A Comissão também aprovou a quebra de sigilo do hacker Walter Delgatti
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Golpe aprovou, nesta quinta-feira (24), a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e telemático da deputada Carla Zambelli (PL-SP) e de Walter Delgatti Neto, hacker contratado por ela para sabotar as urnas eletrônicas e o Judiciário.
Zambelli, que é muito próxima ao ex-presidente Jair Bolsonaro, entrou em contato com Walter Delgatti Neto para que ele fizesse parte da trama golpista com mentiras contra as urnas eletrônicas.
A quebra dos sigilos busca provas de que Zambelli pagou R$ 40 mil para que Walter Delgatti Neto invadisse o sistema da Justiça e inserisse documentos falsos, como um que pedia a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O caso foi relatado pelo próprio Delgatti em depoimento na CPMI.
Walter Delgatti contou que foi ele próprio quem inseriu o mandado de prisão contra Moraes no sistema da Justiça. “A deputada [Zambelli] me enviou um texto pronto, eu corrigi alguns erros e contextualizei, e publiquei a decisão. Ela me enviou, quem fez eu não sei”.
No requerimento, a relatora Eliziane Gama afirma que o pagamento, por parte de Zambelli, para que alguém invadisse “sistemas informáticos da República é fato extremamente grave e que viola os princípios democráticos, especialmente em se considerando o cargo ocupado por Carla Zambelli”.
O irmão de Carla, deputado Bruno Zambelli (PL-SP), também teve seus sigilos telefônico e telemático quebrados.
De acordo com o relato de Delgatti, Bruno Zambelli estava presente quando Jair Bolsonaro fez uma proposta, através de uma ligação, para que o hacker assumisse a responsabilidade por um grampo ilegal que teria sido instalado em Alexandre de Moraes.
O marido da deputada, coronel Antonio Aginaldo de Oliveira, e o motorista, Renan Cesar Silva Goulart, tiveram seus sigilos quebrados para que sejam apurados pagamentos que eles fizeram para Delgatti em troca dos serviços prestados.
Delgatti, conhecido por ser o hacker da “Vaza Jato”, prestou depoimento na CPMI no dia 17 de agosto. Walter contou que Carla Zambelli articulou conversas entre ele e o então presidente Jair Bolsonaro, na qual o mandatário fez perguntas e propostas antidemocráticas.
Um dos “planos” que foi sugerido por assessores de Bolsonaro era que Delgatti criasse um código-fonte falso para inserir em uma urna eletrônica. No dia 7 de setembro, uma peça publicitária seria lançada mostrando o número de Bolsonaro sendo digitado na urna, mas aparecendo a foto de Lula.
“Eles queriam que eu fizesse um código-fonte meu, não o oficial do TSE. E nesse código-fonte, eu inserisse essas linhas, que eles chamam de ‘código malicioso’, porque tem como finalidade enganar, colocar dúvidas na eleição”, disse Walter.
MAURO CID
Os membros da CPMI também aprovaram a reconvocação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, para um depoimento.
Ele já esteve na Comissão em julho, quando optou por ficar em silêncio.
Desde então, na avaliação da relatora Eliziane Gama, novos fatos que ligam o ex-ajudante de ordens aos atos antidemocráticos surgiram em investigações.
Cid foi flagrado pela Polícia Federal mantendo conversas sobre planos golpistas e tinha salvo em seu celular “estudos jurídicos” para manter Bolsonaro no poder através de um golpe.
Nas últimas semanas, no entanto, seu maior problema tem sido com o esquema de venda ilegal de joias que Bolsonaro desviou quando era presidente.
Mauro Cid, cumprindo ordens de Jair Bolsonaro, articulou com outros assessores e com seu pai, o general Mauro Lourena Cid, a venda das joias em lojas especializadas nos Estados Unidos. O dinheiro depois foi entregue para Bolsonaro.
Cid também organizou a “operação resgate” das joias quando o Tribunal de Contas da União (TCU) determinou que elas deveriam ser integradas ao acervo público da Presidência da República.