“Nossas relações com a Rússia são de respeito mútuo e amizade”, enfatizou o líder cubano
“Cuba condena e rejeita a expansão da OTAN para as fronteiras com a Rússia”, bem como “todas as medidas e sanções que foram aplicadas como método de coerção contra a Federação Russa”, afirmou o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez, em entrevista à agência de notícias Russia Today (RT).
“Os Estados Unidos constróem constantemente muros, aplicam sanções coercitivas, chantagens, agressões, calúnias”, acrescentou Canel, assinalando que “economicamente, essa política hegemonista se manifesta na pretensão de um controle total da economia mundial pelo Governo dos Estados Unidos e por parte de organizações como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. E tudo isto cria uma enorme incerteza sobre a forma como poderão ser resolvidos os problemas que assolam o mundo”.
“Predomina uma ordem econômica internacional totalmente injusta e antidemocrática”, constatou, apontando que existem alternativas que estão se fortalecendo para superar essa ordem unipolar.
BRICS SE AFASTA DO DÓLAR
O recém-criado sistema BRICS mostra “uma importante alternativa de integração econômico-comercial, especialmente para os países de economia emergente, os países mais pobres, os países do chamado Terceiro Mundo, os países do Sul”, apontou.
Díaz-Canel destacou que os países que integram os BRICS, “defendem, acima de tudo, a multipolaridade, o multilateralismo nas relações”.
“Acredito que também é preciso reconhecer o papel, e Cuba reconhece, o importante papel de liderança que a Rússia desempenha em fazer o mundo caminhar para o multilateralismo. Ao defender o multilateralismo, BRICS está se opondo aos conceitos da Guerra Fria, traz a possibilidade de uma ordem econômica internacional mais justa, equitativa e que favoreça a todos. Está propiciando que haja relações mais cooperativas entre os países nas relações econômico-comerciais e, além disso, com toda essa visão, está favorecendo relações que façam perdurar a paz e garantam a segurança internacional”, afirmou na entrevista.
Nesse contexto, o presidente cubano mencionou a intenção do bloco que compõem Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul de se promover a independência em termos de moeda, superando a dolarização em suas relações econômico-comerciais. O passo “cria as bases para que, em relações mais inclusivas, mais favoráveis, todo um grupo de países possa se integrar à sua economia, em relações econômico-financeiras, que, ao se afastarem do dólar, evitam a exposição às sanções impostas pelo uso do dólar aplicadas pelos Estados Unidos ou de outros centros de poder do mundo”.
A AMÉRICA LATINA DEVE SE INTEGRAR CADA VEZ MAIS
Miguel Díaz-Canel apontou que “a região latino-americana é chamada a se integrar cada vez mais”. “Acho que é uma dívida que todos os latino-americanos têm porque desde a independência de nossas nações em 1800, todos os heróis latino-americanos […]: Bolívar, Martí, San Martín, O’Higgins, todos, Benito Juárez , chamaram à integração latino-americana, à necessidade de ser uma só América”, afirmou.
“E ainda devemos isso, creio que temos avançado na integração, mas ainda temos muitas coisas para fazer e, sobretudo, elaborar projetos e concretizar ideias e propósitos”, acrescentou o presidente.
RELAÇÃO COM A RÚSSIA É DE AMIZADE E RESPEITO
Questionado sobre a relação entre Havana e Moscou, Díaz-Canel a descreveu como “excelente”, acrescentando que “responde a laços históricos de amizade, a laços históricos de irmandade que foram forjados desde os tempos da União Soviética e que construíram muitos marcos nas relações entre nossas nações e nossos povos”.
O presidente cubano agradeceu a Moscou por sua contribuição humanitária na área de alimentos e medicamentos, destacando também a cooperação entre os dois países nos setores de economia, energia, transporte, indústria, produtos farmacêuticos, entre outros.
“Eu diria que, em resumo, é uma relação de amigos, é uma relação em termos políticos estratégicos, é uma relação baseada no sentimento de respeito, amizade, acordo em questões políticas e também com potencial de articulação, participação mútua, com benefícios para ambas as partes nas relações econômico-comerciais e financeiras, porque também há projetos que têm a ver com finanças que estão sendo desenvolvidos em conjunto. Eu diria a vocês que há um momento renovado em nossas relações e estamos muito gratos pelo apoio da Federação Russa”, assinalou.
CHINA TEM PAPEL RELEVANTE PARA O MULTILATERALISMO
“A China é uma grande preocupação para os Estados Unidos, assim como a Rússia também pelo papel relevante que estão desempenhando no plano internacional na política, porque são potências que defendem outra ordem econômica internacional, defendem o multilateralismo, defendem a paz, defendem o respeito entre as nações e, por outro lado, pelo desenvolvimento do potencial econômico-financeiro da China”.
“Se eles também lançam estratégias de aniquilação da mídia contra esses países, então eles também desencadeiam agressões e eles constróem contra esses países formas de difamar, desacreditar e um desses exemplos é a questão de Taiwan”, assinalou. Díaz-Canel enfatizou que o governo chinês foi reconhecido pela Assembleia Geral das Nações Unidas como o legítimo e único representante do povo chinês, portanto “tudo isso que está acontecendo em relação a Taiwan é uma interferência nos assuntos internos da República Popular da China”.
“Cuba condena a interferência nos assuntos internos da China, Cuba condena e vê com preocupação a presença militar agressiva dos Estados Unidos e seus aliados no Estreito de Taiwan tentando criar um foco de conflito na região. Cuba defende inabalavelmente o direito da China à reunificação, coerente e irreversível, e o direito de defender o conceito de Uma Só China. Portanto, qualquer outra coisa que vá contra isso consideramos interferência nos assuntos internos da China”, ressaltou ele.
LEI DE COMUNICAÇÃO SOCIAL APROVADA EM CUBA
O presidente comentou a aprovação pela Assembleia Nacional do Poder Popular de Cuba da Lei de Comunicação Social, que qualificou de “histórica”. “Eu diria que é uma lei moderna porque reconhece todos os espaços que existem hoje no campo da comunicação, eleva as inter-relações nesses espaços, está voltada para o bem-estar das pessoas, da população, também sobre a contribuição da comunicação social como pilar na gestão do nosso Governo”, afirmou.
Enfatizou que a iniciativa legislativa é aprovada enquanto Cuba, assim como outros países, “é totalmente agredida pela mídia por campanhas de ódio, por campanhas de calúnia, campanhas de difamação que são orquestradas e orientadas a partir de centros de poder imperial apoiados pelo Governo dos Estados Unidos com base em plataformas transnacionais”.
“E a outra coisa é toda a gestão da comunicação interna. Que a população saiba se comunicar, que haja uma comunicação mais eficaz, mais direta, mais ampla, mais democrática, mais transparente entre as instituições do Estado, as instituições públicas, os diversos atores econômicos, a população em geral, também proporciona um quadro de apoio, fortalecimento e melhoria em nossa sociedade, como a participação popular em todas as esferas. Portanto, penso que sim, que é uma lei histórica e que agora temos que apoiar a partir da vontade da implementação”, concluiu.