“A revisão das cadeias produtivas em todo o mundo pode ser o momento para o Brasil investir na sua reindustrialização e fortalecer a economia nacional perante o mundo”, defende o professor do CEBRI
Em entrevista à revista Problemas Brasileiros, o professor Ronaldo Carmona, professor da Escola Superior de Guerra (ESG) e senior fellow do Núcleo de Defesa e Segurança Internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), afirmou que está havendo um processo de desglobalização marcado pelo declínio relativo dos Estados Unidos e pela ascensão chinesa.
“A vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, em 2016, foi um passo importante para a desglobalização”, disse Carmona. “Trump e seu programa America First (Estados Unidos em primeiro lugar) constituíram uma política antiglobalista”, cita o especialista, que também destaca o Brexit, na Europa.
Segundo Carmona, a desglobalização ocorre no mesmo momento que Estados Unidos e China disputam o protagonismo na chamada Quarta Revolução Industrial, que engloba a ascensão de novas tecnologias, como a internet 5G, nos mais diversos ambientes de negócios espalhados pelo mundo. “Isso tudo começa a provocar uma nova ordem econômica e geopolítica, marcada pelo declínio relativo dos Estados Unidos e pela ascensão chinesa.”
“No Brasil”, prossegue o professor, “os efeitos imediatos da desglobalização são sentidos em diversos setores da economia. Um deles é a possível escassez de insumos para o agronegócio, em virtude da guerra na Ucrânia, como os fertilizantes, prejudicando um dos carros-chefes do Produto Interno Bruto (PIB) nacional”. “Já no caso do petróleo, somos exportadores de petróleo cru e importadores de derivados de combustíveis, o que pode provocar um efeito inflacionário e prejudicar a estabilidade econômica nacional”, acrescenta Carmona.
Em sua opinião, “apesar dos desafios impostos pela ordem econômica, a desglobalização, por outro lado, pode trazer oportunidades ao País. Uma delas refere-se à diversificação da economia, com a valorização de setores como a indústria”. Ele avalia que “a revisão das cadeias produtivas em todo o mundo pode ser o momento para o Brasil investir na sua reindustrialização e fortalecer a economia nacional perante o mundo”.