A CPMI que investiga os atentados golpistas de 8 de janeiro estuda usar em seu relatório final informações sobre as quebras de sigilos do ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, que já foram noticiadas na imprensa.
Com isso, se livraria do impedimento estranhamente imposto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Nunes Marques, que foi indicado por Bolsonaro.
Segundo Lauro Jardim, do jornal O Globo, a direção da CPMI “descobriu não haver nenhum impedimento para usar as informações sobre os sigilos que já foram noticiadas pelos jornais”.
Assim, o relatório final da CPMI poderá ter dados da quebra de sigilo, que foi anulada por Nunes Marques.
A leitura do relatório final deve acontecer na segunda metade de outubro, antes da decisão monocrática (individual) de Nunes Marques ser avaliada pelos demais ministros do STF.
Silvinei Vasques coordenou a ação da PRF no segundo turno das eleições presidenciais, em outubro de 2022, para tentar impedir a chegada de eleitores de Lula em seus locais de votação. O plano foi feito junto com Anderson Torres, que era ministro da Justiça do governo Bolsonaro.
O Ministério da Justiça fez um levantamento das cidades com maior predominância de eleitores de Lula e a PRF realizou as blitze direcionadas.
Em 19 de outubro, 11 dias antes do segundo turno, Silvinei Vasques reuniu 47 agentes da PRF para dizer que havia chegado a hora de a PRF “tomar lado” na disputa eleitoral. Um servidor da área de inteligência da PRF disse a um colega que a determinação de Vasques foi clara: “Foram as reuniões de gestão. Disse muita m… Policiamento direcionado”.
Seu subordinado então questionou: “DG (o diretor-geral)?”. Ele confirmou: “Positivo.” Segundo a PF, a conversa fazia referência ao encontro de dez dias antes.
BLINDADOS
No mesmo dia, Silvinei esteve no gabinete de Anderson Torres no Ministério da Justiça.
Além dos crimes contra a democracia, Silvinei Vasques é investigado por um esquema de corrupção na compra de blindados para a PRF.
Na quebra de sigilo telemático, realizada pela CPMI, foi descoberto que Silvinei organizou, em 2023, um encontro entre Jair Bolsonaro e o empresário que vendeu os blindados para a corporação.
“Bom dia Presidente, parabéns pela palestra. O Senhor Maurício da Combat Armor Defense liga diariamente. Ele quer dar um abraço no Senhor. Sempre muito preocupado com sua segurança. Perguntou se possível recebê-lo por breves minutos no dia 03/02 em Miami, na data que ocorrerá o evento Power Of the people”, disse Silvinei Vasques.
Dos 29 blindados comprados com a Combat Armor Defense, 9 nunca saíram da garagem da PRF.