
Jair Bolsonaro entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, por terem falado, durante a campanha, sobre os crimes que ele cometeu. Acionou precisamente o STF que é atacado dia e noite por Bolsonaro e pelos bolsonaristas.
Na ação, Bolsonaro reclama por ter sido chamado de “genocida, miliciano, assassino, demônio e canibal” em propagandas eleitorais e comícios.
Os bolsonaristas têm falado que o STF age como um órgão de censura por não permitir que mentiras sobre as eleições e as urnas eletrônicas prosperem. Mesmo assim, choram quando Lula e Gleisi apontam os crimes que os bolsonaristas cometeram em quatro anos de governo.
Jair Bolsonaro passou a ser chamado de genocida durante a pandemia, quando boicotou pessoalmente as medidas de proteção da população. Ele criticou o distanciamento social, falou que as máscaras são inúteis e fez propaganda contra a vacinação. Defendeu que as pessoas se contaminassem alegando que assim ganhariam imunidade diante da Covid-19. Escondeu que, para alguns ganharem essa imunidade, muitos iriam morrer.
A CPI da Pandemia provou que o governo federal agiu de forma pensada no boicote à quarentena e quando negou as ofertas por vacinas em 2020. Bolsonaro ignorava os técnicos do Ministério da Saúde para ouvir seus aliados, organizados em um “gabinete paralelo”.
Em um debate, Lula apontou que Bolsonaro carrega “nas costas 400 mil mortes que poderiam ter sido evitadas”.
Bolsonaro também reclamou de ter sido chamado de “miliciano”, mas ele próprio já elogiou a ação desses criminosos na Câmara dos Deputados. Em 2003, falou que os milicianos são “bem-vindos” e “terão todo o meu apoio”.
“Enquanto o Estado não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio”, discursou o então deputado.
Jair Bolsonaro também era próximo do miliciano Adriano da Nóbrega, que foi acusado de envolvimento no assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco.
Flávio Bolsonaro, filho de Jair, empregou em seu gabinete na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) a ex-esposa e a filha de Adriano da Nóbrega. O total recebido pelas duas superou R$ 1 milhão, rachado, claro, com Flávio.
Flávio homenageou o miliciano Ronald Paulo Alves, membro do “Escritório do Crime”, com uma Moção de Louvor e Congratulações. Ronald já foi preso em uma operação que investigava as milícias no Rio de Janeiro.
O caso do canibalismo, do qual Jair Bolsonaro também reclamou ao STF, foi muito comentado durante o segundo turno das eleições. Em um vídeo de 2016, o então deputado contou que foi convidado para um ritual de canibalismo em uma comunidade e que aceitaria, caso sua equipe o acompanhasse.
“Eu vou te falar o que é que é comer um índio […] Tive em Surucucu (RO) certa vez […] morreu um índio e eles estão cozinhando. Eles cozinham o índio, é a cultura deles […]. Cozinha por dois, três dias e come com banana”, diz Bolsonaro na gravação.
“E daí eu queria ver o índio sendo cozinhado. Daí o cara falou ‘se for, tem que comer’. Eu falei, ‘eu como!’ Como a comitiva não quis ir, porque tinha que comer o índio, não queriam me levar sozinho lá, aí não fui. Eu comeria o índio sem problema nenhum, é a cultura deles, e eu me submeti àquilo”, completou.
A ação de Jair Bolsonaro contra Lula e Gleisi Hoffmann foi encaminhada pelo Ministério da Justiça ao STF. O documento é assinado pelo delegado Márcio Nunes de Oliveira, da Polícia Federal.
O ministro Kassio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro para o STF, é o relator da ação.