Revelação foi feita pela revista Veja que teria ouvido auxiliares de Paulo Henrique Costa, cuja defesa nega as declarações, mas divide responsabilidade pelas operações irregulares do Master com o governador do DF
O ex-presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, afirmou a auxiliares próximos, dos EUA, onde se encontra, depois de ter sido afastado do cargo por decisão judicial que envolve as tenebrosas transações entre o banco público e o Master, este último liquidado extrajudicialmente pelo Banco Central (BC), que todas as decisões tomadas passavam pelo colegiado do banco, eram referendadas por pareceres jurídicos e que ele sempre obedecia ordens do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.
As informações foram publicadas pela revista Veja, a partir de fontes ouvidas e que são próximas de Paulo Henrique.
A Polícia Federal investiga a compra de R$ 12 bilhões em títulos do Master com robustos indícios de fraude.
Segundo a Veja, dos EUA, onde o BRB tem um escritório de inovação no Vale do Silício, na Califórnia, Paulo Henrique começou a disparar mensagens a auxiliares sobre a crise que se instalou após as investigações da PF que resultaram, inclusive, na prisão do dono do Master, Daniel Vorcaro, quando tentava fugir do país.
Nessas mensagens, o ex-presidente do BRB afirmou que Ibaneis “interferia tanto nas grandes operações do banco quanto nas operações de varejo, incluindo empréstimos para empresas e pessoas físicas”, acrescentando que ele tinha sempre que “dar satisfações” ao governador sobre todas as decisões.
Paulo Henrique também disse aos auxiliares que não tinha ideia da fraude envolvendo os ativos do Master. Nas conversas, ele ressaltou que cabia ao Banco Central, a autoridade monetária, acompanhar a fiscalização do Master.
Em suas confidências a subordinados, o ex-presidente do BRB afirmou, ainda, que Ibaneis não costumava ouvir seus conselhos. Um deles, não afrontar o BC quando alguns diretores da instituição monetária resistiam na aprovação da venda do Master ao banco de Brasília. Segundo ele, Ibaneis chegou a endossar estratégia defendida por alguns políticos de pedir a cabeça desses diretores que insistiam na investigação das operações do BRB com o Master.
Outra discordância, segundo revelou a Veja, foi a publicidade com o Flamengo e a compra de imóveis para clientes especiais. Paulo Henrique chegou a reclamar pelo fato de Ibaneis tê-lo proibido de conversar com secretários do Governo do Distrito Federal sobre esses gastos com publicidade.
PAULO HENRIQUE DESMENTE VERSÃO, MAS DIVIDE RESPONSABILIDADE
Na sexta-feira, o presidente do BRB divulgou uma nota em que desmente a versão apresentada pela revista e afirma: “Tenho convicção de que sempre atuei na proteção e nos melhores interesses do BRB, seguindo padrões de mercado. Vou colaborar pessoalmente com a investigação e seguirei fornecendo todas as informações e esclarecimentos necessários para a completa elucidação dos fatos”, ressaltou.
Em nota encaminhada à redação da publicação pelo seu advogado, Cleber Lopes, Paulo Henrique diz que jamais afirmou que cumpria ordens do governador do DF. “As decisões do BRB, enquanto fui presidente, foram tomadas em instâncias colegiadas, nos termos da legislação, do estatuto e das políticas internas”.
Na mesma nota, o ex-presidente do BRB diz que não reconhece declarações atribuídas a seus auxiliares, de que ele cumpria ordens e ainda tinha de dar “satisfações” ao governador sobre os negócios do banco. “Qualquer comunicação institucional pertinente será apresentada às autoridades nos autos competentes. Reitero que as orientações à equipe sempre observaram critérios técnicos e os mecanismos de controle do banco”, diz a nota.
Sobre a compra do Master pelo BRB, o ex-presidente do banco diz: “No caso específico do Banco Master, após a identificação de divergências documentais em parte das operações do primeiro quadrimestre, o BRB comunicou o fato ao Banco Central, promoveu a substituição da grande maioria dessas carteiras e reforçou controles e processos”, diz a nota. “As medidas adotadas foram rápidas e efetivas, com foco em mitigar riscos e preservar a instituição e seus clientes”.
A revista Veja, no entanto, mesmo diante do desmentido, manteve as informações publicadas.
Caso confirmadas as informações nas investigações em curso, Ibaneis ficará numa situação muito difícil, talvez ainda mais complexa do que aquela verificada nos primeiros dias de 2023, quando, na condição de chefe das forças de segurança pública no DF, no mínimo, fez vistas grossas à trama golpista que estava em curso e que resultou no fatídico 8 de janeiro, rendendo-lhe, por decisão judicial, 3 meses de afastamento e, por muito pouco, a perda do mandato de governador.











