Enquanto a bancada ruralista tenta afrouxar o controle sobre os agrotóxicos com o PL do veneno (PL6922/2002), estudo da Universidade de São Paulo (USP) aponta que 25 mil pessoas foram intoxicadas pelo uso do produto entre 2007 e 2014, dessas 20% são crianças.
Os 25 mil casos notificados representam um total de 3.125 casos de intoxicação por ano, e uma média de oito intoxicações diárias. O “Atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Européia” diz que o número de notificações não corresponde ao total de pessoas intoxicadas pelos agrotóxicos, estimando-se 50 casos não notificados para cada notificado.
“Os casos representados no mapa são, portanto, a ‘ponta do iceberg’, apenas 2% do total. Por conseguinte, é possível que tenha havido 1.250.00 (um milhão e duzentas e cinqüenta mil) intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola neste período.”, diz a autora, professora doutora no Departamento de Geografia da USP, Larissa Mies Bombardi.
O estudo demonstra ainda que “no total tivemos 1186 casos de mortes por intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola, o que significa uma média de 148 mortes por ano ou o equivalente a uma a cada dois dias e meio.”, em números oficiais, uma pessoa morre a cada dois dias e meio.
Um dos dados mais alarmantes trata da quantidade de bebês de 0 a 12 meses vítimas do produto, chegando a 343 casos notificados no período de 2007 a 2014.“Se em números oficiais tivemos 343 bebês intoxicados neste período, possivelmente este número real pode ter chegado a 17 mil bebês intoxicados, considerando que para cada caso tem-se 50 não notificados.”
A autora dividiu os casos em três categorias: “uso habitual”, “acidental” e “tentativas de suicídio”, onde as duas primeiras estão relacionadas à atividade laboral cotidiana entre os camponeses e trabalhadores rurais e suas famílias. Os dados sobre crianças e adolescentes intoxicados estão relacionados com a infância no meio rural e à contaminação de alimentos com altas doses de agrotóxicos.
O relator do PL do veneno, deputado federal Luiz Nishimori (PR), ao defender o projeto disse que a lei brasileira é defasada e impõe “muita burocracia” ao setor e que a liberação precisa ser facilitada.
Enquanto isso, a realidade é que no Brasil a lei é muito mais branda que na Europa, por exemplo, onde a água potável pode conter apenas 0,1 miligramas de glifosato (herbicida mais vendido do mundo), por litro, no Brasil o limite é 5 vezes superior.
A legislação brasileira permite na produção do feijão uma quantidade 400 vezes maior que na Europa. No caso da soja, essa quantidade chega a ser 200 vezes superior. Segundo a Fiocruz, o Brasil é o país que mais consome agrotóxicos em todo o mundo, pelo décimo ano seguido.
RODRIGO LUCAS