Símbolo da industrialização do país e do Estado de São Paulo, o grupo de cidades que forma o ABC paulista corre o risco de virar uma Detroit brasileira.
A referência é à cidade norte-americana no condado de Wayne, que após ter sido por décadas o carro chefe do setor automobilístico dos EUA e uma das cidades mais desenvolvidas do país, entrou em falência e se tornou uma cidade fantasma.
Segundo estudo da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), divulgada em reportagem do jornal Valor Econômico desta terça-feira (26) o PIB (Produto Interno Bruto) da região passou de R$ 28,9 bilhões em 2013 para R$ 24,3 bilhões em 2016 – uma queda de 16%. Em termos reais, ou seja, depois de descontada a inflação, a retração foi de 38,8%. O estudo ainda não avançou até o ano passado, mas mostra que foi no período recessivo mais intenso (de 2014 a 2016) que a região sofreu um dos seus piores momentos da história.
O ABC paulista é formado por sete cidades, entre elas São Bernardo, São Caetano e Santo André, onde indústrias – especialmente do setor automobilístico – se instalaram por conta das facilidades, como o ponto de passagem entre São Paulo e a região portuária. Especialistas afirmam que existe uma contribuição grande da falta de incentivo fiscal e da especulação imobiliária na migração de várias indústrias do ABC para outras partes do Estado e do país. Contudo, é o reflexo da atual “crise de demanda” na visão de Luis Paulo Bresciani, professor da USCS e consultor do Dieese, que mais contribuiu para esse processo de desindustrialização da região.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que entre 2013 e 2017 a região do ABC perdeu 12,5% do seu estoque de empregos com carteira assinada. Enquanto, em 2012, a taxa média de desemprego era de 10,3%, em 2017 passou para 17,7% – um dos maiores níveis de desocupação dos últimos 14 anos de acordo com o Seade.
Ford fecha fábrica
Crise de demanda e a dependência das multinacionais do setor automobilístico têm causado grande apreensão na região. A Ford anunciou o fechamento do seu parque em São Bernardo em novembro, quando termina o período de estabilidade dos 2,8 mil funcionários. Com as taxas gerais de desemprego no país nas alturas, a iminência da demissão de quase 3 mil pessoas – além do fechamento permanente da fábrica – tem se tornado um pesadelo para a população e os governantes da região.
PRISCILA CASALE