
No mês de abril, do total 7,1 milhões eram micro e pequenas empresas, segundo Serasa
O número de empresas inadimplentes no Brasil atingiu em abril 7,5 milhões de companhias, o maior número já registrado desde o início da série histórica do Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian. Em abril deste ano, esse total representava 32,5% das empresas ativas no país. Em abril do ano passado, eram 6,9 milhões de inadimplentes.
Já o valor das dívidas das empresas somadas alcançou R$ 177 bilhões em abril deste ano, o maior nível da série histórica. Em média, cada CNPJ possuía cerca de 7,3 contas negativadas no mês, com ticket médio de R$ 3.227,80.
Das 7,5 milhões de empresas inadimplentes observadas no mês, 7,1 milhões eram micro e pequenas empresas, responsáveis pelo volume de 49,5 milhões de dívidas negativadas que somaram R$ 152,4 bilhões. Em nota, a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalack, atrela o avanço da inadimplência das MPMEs aos juros altos.
“O avanço contínuo da inadimplência desde dezembro de 2024 reforça os desafios enfrentados pelas empresas, especialmente as de menor porte, que ainda sentem os reflexos de um cenário de crédito restrito e juros elevados. Esses fatores reduzem a capacidade de renegociação das dívidas e aumentam o risco de acúmulo de inadimplência”, avalia a economista.
Conforme dados do Banco Central (BC), a inadimplência relacionada as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) cresceu de 4,6% em maio de 2024 para 5,1% em maio deste ano.
Ocorre que mesmo em um quadro de juros altos, o crédito segue sendo a opção mais viável para pequenos empreendedores garantirem as portas abertas. Segundo números do BC, as MPMEs somaram R$ 1,179 bilhão em empréstimos, o que corresponde a um aumento de 11,6% em 12 meses.
Com o custo do crédito em alta no Brasil, devido uma série de aumentos na taxa básica de juros (Selic) pelo BC, a taxa de juros das concessões de crédito livre no mercado, em média, ficou em 45,4% ao ano (a.a.) em maio, sendo uma alta de 5,4 p.p. em doze meses. Entre setembro de 2024 e junho de 2025, o nível da Selic subiu de 10,5% para 15% a.a.
No capital de giro total, a taxa média cobrada pelos bancos subiu de 20% a.a para 23,6% a.a, entre maio do ano passado e o mesmo período deste ano. A modalidade de crédito refere-se aos recursos financeiros necessários para manter as operações de uma empresa em funcionamento, cobrindo despesas de curto prazo, como pagamento de fornecedores, salários etc. Trata-se, portanto, de um dos principais instrumentos para a sobrevivência dos pequenos negócios.
Na operação de antecipação de recebíveis – modalidade usada para recomposição do capital de giro – a taxa média de juros cobradas pelos bancos subiu de 16,7% a.a, em maio de 2024, para 19,3% a.a, em maio deste ano.
No quinto mês de 2024, a demanda por crédito teve um salto de 16,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. Esse aumento foi puxado pelas micro e pequenas empresas (crescimento de 16,7%), seguidas pelas médias (alta de 6,9%) e grandes companhias (aumento de 2,9%).
“Mesmo com juros em patamar elevado, o crédito segue sendo uma ferramenta crucial para os micro e pequenos negócios, que muitas vezes recorrem a essa alternativa para se manter funcionando e honrar compromissos financeiros”, destaca Abdelmalack.
Pedidos de falências voltaram a crescer
Em dificuldades financeiras, ao todo no país, cerca de 61 empresas entraram com pedidos de falência na Justiça, o maior número de 2025 até o momento, aponta também a Serasa Experian. Esse resultado representa um aumento de 1,7% na comparação com março.
O maior número dos pedidos de falência partiu de micro e pequenas empresas (37), seguidas pelas médias (14) e grandes (10).
Já o número de pedidos de recuperação judicial foi de 167 em abril, sendo 20 pedidos a menos do que março deste ano. Camila Abdelmalack destaca que as micro e pequenas empresas somaram 132 pedidos – o equivalente a quase 80% das solicitações em abril.
“O número de pedidos de recuperação judicial reforça o cenário de pressão sobre os negócios, especialmente entre pequenos empreendedores. Com acesso limitado a crédito, muitos acabam recorrendo a financiamentos caros, de curto prazo, que consomem parcela significativa da receita e comprometem a capacidade operacional da empresa. Quando uma organização direciona grande parte de seu caixa para dívidas mal estruturadas, perde a capacidade de reagir diante de condições econômicas adversas. É justamente nesse contexto que a recuperação judicial surge como um último recurso”, argumenta a economista.