Com as fortes manifestações de apoio ao padre Julio Lancellotti, a perseguição ao líder religioso com a tentativa de instalação de uma CPI na Câmara dos Vereadores de São Paulo, começa a perder força.
Nesta semana quatro vereadores retiraram a assinatura de apoio à instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito, denunciando o requerimento como uma “manobra política” do vereador Rubinho Nunes (União Brasil). Os vereadores Thammy Miranda (PL), Xexéu Tripoli (PSDB), Sidney Cruz (Solidariedade) e Sandra Tadeu (União Brasil) se disseram “enganados” por Nunes e informaram a retirada da assinatura. “Em nenhum momento o nome do Padre Júlio Lancellotti foi mencionado, direta ou indiretamente, nesse apoiamento à CPI. O que existe é político fazendo politicagem e vocês estão caindo no papo deles”, declarou Miranda.
O vice-presidente da Câmara, o vereador João Jorge (PSDB), também se manifestou. Em declaração à Folha de SP, disse que caso o vereador Nunes insista em vincular a CPI protocolada em dezembro ao padre Júlio Lancellotti, recorrerá ao presidente da Câmara, Milton Leite (União Brasil), para impedir a instalação. O parlamentar disse que é contra qualquer afronta a instituições religiosas. Segundo José Jorge, ao assinar o pedido de CPI das ONGs que atuam na região central de São Paulo não foi informado de qualquer vinculação ao padre Júlio Lancellotti. Nas redes sociais e em entrevistas, Rubinho Nunes coloca o padre como principal alvo.
MANIFESTAÇÕES DE APOIO
As manifestações de apoio ao padre seguem crescentes. Nesta quinta-feira (4) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) postou em rede social que “Graças a Deus a gente tem figuras como o @pejulio, na capital de São Paulo, que há muitos e muitos anos dedica a sua vida para tentar dar um pouco de dignidade, respeito e cidadania as pessoas em situação de rua”. “Que dedica sua vida a seguir o exemplo de Jesus. Seu trabalho e da Diocese de São Paulo são essenciais para dar algum amparo a quem mais precisa”, escreveu Lula.
Também nesta quinta, o Partido Comunista do Brasil (PcdoB), condenou a tentativa de perseguição ao religioso, que atua em ações sociais de ajuda à população de rua. “É desumano o que está acontecendo na Câmara Municipal de São Paulo. Uma CPI inaceitável que mira na atuação do @padrejulio.lancellotti e organizações que se dedicam a ajudar a população em situação de rua”, escreveu a organização em sua página no Instagram.
Para o PCdoB, “os vereadores da nossa cidade deveriam estar preocupados com a fome e o abandono do nosso povo e não em criminalizar quem faz o bem”. “Não aceitaremos essa perseguição absurda! Toda força e solidariedade ao Padre Júlio!”, reiterou.
A central Força Sindical também lançou uma nota nesta quarta, assinada pelo seu presidente, Miguel Torres, denunciando “a perseguição política e essa forma de intimidação que visam calar e inibir quem trabalha e dedica suas vidas em prol de pessoas que vivem de pobreza e abandono. “Reiteramos nosso apoio ao Padre Júlio Lancelotti que ajuda a construir uma sociedade mais justa”, reforçou a entidade, que informou que através dos sindicatos filiados contribui com o trabalho do pároco, doando roupas e alimentos.
Outra iniciativa de apoio ao padre Julio partiu da Avaaz, organização da sociedade civil que desenvolve campanhas para mobilização social global através da Internet. A entidade lançou em sua página uma moção de apoio ao religioso e em repúdio à ação persecutória a ele, cuja meta é obter 30 mil assinaturas. Até a meia noite de ontem 22.450 pessoas já haviam subscrito o manifesto. “Essa Moção visa apoiar o Padre Júlio Lancelllotti que vem sofrendo ataques por simplesmente dar água a quem tem sede e pão a quem tem fome na cidade de São Paulo”, justifica a Avaaz.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, também disse que é contrário à criação de uma “CPI das ONGs” que mira entidades que prestam apoio humanitário a pessoas em situação de rua e a dependentes químicos da região da Cracolândia. “Discordar em determinado tema é uma coisa. Mas, criar uma CPI que vai, inevitavelmente, trazer uma tensão adicional para um tema tão delicado, e que envolve pessoas vulneráveis que vivem na cidade de São Paulo, decididamente não é o melhor caminho”, afirmou Kassab, que também é Secretário de Governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos).