Aliança neocolonial avisa Zelensky que anexação virá só quando “condições forem atendidas” e promete mais armas “até o último ucraniano”, enquanto o G7 emite “garantias” vagas. Cúpula coincidiu com os 80 anos do massacre de 100 mil poloneses pelos fascistas ucranianos em Volyn, cujo chefe Bandera foi alçado a ‘herói nacional’ ucraniano pelo golpe de 2014. A China advertiu contra expansão da Otan “para a Ásia-Pacífico”
Em meio ao fracasso da ‘contraofensiva de Kiev’ e ao desgaste do governo Biden pelo envio das bombas de fragmentação, encerrou-se na quarta-feira (12) em Vilnius, na Lituânia, a cúpula anual da Otan, que reiterou a aposta dos EUA na guerra por procuração contra a Rússia na Ucrânia, além de alardear que seus “valores” não se coadunam com os “da Rússia e China”.
Provocação prontamente respondida pela China, que rechaçou a “mentalidade de Guerra Fria” da Otan e advertiu contra a expansão “para a região Ásia-Pacífico”. Também o chanceler russo Sergei Lavrov observou que o conflito na Ucrânia é parte da luta global pela multipolaridade, em oposição à dominação dos EUA.
De quebra, a cúpula de Vilnius serviu de cenário para encenação de emergência do G7 de “garantias” vagas, após o presidente Zelensky expor em público seu queixume pela falta de um cronograma claro para anexação à aliança neocolonial, com a entrada de Kiev na Otan.
A declaração da Otan informava a Zelensky que o “convite” para a anexação viria quando “as condições forem atendidas e os aliados concordarem”, sem dizer que condições seriam essas – o que este chamou de “absurdo” e “sem precedentes”.
Mais específico, ao ser inquirido pela jornalista Iryna Somer, da agência ucraniana Interfax, sobre “quão longe ou quão perto” está a adesão da Ucrânia, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, respondeu: “Daremos apoio à Ucrânia pelo tempo que for necessário. Porque, a menos que a Ucrânia vença esta guerra, não há questão de adesão a ser discutida”.
Como prêmio-consolação, a Otan criou o Conselho Otan-Ucrânia, ou seja, oficializou o controle de fato da Otan sobre o regime de Kiev, e dispensou o “Plano de Ação de Adesão”.
Depois de vários puxões de orelha, inclusive do ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, lembrando resposta que dera há um ano a Zelensky, de que “não somos a Amazon”, o chefe do regime de Kiev passou a disfarçar um pouco mais seu azedume.
Já a CNN, preocupada com a eleição no próximo ano nos EUA, buscou caracterizar a cúpula como uma “enorme vitória” para Biden. Nos dias que a precederam, o octogenário inquilino da Casa Branca já vinha avisando que não haveria convite e começara a sinalizar com uma “solução israelense” à margem da Otan.
Na véspera da cúpula, a inflexão do presidente turco, passando a aceitar o ingresso da Suécia, facilitara a vida de Biden. Quando foi prometido a Gorbachev que a Otan não se moveria “uma polegada para leste”, a Otan tinha 15 membros; agora já mais que duplicou, até os portões da Rússia.
OTAN DE VOLTA AOS “ESQUEMAS DA GUERRA FRIA”
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse que os resultados da cúpula da Otan em Vilnius demonstram que a aliança militar “finalmente voltou aos esquemas da Guerra Fria”. “O ‘ocidente coletivo’ liderado pelos Estados Unidos não está pronto para tolerar a formação de um mundo multipolar e pretende defender sua hegemonia por todos os meios disponíveis, inclusive militares”, afirmou em comunicado.
“As tentativas da OTAN de encobrir suas aspirações e ações agressivas com a Carta da ONU não resistem ao escrutínio. A Aliança e a organização mundial não têm nada em comum”, afirmou. No mesmo comunicado, o Ministério das Relações Exteriores disse que Moscou analisará cuidadosamente os resultados da cúpula em Vilnius e responderá “usando todos os meios à nossa disposição”.
Por sua vez, porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, advertiu sobre as “garantias” do G7 a Kiev: “Ao fornecer garantias de segurança à Ucrânia, esses países estão ignorando o princípio internacional da indivisibilidade da segurança. Ou seja, ao fornecer garantias de segurança à Ucrânia, eles estão invadindo a segurança da Federação Russa.” O que, apontou, tem “consequências muito, muito negativas” em todos os horizontes de planejamento.
