A exclusão de Cuba, Venezuela e Nicarágua, forçada por Biden levou ao esvaziamento do conclave que se realiza em Los Angeles. Líderes de oito países estão ausentes e diversos dos que decidiram ir assumiram compromisso de condenar a exclusão
Com a exclusão de Cuba, Nicarágua e Venezuela pelo governo estadunidense, a Cúpula das Américas começou nesta segunda-feira (6) em Los Angeles com a ausência de presidentes de oito países do continente. Da mesma forma, lideranças governamentais das 14 nações que compõem a Comunidade dos Estados Caribenhos (Caricom) anunciaram que não participarão do evento na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Somando um bilhão de habitantes, o continente que vai da Alasca à Patagônia, confronta a explícita tentativa dos EUA de definir quem é ou não “democrático” e de onde se respeita “a situação dos direitos humanos”.
Os presidentes do México, López Obrador; Luis Arce, da Bolívia; Xiomara Castro, de Honduras e Alejandro Giammattei, da Guatemala, afirmaram que não participarão e justificaram sua ausência: não se somarão com quem divide. O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, informou que cancelou a vigem porque está com Covid.
“Não vou à cúpula porque nem todos os países das Américas estão convidados e acredito na necessidade de mudar a política que se impõe há séculos, a exclusão”, afirmou López Obrador, apesar das insistências do presidente dos EUA, Joe Biden, para que comparecesse ao evento.
No mesmo tom pronunciaram-se Luis Arce e Xiomara Castro, frisando que não participariam do encontro se todos os demais mandatários não estivessem representando legitimamente os seus países.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou que seria o porta-voz da posição da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) – organismo atualmente dirigido por seu país -, rejeitando a política excludente da Casa Branca, também interpretada como um grave retrocesso nas relações hemisféricas.
Para o presidente do Chile, Gabriel Boric, por meio da postura estadunidense “ninguém vai se salvar”. “Temos que nos unir para ter um melhor desenvolvimento de nossas nações. Sentimo-nos no direito de expressar que a exclusão não é o caminho. Isso não tem dado resultados historicamente”, declarou Boric. “Acreditamos que isso é um erro e vamos dizer isso na cúpula”, acrescentou.
“O evento já é um fracasso neoliberal” que “isola e desconecta os EUA de Nossa América. São pressões e chantagens”, escreveu nesta segunda-feira no Twitter o chanceler cubano, Bruno Rodríguez. Conforme o presidente cubano, Díaz-Canel, “sabe-se que o governo dos Estados Unidos concebeu desde o início que a Cúpula das Américas não seria inclusiva. Era sua intenção excluir vários países, incluindo Cuba, apesar da forte demanda regional de que as exclusões acabassem”.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, criticou o posicionamento dos EUA, sublinhando que é “um ato de discriminação”.
Na cúpula, que encerrará na sexta-feira (10), Biden pretende reunir-se com alguns colegas como Jair Bolsonaro, que confirmou presença. Por conta disso, nesta terça-feira (7) à tarde, um caminhão com três telas de LED circulou pelas ruas da cidade da Califórnia com mensagens como “Fuera, Bolsonaro”, “Don’t trust Bolsonaro” (não confie em Bolsonaro) e “Bolsonaro loves Trump” (Bolsonaro ama Trump), trazendo imagens da execrável figura.
CARAVANA DE MIGRANTES
Enfrentando fortes chuvas, milhares de migrantes latino-americanos saíram em marcha desta segunda de Tapachula, no sul do México, para percorrer a pé mais de 3.000 km até os Estados Unidos, onde costumeiramente são barrados e deixados com suas famílias ao relento. Os que tentam entrar acabam sendo presos e, posteriormente, exilados.
“Dizemos aos líderes dos países que se reúnem hoje na Cúpula das Américas que mulheres e crianças migrantes, famílias migrantes, não são moeda de troca, de interesses ideológicos e políticos”, declarou o coordenador da ONG Centro de Dignificação Humana, Luis García Villagrán, que acompanha a caravana dos migrantes. “Caminhamos pela nossa liberdade, porque temos o direito de migrar”, frisou.