São 8,3 milhões de trabalhadores a mais no atual governo com os salários achatados em meio ao desemprego elevado e a disparada nos preços dos alimentos, combustíveis, aluguel, gás de cozinha, água e energia elétrica
A precarização do trabalho no governo Bolsonaro levou 36,415 milhões de trabalhadores formais e informais a viverem com até um salário mínimo no Brasil, segundo um levantamento feito pelo economista Lucas Assis, da Tendências Consultoria. Um aumento de 30,09% no fim do governo Temer para 38,22% no primeiro trimestre deste ano, o que significa 8,3 milhões de brasileiros a mais com salários achatados em meio ao desemprego elevado e carestia.
O estudo, divulgado nesta segunda-feira (6) pelo O Globo, tem como base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do IBGE.
Os dados revelam o avanço do arrocho sobre os salários, da “flexibilização” dos direitos trabalhistas e da ascensão da informalidade do trabalho na vida dos brasileiros.
De acordo com a sondagem, entre os que têm carteira assinada, o total de pessoas que ganham até o piso passou de 14,06% em 2018 para 22,48% no primeiro trimestre deste ano.
Entre os informais, em que a remuneração mensal não chega sequer ao valor do salário mínimo, hoje em R$ 1.212, o total de pessoas que ganham até o piso saltou de 53,46% para 61,73%, no período analisado.
De acordo com o IBGE, no primeiro trimestre deste ano, 38,7 milhões de brasileiros estavam no trabalho informal – pessoas que vivem de “bicos” – vendem água, doces, entre outros produtos, em ruas, estações de metrô, rodoviárias e/ou vivem de atividades de serviços de trabalho precário, sem direitos trabalhistas, segurança ou qualquer amparo legal.
Entre o primeiro trimestre de 2016 e o mesmo período de 2022, o Brasil registrou um saldo de criação de 4,6 milhões de postos de trabalho (considerando admissões e demissões), sendo 76% no mercado informal, segundo o levantamento da Tendências Consultoria.
O economista Lucas Assis alerta que a geração de postos nestes últimos anos ocorreu majoritariamente pelo achatamento salarial. Foram criadas, no período, 7 milhões de vagas com rendimento de até um salário mínimo. Em contrapartida, foram destruídos 2,4 milhões de postos de trabalho com rendimento superior a esse patamar.
“Na pandemia, a gente observou que todo o cenário econômico e sanitário contribuiu para a queda de massa de renda, especialmente na população de menor escolaridade. Desde o fim de 2020, houve recuperação do contingente de ocupados, mas a renda média permaneceu bastante fragilizada e permanece abaixo do que havia antes da pandemia”, diz Assis.
Em janeiro de 2015, a renda média do trabalhador era de R$ 2.764, em valores corrigidos pela inflação. Hoje, o rendimento médio real de todos os trabalhos, habitualmente recebido por mês, está em R$ 2.569, segundo dados da Pnad.
“Com o mercado ocioso, em crise, o poder de barganha do trabalhador diminui. E tem casos de pessoas que aceitam trabalhos com qualificação menor, o que vale para o formal. Tem exemplos mais extremos, como o cara que faz doutorado e trabalha como Uber, mas também tem o trabalhador CLT que foi demitido e volta para outra empresa ganhando menos”, pontua Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.
Com a alta generalizada dos preços, em abril, o trabalhador comprometeu, em média, 61% do salário mínimo para adquirir os produtos da cesta básica, segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). A cesta mais cara – valores médios – foi encontrada a R$ 803,99 em São Paulo, seguida por R$ 788,00 em Florianópolis, R$ 780,86 em Porto Alegre, e Rio de Janeiro R$ 768,42.
Além da comida, o salário fica comprometido com aluguel, água, luz e o gás de cozinha, que os preços dispararam nos últimos três anos, corroendo o já minguado orçamento das famílias brasileiras.
Com toda essa tragédia, pelo terceiro ano seguido, o governo de Jair Bolsonaro reajustou o valor do salário mínimo sem aumento real.