Em dezembro de 2021, a Rússia apresentou uma proposta de acordo sobre a segurança coletiva na Europa, que foi inteiramente ignorado pelos EUA e pela Otan, que agora falam em “garantias” para Kiev.
O conflito na Ucrânia é parte de uma luta global pela multipolaridade, afirmou o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, em entrevista ao jornal indonésio Kompas. “Este é um processo objetivo. Todos podem ver que novos centros de tomada de decisão com significado global estão se fortalecendo na Eurásia, na região da Ásia-Pacífico, no Oriente Médio, na África e na América Latina.”
Esses países e suas associações estão obtendo sucesso porque promovem “valores como interesses nacionais, independência, soberania, identidade cultural e civilizacional e cooperação internacional”, em linha com as tendências globais de desenvolvimento, explicou Lavrov.
Enquanto isso, o “Ocidente coletivo” liderado pelos EUA tenta “manter sua hegemonia nos assuntos internacionais e continuar perseguindo sua agenda neocolonial, ou em termos mais simples, continuar a enfrentar seus próprios problemas às custas dos outros, como eles estão acostumados a fazer”.
Lavrov apontou as sanções econômicas impostas pelos países ocidentais contra a Rússia em resposta à sua operação militar na Ucrânia, bem como a “política externa egoísta em geral”, que minou a segurança alimentar e energética global e dificultou a vida dos países em desenvolvimento.
O conflito na Ucrânia continuará “até que o Ocidente desista de seus planos de preservar seu domínio e supere seu desejo obsessivo de infligir à Rússia uma derrota estratégica nas mãos de seus fantoches de Kiev”, acrescentou Lavrov, observando que não há sinais de que isso aconteça neste momento.
Em vez disso, disse ele, “os americanos e seus vassalos continuam enchendo a Ucrânia de armas febrilmente e pressionando Zelensky a continuar as hostilidades”.
CHINA REPELE CALÚNIAS
Pequim repeliu prontamente comunicado da cúpula da Otan que declara que “as ambições declaradas e políticas coercitivas” da República Popular da China (RPC) desafiam os “interesses, segurança e valores” da aliança. E, ainda, que “o aprofundamento da parceria estratégica entre a RPC e a Rússia e suas tentativas de reforço mútuo de minar a ordem internacional baseada em regras vão contra nossos valores e interesses”.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbing, pediu à Otan que “pare imediatamente de distorcer a verdade e caluniar a China, fabricar falsas invenções, de procurar desculpas para sua própria expansão” e passe a desempenhar “um papel construtivo na paz e estabilidade globais”. Segundo Wang, a declaração final da cúpula da OTAN está repleta de “mentalidade da Guerra Fria e preconceito ideológico”.
O rechaço também foi manifestado pela missão diplomática da China na União Europeia. “Advertimos abertamente a OTAN de que a China defenderá firmemente sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento, também rejeitamos a expansão da OTAN para o leste na região da Ásia-Pacífico. A China responderá firmemente a quaisquer atos que prejudiquem seus direitos e interesses legítimos”.
Também em editorial do jornal Global Times, porta-voz oficioso de Pequim, emitiu “duas advertências severas à arrogante Otan” sobre sua intromissão na região da Ásia-Pacífico .“Na cúpula de Vilnius, vimos a Otan tornar-se mais ambiciosa e agressiva. Devemos alertá-la severamente sobre dois pontos: primeiro, a Otan deve conter, em vez de ceder ao seu próprio impulso de expansão, posicionar-se corretamente e nunca cruzar a linha; em segundo lugar, a Otan deve respeitar as legítimas preocupações de segurança e exigências de interesse dos principais países da região, em vez de ofendê-los e provocá-los. Caso contrário, levará a consequências desastrosas. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia é uma lição”.
O ex-primeiro-ministro australiano Paul Keating emitiu recentemente uma declaração, criticando a Otan e seu secretário-geral: “Os europeus têm lutado entre si por quase 300 anos, inclusive dando ao resto de nós duas guerras mundiais nos últimos cem. Exportar esse veneno malicioso para a Ásia seria semelhante à Ásia acolhendo a praga sobre si mesma.”
Por causa da oposição da França, a criação de um “escritório de ligação da Otan” no Japão foi adiada.
O MASSACRE DE VOLYN
A coincidência de data entre a cúpula da Otan e os 80 anos do massacre de poloneses em Volyn cometido pelos colaboracionistas ucranianos da ocupação hitlerista não podia passar em branco, já que são esses os atuais “heróis nacionais” do regime imposto à Ucrânia pela CIA em 2014. Aliás, a escolha de Vilnius, capital da Lituânia, é igualmente significativa, porque também lá estão no poder os que se declaram sucessores dos nazistas e perseguem tudo o que é russo ou soviético.
