A ex-presidente e atual senadora da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner (CFK), compareceu na segunda-feira (13) ao tribunal Comodoro Py, em Buenos Aires, após intimada a depor em um processo que investiga a existência de uma rede de propinas de empresários a funcionários que atuaram nos governos dos Kirchner.
“Há dois anos, venho pedindo que se faça uma auditoria de toda a obra pública realizada entre 2003 e 2015. Em todas as instâncias judiciais meu pedido foi negado”, ressaltou CFK, observando que, se houvesse a intenção de conhecer o que aconteceu nesse período, não se desperdiçaria o conhecimento detalhado e oficial dos fatos. Além de apresentar um documento de defesa às acusações, a senadora pediu a nulidade do processo e denunciou o juiz e o promotor.
A audiência foi liderada pelo juiz Claudio Bonadio que também foi o responsável por suspender a imunidade parlamentar de Cristina Kirchner no caso do suposto pacto secreto com o Irã, quando ela foi indevidamente acusada de acobertar iranianos envolvidos no atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia).
A suposta rede de propinas veio à tona após uma reportagem do jornal argentino “La Nación”, divulgando que o motorista Oscar Centeno, do Ministério do Planejamento, detalhou o trajeto do dinheiro lavado em oito cadernos escolares. A imprensa batizou o caso como “Cadernos da Corrupção”. Os cadernos são manuscritos e deles só restaram fotocópias. “É verdade que as fotocópias dos cadernos são um indicio. Mas resulta estranho que não tenham conseguido achar os originais, sendo que os acusadores dizem que detêm o material há meses. Seria de grande importância encontrar os cadernos para avaliá-los. O chofer diz que os queimou, mas não há por que acreditar nele”, publicou o jornal Página 12 em artigo assinado por Irina Hauser e Raúl Kollmann.
No documento, CFK afirmou que se trata do quarto expediente em que é acusada como chefe de associação ilícita enquanto que “em todas as instâncias judiciais” lhe foi negado o pedido de realizar “uma auditoria de toda a obra pública realizada entre 2003 e 2015”. Nesse sentido, a ex-presidente denunciou esquemas de corrupção e lembrou o da família do presidente Mauricio Macri como protagonista desse grupo de empresários, assinalando que “torna-se ridículo” apontar o ex-presidente Néstor Kirchner como organizador do “sistema de cartelização da obra pública a partir de 25 de maio de 2003, em um país cujo presidente é Mauricio Macri”.
“O uso de sociedades offshore já é marca registrada da família Macri. À Fleg Trading nas Bahamas e à Kagemusha no Panamá, onde Macri está entre os diretores, somaram-se sete empresas panamenhas vinculadas ao clã: duas figuram em nome do seu pai, Franco, e outras cinco em nome de seu irmão, Gianfranco. O Registro Público do Panamá permite a existência das empresas controladas pelo grupo familiar, enquanto a empresa nas Bahamas foi divulgada por meio dos documentos difundidos nos ‘papers’ panamenhos”, denunciou o HP no artigo ‘Investigações revelam rede ilegal de Macri nos paraísos fiscais’ (http://www.horadopovo.com.br/2016/09Set/3478-23-09-2016/P6/pag6h.htm).