A CPMI das Fake News, comissão parlamentar mista de inquérito que investiga o compartilhamento em massa de notícias falsas e os disparos ilegais durante a campanha eleitoral de 2018, identificou uma lista com as linhas telefônicas de WhatsApp responsáveis pelo maior número de disparos pró-Bolsonaro na eleição presidencial.
O levantamento foi feito a partir de documentos encaminhados à CPMI pela própria empresa.
Segundo matéria do portal UOL, dentre as 400 mil contas que representantes do aplicativo afirmam que foram banidas por uso irregular durante a eleição, 55 mil tinham comportamento anormal, podendo ser operadas por robôs. O documento analisado pela comissão aponta que 24 delas respondem pela maior parte das mensagens disparadas em massa.
Os integrantes da CPMI já sabem que as linhas telefônicas associadas a estes perfis possuem números dos Estados Unidos, Vietnã, Inglaterra e Brasil. Porém, todas foram operadas a partir de IPs localizados no Brasil.
Das 24 linhas telefônicas de maior atividade suspeita, seis são do Brasil e 18 do exterior. Uma análise feita pelo UOL aponta que, dentre as contas estrangeiras, duas não tinham informações de localização. Nas demais, os IPs vinculados ao seu uso apontam endereços físicos dentro do Brasil – um deles em Manaus e os demais em São Paulo.
Pelo menos três dos 24 números ainda possuem contas ativas no serviço de mensagens.
Apesar dos indícios de que várias campanhas políticas utilizaram serviços de disparo em massa de WhatsApp para grupos e eleitores, uma enxurrada de denúncias indica que a estratégia de disseminação de fake news foi fundamental para a vitória de Bolsonaro.
Entre as de maior repercussão, estão as apresentadas pela deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), que chegou a ser líder do governo no Congresso, durante seu depoimento à CPMI das Fake News no final do ano passado.
Além de dissecar a arquitetura de funcionamento do processo de produção e divulgação das notícias falsas, a deputada acusou os irmãos Carlos e Eduardo Bolsonaro de serem “os cabeças, os mentores” do esquema de compartilhamento de fake news que segue em atividade – o chamado “gabinete do ódio”, que opera nas redes sociais atuando contra pessoas consideradas inimigas da família do presidente da República.
“Escolhe-se um alvo. Combina-se um ataque e há inclusive um calendário de quem ataca e quando. E, quando esse alvo está escolhido, entram as pessoas e os robôs. Por isso que, em questão de minutos, a gente tem uma informação espalhada para o Brasil inteiro”, afirmou.
Segundo Hasselmann, o “gabinete do ódio” é formado por Filipe Martins, Tercio Arnaud, José Matheus e Mateus Diniz, que recebem dinheiro público para produzir fake news e memes contra ex-aliados e adversários políticos. Ela afirmou que os bolsonaristas utilizam ao menos R$ 491 mil por ano para espalhar fake News na internet.
As informações apresentadas pela deputada, que rompeu com Jair Bolsonaro em meio a uma crise entre o presidente e o PSL, foram, por sinal, classificadas como um “caso concreto” e “uma denúncia sólida, inclusive com perícia” pela relatora da comissão parlamentar, deputada Lídice da Mata (PSB-BA).
Com as informações analisadas até agora, os parlamentares da CPMI esperam chegar aos responsáveis pelas contas e endereços de IP fornecidos pelo WhatsApp, para intimá-los a depor e revelar o que sabem do esquema.
Lídice da Mata revelou, por exemplo, que a equipe técnica da comissão já foi acionada para apurar a denúncia publicada pelo UOL antes mesmo do retorno das atividades parlamentares. A deputada adiantou que a Polícia Federal deve colaborar com esse trabalho.
“Temos um delegado da Polícia Federal e um agente da Polícia Federal à disposição da CPI. E nós vamos ter que tratar desse assunto nesta semana logo. Então, estamos verificando quais providências podem ser tomadas antes de a CPI voltar a funcionar”, afirmou.