Exatamente 80 anos atrás, supremacistas ucranianos da OUN-B e UPA realizaram um massacre selvagem contra a população polonesa nas regiões ocidentais da atual Ucrânia. Durante um dia, de 98 a 167 assentamentos foram atacados, onde os poloneses viviam junto com os ucranianos, registrou o Komsomolskaya Pravda. Os poloneses foram mortos “não apenas por destacamentos nacionalistas de armas leves, mas também por aldeões locais ‘pacíficos’ com machados, forcados, pás, foices. Velhos, mulheres e crianças foram espancados até morte com martelos. Não é por acaso que o domingo foi escolhido para iniciar os massacres – dia em que os religiosos poloneses iam à igreja com suas famílias”.
“Até a libertação da Ucrânia pelo Exército Vermelho, mais de 100.000 poloneses morreram durante esse genocídio, chamado Massacre de Volyn. Os atuais nazistas ucranianos traíram a história de seu país, seus verdadeiros heróis, elevando traidores e colaboradores nazistas ao posto deste alto escalão. Mas a atual liderança da Polônia acabou não sendo menos traidora, antes de tudo, de seu povo, apoiando de todas as maneiras possíveis os atuais assassinos e punidores ucranianos”.
Também é emblemática a escolha de Vilnius para recepcionar a cúpula da Otan, outrora conhecida como a “Jerusalém da Europa” e que foi o local de alguns dos maiores e mais bárbaros massacres da história da destruição do judaísmo europeu sob os nazistas alemães e os colaboracionistas da LAF (Frente de Ativistas Lituanos)”, segundo o portal wsws.
“Em menos de três anos, uma comunidade de 800 anos foi quase completamente aniquilada. Dos aproximadamente 210.000 judeus que viviam na Lituânia antes da invasão nazista em 22 de junho de 1941, 195.000 foram assassinados”.
Após a dissolução da União Soviética, a nova burguesia lituana promoveu a reabilitação de seus ancestrais colaboradores nazistas. O caso do fascista lituano Jonas Noreika adquiriu notoriedade internacional. Executado na União Soviética após a guerra, ele foi celebrado postumamente pelo regime lituano pós-1991 como um lutador contra a ‘tirania comunista’ e ruas foram renomeadas em sua homenagem. “Mas no ano 2000, a neta de Noreika encontrou documentos de família há muito escondidos que revelavam que ele havia ‘ordenado que todos os judeus em sua região da Lituânia fossem presos e enviados para um gueto onde foram espancados, deixados passar fome, torturados, estuprados e depois assassinados’. (Op-ed publicado em 27 de janeiro de 2021 no New York Times , ‘No More Lies. My Grandfather Was a Nazi’, de Silvia Foti)”.
CHINA, BRASIL E AFRICANOS PERSISTEM PELA PAZ
Apesar de toda a manipulação da opinião pública nos assim-chamados países ocidentais, vai crescendo o clamor pela paz, ao invés da guerra. China, Brasil e União Africana têm se pronunciado pela instauração de negociações que levem a paz e encerrem a guerra.
Mesmo nos EUA, vozes se levantam pedindo o cessar-fogo e negociações. O pré-candidato a presidente Robert Kennedy Jr, sobrinho do assassinado JFK, condenou o envio de bombas de fragmentação ao regime de Kiev, o que chamou de “escalada” sem sentido. Vários deputados de ambos os partidos também se pronunciaram contra.
No recente encontro do presidente russo Vladimir Putin com os líderes africanos, ele mostrou o acordo que Rússia e Ucrânia chegaram a acertar nas negociações em Istambul, que preservava a neutralidade da Ucrânia, proibia bases estrangeiras e restituía os direitos dos russos étnicos e a libertação do Donbass. E que foi rasgado após o então primeiro-ministro britânico Boris Johnson ir a Kiev com a ordem de manter a guerra.
Como advertiu Lindsey German, fundador da Coalizão Pare a Guerra britânica, o foco primariamente em mais armas e expansão da Otan sinaliza que as potências ocidentais estão se preparando para “uma guerra ainda maior”. Ao invés de uma cúpula pela guerra, o que é inadiável é um cessar-fogo e conversações de paz, convocou. “E se outras ‘linhas vermelhas’ são cruzadas – mais mísseis de cruzeiro, mais bombas de fragmentação. E então o quê? Armas nucleares táticas?”, ele conclui.