 mil mortos em um só dia em 2021? Vai preparar o terreno para chegarmos a duas mil.
A frase é do início do ano.
Pouco mais de três meses depois, podemos atualizá-la.
Sabe o que Bolsonaro fará quando atingirmos quatro mil mortos em um só dia em 2021? Vai preparar o terreno para chegarmos a cinco mil.
Ao longo de mais de um ano da mais grave crise sanitária que atingiu o país, não faltaram advertências ao caminho negacionista adotado desde seu início pelo presidente, todas, invariavelmente, ignoradas ou confrontadas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) foi contestada por sua excelência.
As experiências bem-sucedidas de outros países no confronto com o vírus foram inteiramente desprezadas.
Nem mesmo as pregações do Papa ecoaram por aqui.
Os governadores e prefeitos, premidos pelos limites do cofre e do sistema de saúde, foram vergonhosamente afrontados.
O isolamento social, denunciado como conspiração à economia em “V” de Guedes.
A vacina, criminalizada.
A cloroquina, glorificada.
Para sustentar sua seita obscurantista, Bolsonaro contou como principal aliado a sabotagem crônica e permanente do ministro da Economia às medidas e ações de apoio emergencial aos trabalhadores e às empresas duramente atingidas pela pandemia.
“Não adianta chorar o leite derramado”, chegou a afirmar o sacripanta no mesmo dia que o país bateu novo recorde de óbitos pela Covid-19, em mais um sinal grosseiro de desrespeito aos mortos e às suas famílias.
Alguém perguntará: isso tem limites?
No caso de Bolsonaro, não!
Então, o que fazer?
Como bem nos ensinaram nossos pais, avós e mestres, em tudo há limites.
Nas coisas mais simples da vida há limites, que dirá nas mais complexas, como é o caso da atual situação do país.
Como não estabelecer limites às ações ou omissões governamentais quando, por um largo período, a vida, rigorosamente, de todos os brasileiros, encontra-se ameaçada?
Não faltam instrumentos para isso, muito menos ordenamento jurídico para interromper tamanha insanidade.
“É preciso parar esse cara”, já havia alertado, como muita lucidez, o senador Tasso Jereissatti (PSDB-CE) ao defender a CPI assim que o requerimento para sua instalação foi apresentado.
Um primeiro passo, importantíssimo, acaba de ser dado pelo ministro Luís Roberto Barroso, do STF, ao determinar ao presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, a imediata instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar responsabilidades e sugerir soluções na condução da pandemia.
Diante da gravidade da situação, a CPI conta, há semanas, com o apoio regimental de senadores em número mais do que suficiente para ser instalada.
Pacheco já declarou que cumprirá a decisão judicial, não sem antes reiterar seu receio de que a CPI seja transformada num palanque político-eleitoral.
Bolsonaro, como era previsto, chiou.
“Agora, não está na hora de em vez de ficar procurando responsáveis, unir, Supremo, Legislativo, Executivo, para busca de soluções?”, disse o que deveria ter proposto desde o início da crise e não agora quando estamos em marcha batida para atingir a marca tenebrosa de 400 mil mortos, sendo indispensável um freio de arrumação.
O capitão cloroquina falou, ainda, em intromissão do judiciário no legislativo, ignorando que omissões, excessos em competências ou atropelos à lei maior podem ser corrigidos pela Suprema Corte.
O fato é que a CPI tornou-se uma resposta a um palanque que está sendo muito mais nocivo e perverso aos brasileiros e ao país: o da negação da pandemia e o da charlatanice da cloroquina, sustentado por Bolsonaro e sua horda histérica.
Que venha a CPI, então, para tomar e apontar todas as medidas, inclusive as “amargas” e, até, “letais”, se necessárias, nas palavras do presidente da Câmara, Arthur Lira, na defesa da vida dos brasileiros, nunca antes tão ameaçada e sem a qual não há economia, muito menos nação.
MAC