Famílias mais pobres ou simplesmente sem renda de trabalho representam 52% dos lares brasileiros
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério da Economia, registra um aumento do número de famílias sem qualquer renda oriunda do trabalho.
As famílias mais pobres, exatamente as mais carentes, representam mais da metade (52%) dos lares brasileiros, segundo levantamento do Ipea divulgado na quarta-feira (18).
O estudo foi feito pelos pesquisadores Maria Andreia Lameiras, Carlos Henrique Corseuil, Lauro Ramos e Sandro Carvalho, a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
É a política neoliberal – que já vinha sendo aplicada no país e exacerbada por Guedes/Bolsonaro -, que levou a nossa economia ao fundo do poço, cobrando o seu preço.
Conforme o Ipea, o segundo trimestre deste ano fechou com 22,4% dos domicílios do país sem renda do trabalho. Um percentual bem acima do segundo trimestre de 2014 (19,0%), início da recessão.
De acordo com instituto, houve elevação acentuada do índice de Gini – medida de desigualdade de renda – desde 2016, especialmente na desigualdade da renda do trabalho por domicílio.
“Esse aumento do Gini se deve à retomada da ampliação da desigualdade entre os extremos da renda. De forma mais concreta, enquanto no primeiro trimestre de 2019 a renda domiciliar do trabalho da faixa de renda alta era 30,1 vezes maior que a da faixa de renda muito baixa, no segundo trimestre a renda domiciliar da faixa mais alta era 30,5 vezes maior, praticamente igualando o pico da série histórica (30,6) atingido no terceiro trimestre de 2018”, destaca o Ipea.
O estudo demonstra que a grande maioria das novas vagas com carteira assinada possui remuneração baixa: “Deve-se ressaltar, entretanto, que, em termos de salário mínimo (SM), a grande maioria das novas vagas geradas no país possui uma remuneração máxima de até 2,0 SMs”.
Para o Ipea, a geração de emprego tem ocorrido somente nas duas primeiras faixas salariais: os empregos com remuneração de até um salário mínimo e de um a dois salários mínimos.
“Para os demais níveis salariais, a dispensa de trabalhadores é maior que o total de admissões”.
Os efeitos da crise econômica sobre o mercado de trabalho geraram também uma queda dos salários de contratação, em particular entre 2016 e 2107, uma vez que a única faixa de emprego com saldo positivo é a que remunerava até 1,0 salário mínimo. “A partir de 2017, o país voltou a gerar vagas com salários entre 1,01 e 2,0 SMs, no entanto em proporções mais modestas”, frisa o estudo.
“Os rendimentos reais médios apresentaram uma queda de 0,2% no segundo trimestre de 2019 em comparação com o mesmo trimestre de 2018, e uma queda de 1,3% em relação ao trimestre anterior (primeiro trimestre de 2019)”.
“Ainda de acordo com os dados da Pnad Contínua, no trimestre móvel encerrado em julho de 2019, o rendimento médio real habitualmente recebido registrou queda de 1,9% na comparação com o trimestre encerrado em fevereiro de 2019, maior valor registrado na pesquisa, tendo atingido R$ 2.286”, conclui o Ipea.
VALDO ALBUQUERQUE