
“Ele fala em corrupção, lobby, pressão, pareceres falsos. Se havia dúvida, juridicamente falando, agora não tem mais. Temos responsabilidade a apurar”, acrescentou o governador do Maranhão, em entrevista ao Valor Econômico
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), defendeu na quinta-feira (25), em entrevista à Maria Cristina Fernandes, colunista do Valor Econômico, que o Congresso deve abrir uma CPI para investigar a atuação do governo federal na pandemia. “A CPI deve ser instalada. Uma vez que tem número de assinaturas necessárias. Não se trata de uma escolha do presidente do Senado. Ele é obrigado a instalar”, disse o governador.
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“Ela [a CPI] se fortaleceu extremamente com as declarações do ex-ministro Pazuello, que revelou fatos gravíssimos. Ele fala em corrupção, lobby, pressão, pareceres falsos. Se havia dúvida, juridicamente falando, agora não tem mais. Temos responsabilidade a apurar. É falsa a ideia de que isso atrapalha. O que atrapalha é colocar embaixo do tapete fatos gravíssimos que acontecem todos os dias”, acrescentou.
Sobre a fala do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, com críticas ao governo Bolsonaro, Flávio Dino disse que “o mandato presidencial entrou em sinal amarelo. É o presidente da Câmara quem tem legitimidade constitucional para admitir os pedidos de impeachment que lá tramitam, quase todos lastreados na clareza do Artigo 85 da Constituição e na Lei 1079 de 1950”.
“Bolsonaro é uma espécie de “serial killer” no cometimento de crimes de responsabilidade. É, praticamente, um por dia. Essa declaração vai na direção de conferir uma maior plausibilidade política aquilo que, juridicamente, é inequívoco. E espero que isso funcione como um mecanismo de contenção. É preciso colocá-lo numa camisa de força institucional”, defendeu.
Sobre as possíveis resistências ao impeachment de Bolsonaro por conta de um governo com o vice, Hamilton Mourão, Flávio Dino disse que, com o vice, a situação seria menos desastrosa. “Não tenho nenhuma dúvida de que o vice-presidente teria melhores condições de liderar o país neste momento. Não que eu concorde com seu ideário, sua visão política, mas ele teria a capacidade de dialogar em termos razoáveis”, argumentou.
“Sou testemunha disso. Justamente porque tem a capacidade de ouvir, elaborar, refletir e muito mais capacidade cognitiva e devoção ao trabalho. Ele teria pelo menos uma agenda de trabalho, de reuniões, para ouvir as pessoas. Seria uma mudança profunda. Jamais votaria no vice para ser presidente, mas comparando com Bolsonaro seria quase a distinção entre civilização e barbárie”, acrescentou.
Flávio Dino considerou positiva a criação de um comitê gestor das ações contra a pandemia. “Foi um passo importante na medida em que aparentemente haverá um maior protagonismo dos presidentes do Senado e da Câmara, que podem atuar na moderação das políticas equivocadas lideradas por Bolsonaro”, disse. “Bolsonaro não acredita no combate à pandemia. O que pode funcionar é essa articulação com presidente do Senado, Câmara, Supremo. Tudo o que aconteceu de positivo foi ou pela ação dos governadores, ou por determinações do Supremo ou por leis votadas no Congresso. Então este é o caminho que permitiu alguma espécie de redução de danos”, prosseguiu Dino.
Ele falou também das vacinas Sputnick V compradas pelos governadores. “São 37 milhões de doses de vacina Sputnik que foram compradas por Estados do Nordeste e da Amazônia. Os contratos estão assinados e estamos aguardando o fim dessa longuíssima transição entre o ministro que saiu e o que entrou. Se o novo ministro entender por alguma razão que não deve manter o compromisso do ministro Pazuello, nós vamos assumir e aí, neste caso, efetuar os pagamentos”, explicou.
Questionado se ele apoia a compra de vacinas pelas empresas privadas, ele respondeu que “a colaboração é bem-vinda para o Plano Nacional de Imunização. Ultrapassada a fase dos grupos prioritários, de maior risco, acredito que vamos conseguir até junho, acho que pode ter essa abertura. Não agora, mas posteriormente ela é bem-vinda”.
O governador do Maranhão disse ainda que não há nenhuma relação com o Itamaraty. “Não há nenhum empenho das embaixadas para que haja apoio ao clamor das populações nos Estados. E isso me espanta. Quando no ano passado houve aquela necessidade de comprar respiradores, luvas, máscaras, nunca recebi nenhuma oferta de ajuda do setor comercial de nenhuma embaixada. Ernesto Araújo é um ideólogo dessa doutrina do Brasil como pária internacional. Orgulho de se isolar do mundo porque seria um caminho redentor. Espero que seja demitido, e já vai muito tarde”, denunciou.