Ele teria comprado, com supostos recursos próprios, para devolver ao TCU, relógio Rolex presenteado a Bolsonaro avaliado em mais de R$ 300 mil, mesmo estando endividado
Cada vez mais, os integrantes do micro entorno de ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) são pegos envolvidos nas patranhas do ex-chefe do Executivo.
Dessa vez, os integrantes da CPI Mista do Golpe, no Congresso Nacional, querem ouvir o advogado de Bolsonaro, Frederick Wassef, sobre a recompra do relógio Rolex avaliado em mais de R$ 300 mil, mesmo ele estando endividado.
De acordo com os parlamentares do colegiado, a movimentação financeira de Wassef pode ajudar a esclarecer o que chamam de “projeto de golpe de Estado”, que envolveria o esquema das joias sob investigação.
A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS) afirmou que a CPI já pretendia chamar Wassef por causa do envolvimento dele no esquema suspeito de desvio e venda ilegal de presentes recebidos por Jair Bolsonaro enquanto ocupava a Presidência.
Agora, na avaliação da senadora, a decisão sobre a convocação tende a ser acelerada. “Isso [informação de que Wassef acumula dívidas] nos dá uma pista e reforça a necessidade de ouvi-lo, nos traz mais indícios de que, sim, pode haver algo”, disse a senadora.
WASSEF NA MIRA DA CPI
Atualmente, há seis requerimentos que pedem a convocação de Wassef como testemunha na CPI do Golpe, além de 3 pedidos de quebra de sigilo – todos na esteira da Operação Lucas 2:12, da PF (Polícia Federal), sobre a venda de joias e presentes no exterior por aliados de Bolsonaro.
“Estamos analisando que muito dinheiro que transitou nesses últimos meses, principalmente após o segundo turno, foi para financiar o golpe de Estado”, afirmou Soraya.
Para o deputado Rogério Correia (PT-MG), a reportagem do Estadão reforça a necessidade de o presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), colocar em votação os requerimentos.
VIAGEM AOS EUA
Em março deste ano, depois de o Estadão revelar que o governo Bolsonaro tentou trazer, de forma ilegal, joias recebidas do governo saudita, Wassef viajou para Miami, nos Estados Unidos, para recuperar relógio Rolex doado para o ex-presidente e vendido pelo general Mauro César Lourena Cid, pai de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-chefe do Executivo.
Para reaver o item, Wassef teria pago o equivalente a R$ 346.983,60, com o objetivo de entregar o relógio ao TCU (Tribunal de Contas da União), que havia determinado a devolução dos presentes.
TENTANDO ENGANAR
“Eu comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos. Eu tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. Eu tenho conta aberta nos Estados Unidos em um banco em Miami e usei o meu dinheiro para pagar o relógio”, disse o advogado.
“Então, o meu objetivo quando eu comprei esse relógio era exatamente devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República”, afirmou o advogado, após ser alvo da Operação Lucas 2:12. Wassef ainda ironizou que “o governo do Brasil” lhe “deve R$ 300 mil” e disse que o resgate do relógio não se deu a pedido de Bolsonaro.
Na semana passada, a PF intimou Wassef, Bolsonaro e outras 6 pessoas a prestarem depoimento sobre o caso das joias na próxima quinta-feira (31).
VIDA DE APARÊNCIAS
Aparentando vida milionária, Wassef acumula dívidas em diferentes esferas, desde contas de condomínio não pagas a multas de IPTU para prefeituras. As complicações financeiras dele foram listadas em reportagem do Estadão.
Apesar de ter desembolsado cerca de R$ 347 mil para recomprar o Rolex, o advogado não conseguiu, dentre outras dívidas, pagar R$ 3.516,35 de IPTU para a Prefeitura do município de Atibaia.
Na declaração de patrimônio ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), para disputar as eleições de 2022 a deputado federal, Wassef disse ter R$ 18 milhões. O valor inclui apartamento de 3 quartos também em Miami, com valor estimado em quase R$ 5 milhões. O boleto do ano passado com as taxas locais do imóvel, no valor de US$ 12.847,59 — ou R$ 62.621,72 — ainda não foi pago.
Além do imóvel, Wassef declarou ter 3 carros: veículo Silverado de 1995, estimado em R$ 24 mil, caminhonete Ranger de R$ 112 mil e Jetta, também avaliado em R$ 112 mil, mas declarado pelo advogado ter custado R$ 125 mil. Este último está com o IPVA de 2022 e 2023 em atraso, totalizando o valor de R$ 6,7 mil.
Outro bem trazido pelo Estadão é uma casa comprada por Wassef em março do ano passado, por R$ 3,7 milhões, no Setor de Mansões Dom Bosco, bairro nobre de Brasília. O local, porém, se tornou canteiro de obras parado.
MAIS DÍVIDAS E HERANÇA
Além disso, o Condomínio Fazenda Vila Nazareth, no município de Tuiuti (SP), cobra na Justiça R$ 46 mil de Wassef por despesas de manutenção do local. Em outro processo, a Prefeitura de Atibaia cobra R$ 3.516,35 em dívidas de IPTU de casa de Wassef que fica próxima a outro imóvel do advogado.
Segundo, ainda, ao Estadão, a maioria dos imóveis de Wassef foi herdado dos pais.
Levantamento em cartórios no Estado de São Paulo mostra que, entre os imóveis declarados pelo advogado, quatro desses foram doados pelos pais, Josephina Beyruti Wassef e Fayez Wassef.
O imóvel mais recente comprado pelo advogado foi o apartamento em que mora de 189 metros quadrados, no Morumbi, por R$ 1.610.200, em agosto.
M. V.