O debate entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, transmitido pela TV Globo na noite desta quinta-feira (3), foi marcado por um clima mais ameno que nos últimos, críticas ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) e embate entre Guilherme Boulos e Pablo Marçal. Também participaram do debate Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB).
Após uma corrida eleitoral marcada por cadeirada, violência física e muitos xingamentos, os candidatos à Prefeitura de São Paulo fugiram do ‘tudo ou nada’ e adotaram um tom mais ameno e mais propositivo no último debate antes do primeiro turno.
No início do programa, Marçal foi escanteado pelos candidatos, sendo o último a ser escolhido para responder a perguntas.
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO
Tabata Amaral criticou a queda nos índices de educação na cidade, a fila de exames da saúde e o aumento do número de moradores de rua e de crimes como estupro e feminicídio para perguntar ao prefeito por que a cidade tem “resultados tão medíocres”.
Nunes se defendeu dizendo que a deputada do PSB não votou a favor do aumento de penas para criminosos na Câmara dos Deputados. O prefeito destacou algumas bandeiras da gestão, como o Smart Sampa, com 15 mil câmeras de segurança nas ruas, citou parcerias com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), e disse que fortaleceu a saúde financeira da cidade. “Não adianta vir aqui criticar, criticar”, disse Nunes.
Tabata, contudo, manteve a carga contra o emedebista: “Ele não responde e diz que a cidade é a oitava maravilha”. Em seguida, disparou: “Este prefeito é pequeno demais”.
Nunes ainda mentiu ao ser questionado por Tabata Amaral sobre a queda drástica de São Paulo nos índices de desempenho da Educação.“Questão do Ideb se você pegar nos anos finais a média entre todas as cidades do Brasil foi de 4,6. A cidade de São Paulo ficou com 4.8. Por exemplo, nós estamos muito melhores do que a cidade administrada pelo PSB, ou a cidade administrada pelo PSOL”, disse.
Porém, a nota do Ideb das escolas públicas do país nos anos finais do ensino fundamental é 4,7. A de São Paulo é realmente 4,8, como disse Nunes, porém o município tem a mesma nota que o Recife, capital sob gestão do PSB. Já para Belém, administrada pelo PSOL, a diferença é de apenas 0,1: a cidade tem nota 4,7 no Ideb para os anos finais do ensino fundamental entre as escolas geridas pela administração municipal.
O governo de Nunes também foi tema de dobradinha entre Tabata e Boulos. O candidato do PSOL questionou a adversária sobre os erros de Nunes na Saúde municipal. A deputada chamou a gestão de ‘medíocre e inoperante’ e destacou a demora da população na realização de exames. O atual prefeito, por sua vez, chegou a dizer que sofre críticas injustas.
PRIVATIZAÇÃO DOS CEMITÉRIOS
A privatização dos cemitérios em São Paulo foi citada pelos candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Datena (PSDB) no debate para confrontar o prefeito e candidato à reeleição Ricardo Nunes (MDB).
Com o tema de concessões, Boulos questionou a falta de transparência nos contratos da gestão do emedebista, mencionando R$ 5 bilhões em obras sem licitação e sob suspeita de corrupção e a piora no serviço funerário da cidade que após a concessão o preço aumentou mais de 10x.
Em março, a concessão promovida pela atual gestão municipal completou um ano, com diversas denúncias de prática de preços abusivos, destacou Boulos.
Segundo o Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), com a privatização, “os preços mais baixos para sepultar um ente querido vão de R$ 3.250 a R$ 4.613,25 (valores de janeiro de 2024), dependendo de qual concessionária oferece o serviço. Até 07 de março de 2023, antes da privatização do Serviço Funerário Municipal de São Paulo, era possível pagar R$ 289,35”.
O atual prefeito defendeu a concessão dos cemitérios, destacou a concessão dos terminais de ônibus e questionou Boulos sobre a acusação de rachadinha envolvendo o deputado André Janones na Câmara dos Deputados.
Boulos rebateu, dizendo que rachadinha é crime e que já esclareceu a questão, além de afirmar que Nunes não responde às perguntas. O deputado contra-atacou, questionando o prefeito sobre uma reportagem que mencionava que um funcionário da prefeitura seria parente de Marcola, um dos líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
BOULOS E MARÇAL
Apesar do início moderado, nos primeiros blocos, o clima esquentou depois com trocas de acusações, especialmente entre Guilherme Boulos (PSOL) e Pablo Marçal (PRTB).
