Segundo dados apresentados pelos membros da CPI, o RIF (Relatório de Inteligência Financeira) do Coaf indica que a empresa movimentou, “de modo suspeito”, R$ 117 milhões apenas nos últimos dois anos
A CPI da Covid-19 do Senado aprovou, nesta quarta-feira (1º), a convocação da funcionária do setor financeiro da VTCLog, Zenaide Sá Reis. Também foi aprovado requerimento de quebra de sigilo telefônico, fiscal, bancário e telemático além da apreensão, pela justiça, do aparelho celular de Ivanildo Gonçalves da Silva, o motoboy da VTCLog, que depôs à CPI, nesta quarta-feira.
De acordo com o depoimento de Ivanildo Silva, era a própria Zenaide quem solicitava os saques e depósitos que o motoboy fazia em nome da VTCLog. Ainda de acordo com ele, as sobras dos saques direcionados ao pagamento de boletos eram devolvidas à funcionária do financeiro.
Autor dos três requerimentos, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), alertou Ivanildo para que ele não faça qualquer alteração no aparelho celular e não permita que terceiros a façam.
“ALERTA” A IVANILDO
“Eu estou lhe fazendo um alerta: nós estamos pedindo à Justiça a busca e apreensão do seu telefone. Então, se alguma modificação acontecer nesse telefone, se alguém pedir para pegar seu telefone para apagar mensagens, para apagar localização, a consequência acontece contra você”, avisou o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).
“Então, tenha esse cuidado e esse discernimento, para evitar que você tenha alguma responsabilização e que um cara honesto acabe sendo processado sem necessidade por estar involuntariamente defendendo gente que não é honesta”, acrescentou.
PEDIDO À CAIXA
A comissão aprovou, ainda, dois requerimentos do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Um desses solicita à Caixa Econômica Federal o envio de todos registros das câmeras que possui na unidade do aeroporto de Brasília, entre o período de 1º de janeiro de 2018 a 1º de setembro de 2021.
De acordo com dados obtidos pela comissão, cerca de R$ 4,5 milhões foram sacados por Ivanildo Silva para a VTCLog, a maioria em espécie e na boca do caixa da agência da Caixa Econômica do aeroporto.
O segundo requerimento de Randolfe determina que as empresas de telecomunicações (Oi, Vivo, Tim, Claro, dentre outras) enviem à CPI o histórico de localizações do telefone do motoboy.
COAF
Outro requerimento aprovado, também de autoria do senador Alessandro Vieira, pede ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) informações sobre se as operações realizadas pela empresa VTC Operadora Logística foram devidamente comunicadas ao órgão.
Segundo dados apresentados pelos membros da CPI, RIF (Relatório de Inteligência Financeira) do Coaf indica que a empresa movimentou, “de modo suspeito”, R$ 117 milhões apenas nos últimos dois anos.
LOBISTA DA PRECISA
Houve mudança na agenda de quinta-feira (2) da CPI. Em vez de Francisco Araújo Filho, ex-secretário de Saúde do Distrito Federal, o colegiado deve tomar o depoimento de Marconny Nunes Ribeiro Albernaz de Faria, apontado como lobista da Precisa Medicamentos, empresa que atuou como intermediária no contrato da vacina indiana Covaxin e que está sob investigação. A reunião está agendada para começar às 9h30.
A CPI obteve mensagens trocadas entre Marconny o ex-secretário da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) José Ricardo Santana. Na conversa, Santana menciona que conheceu o suposto lobista da Precisa na casa da advogada do presidente da República, Jair Bolsonaro, Karina Kufa, que deve ser ouvida nas próximas reuniões da CPI.
DIRETORA-EXECUTIVA DA VTCLOG
Caso Marconny Faria não compareça, pois deu notícia que está hospitalizado, a CPI pode ouvir, nesta quinta-feira, a diretora-executiva da VTCLog, Andreia Lima. O anúncio foi feito pelo presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), na reunião desta quarta-feira (1º).
Segundo integrantes do colegiado, a empresa de logística é suspeita de ter feito pagamentos ao ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. A VCTLog é contratada pela pasta para receber, armazenar e distribuir as vacinas contra o coronavírus.
De acordo com Omar Aziz, Andreia Lima vai ser ouvida caso o lobista Marconny Faria não compareça para depor nesta quinta-feira. O presidente da CPI informou que a Polícia Legislativa não conseguiu intimar Faria para prestar depoimento. O senador determinou à Advocacia do Senado que busque na Justiça mandado para assegurar a presença do lobista “sob vara”.
“UM SENADOR” PARA “DESATAR O NÓ”
Senadores apontaram que Santana e Marconny teriam conversado sobre processo de contratação de 12 milhões de testes de Covid-19 entre o Ministério da Saúde e a Precisa. Uma das mensagens trocadas aponta que “um senador” poderia ajudar a “desatar o nó” do processo.
Autor do requerimento aprovado em 19 de agosto, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) aponta que essas e outras mensagens reforçam a existência de mercado interno no Ministério da Saúde que busca facilitar compras públicas e beneficiar empresas, assim como o poder de influência da empresa Precisa antes da negociação da vacina indiana Covaxin.
De acordo com o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), Marconny tem se recusado a responder à CPI, que deve “trazê-lo [à CPI] sob vara”, por meio de ação judicial.
A condução “sob vara” historicamente indicava a ação de oficiais de justiça, por ordem de juiz, que poderiam buscar os réus e testemunhas recalcitrantes e levá-los à presença do juízo “cutucando-os com essas varas” pelo caminho para mostrar a todos que ali estava um mau elemento ou sujeito, renitente, arredio. E que ele, oficial de justiça, envergando aquela vara, personifica a própria autoridade do juiz.
Hoje, “sob vara” é apenas a metáfora ou jargão utilizado pela Justiça para que réus ou testemunhas sejam conduzidos ao juízo, no caso, à CPI para prestar depoimento.
M. V.