Boulos questionou Marçal sobre a escolha de secretariado, mas antes alfinetou a postura do ex-coach. “Eu tô achando muito esquisito o perfil que o Marçal adotou hoje”, disse o candidato do PSOL.
“Ele tumultuou as eleições todas e quer pagar de bonzinho. É o lobo na pele de cordeiro. O Marçal acusar alguém de extremista é igual a Suzane von Richthofen acusar alguém de assassinato. É impressionante”, afirmou, ainda, Boulos.
No final do terceiro bloco, Boulos cutucou Marçal perguntando porque ele “odeia as mulheres” ao relembrar que o bolsonarista já afirmou que “mulheres têm o cérebro menor que o de um homem”.
Boulos aproveitou que Marçal subiu o Tom e ironizou. “Agora o lobo está aparecendo na pele de cordeiro. Ele se juntou ao time do Doria com ele. […] Outra coisa que queria te perguntar. Ficou claro seu desprezo pelas mulheres. Eu vi um vídeo seu dizendo que as mulheres têm o crânio menor que o dos homens […] Porque você odeia tanto as mulheres?”, devolveu.
Marçal então levantou o tom contra o candidato do PSOL. “Isso é um papinho de esquerdopata maluco. Sou casado com uma mulher. Quem não gosta de mulher é alguém aqui que tem BO por agressão de violência doméstica. Quer colocar na minha conta? […] Não caia nessas falácias de Guilherme Boulos. Ele já foi preso”, disse o empresário.
Marçal e Boulos voltaram a se atacar diretamente no quarto bloco. O candidato do PRTB perguntou, em caso de invasão de território, qual seria o posicionamento de Boulos, se ficaria ao lado do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ou da Guarda Civil Metropolitana (GCM).
“Eu tenho o maior orgulho de ter integrado o MST. Deu casa para mais de 15 mil famílias. Eu não fiz esquema enganado as pessoas como você fez na África. A gente garantiu casa”, disse Boulos.
Boulos lembrou que Marçal, ao longo da campanha, tentou associá-lo ao uso de droga. “Tentou fazer isso no debate passado usando minha passagem na adolescência de depressão e tentando associar isso ao uso de droga”, comentou Boulos. “É um lobo em pele de cordeiro. Mas, para encerrar de uma vez por todas, eu sou pai de duas filhas. Fiz o exame toxicológico, vai subir agora na minha rede social. Faça o seu, faça o psicotécnico também”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em suas considerações finais, Boulos ressaltou sua aliança com Marta e Lula, afirmando que a cidade “está enfrentando um risco” representada por Nunes e Marçal, ambos “apoiados pelo Bolsonaro”, de acordo com o psolista. Ele ainda convocou sua militância para se mobilizar nos últimos dias de
Tabata, ao encerrar sua fala, ressaltou seu trabalho no Congresso e afirmou que “não está na vida pública a passeio”. Reforçou sua origem como ex-moradora da periferia e fez um apelo para que os participantes “não desistam” e acreditem que “dá tempo” de levá-la ao segundo turno.
Datena publicou suas décadas na televisão para dizer que observa “os mesmos problemas se repetirem” na cidade há muitos anos. “São problemas que eu combati a vida inteira, porque as promessas são sempre as mesmas”, disse o jornalista, que, de forma discreta, publicou o número do PSDB, 45, finalizando com: “você vota em mim se você quiser”.
Nunes começou respondendo a Marçal, chamando-o de “malvado e ruim” por mencionar o boletim de ocorrência da esposa quando ele não tinha direito de réplica. O prefeito explicou que é casado há 27 anos e que estava “um tempo separado da minha esposa” na ocasião, há 14 anos. Nunes concluiu destacando os feitos de sua gestão, como a tarifa zero no transporte público aos domingos e a faixa azul para motocicletas.
Por sua vez, Marçal afirmou que Nunes não consegue administrar a cidade por não ser um gestor e comentou sobre Tabata, mencionando o gesso em sua mão direita. Ao se dirigir aos eleitores, pediu que observassem sua mão esquerda, onde “tem um traço, tem um M de mudança”, associando a previsão de 28 graus no domingo a um suposto sinal do resultado da eleição.