As recentes declarações da ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), segundo as quais a violência sexual contra meninas e adolescentes na Ilha de Marajó (Pará) deve-se à falta do uso de calcinhas, estão provocando muita revolta.
A declaração da ministra aconteceu na última quarta-feira (24), em Brasília, durante a apresentação dos resultados do programa Abrace o Marajó. Veja aqui
Disse Damares:
“As meninas lá são exploradas porque não têm calcinhas, não usam calcinhas, são muito pobres. E disseram: por que o ministério não faz uma campanha para levar calcinhas pra lá? Conseguimos um monte. Mas, por que levar calcinhas? As calcinhas vão acabar. Nós temos que levar uma fábrica de calcinhas para a Ilha do Marajó. Gerar emprego lá e a calcinha vai sair baratinha pras meninas lá. Então nós estamos buscando, se alguém tiver fábrica de calcinha e quiser colaborar com a gente, venha. Mas nós estamos buscando empreendimentos para a Ilha do Marajó. Tamos conversando com empresários. Na nossa visita a Miami, empresários milionários brasileiros que estão lá fora se ofereceram para também abraçar o Marajó com a gente”.
O primeiro a repudiar a declaração da ministra foi o procurador-geral de Justiça do Pará, Gilberto Martins, em nota divulgada na sexta-feira (26). Para o procurador, “a infeliz manifestação reforça a ‘cultura do estupro’, ainda observada em nossa sociedade, que tende a culpabilizar as vítimas pela violência sexual sofrida, neste caso, sustentando a ausência de vestuário íntimo como justificativa à prática dos atos ofensivos pelos agressores”.
O documento do procurador relata as políticas e campanhas realizadas pelo Ministério Público do Pará (MPPA), desde 2018, para prevenir e coibir a violência sexual contra as meninas do arquipélago. O trabalho tem parceria com a Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB) e vem apresentando resultados concretos, segundo o procurador.
O procurador afirma que esse caso grave “exige muito mais do que a implantação de empresas de vestuário”, como diz Damares.
A nota finaliza expressando “irrestrito apoio às mulheres e meninas marajoaras diante do lamentável episódio”, ratificando o compromisso do MPPA “na defesa dos seus direitos humanos”.
“Meu total repúdio à declaração da ministra Damares Alves. As crianças vítimas de exploração sexual na Ilha do Marajó não precisam de uma fábrica de calcinha. Elas precisam que a ministra faça o trabalho dela, promovendo políticas públicas de garantia de direitos fundamentais”, manifestou-se a cantora Fafá de Belém em mensagem e vídeo publicado nas redes sociais.
“A ministra também precisa se informar sobre o que já é feito pelo MP do Pará na região, em vez de discursar reforçando a cultura do estupro, colocando sobre as vítimas – crianças de 10, 11, 12 anos – a responsabilidade por um crime tão bárbaro, pela falta de uso de calcinhas”, continuou a artista.
“Não é a primeira vez que a ministra fala algo infeliz, mas desta vez passou dos limites”, completou Fafá de Belém.
Leia o depoimento de Fafá sobre o caso no vídeo postado no sábado (27):
“Esse drama é uma tragédia urbana, sem precedentes. São meninas que são negociadas com 10, 11, 12 anos. Elas são trocadas para uso sexual por alimento, dinheiro, mantimento, na curva do Marajó. É um caso seríssimo. Seríssimo. Que quando a gente coloca luz em cima é como se uma cortina de fumaça viesse. O Marajó é só isso? Não. O Marajó é uma região maravilhosa. Uma ilha fantástica, um arquipélago fantástico. Mas nós temos que estar atentos para combater de qualquer forma a exploração infantil, a exploração sexual infantil. E não é uma fábrica de calcinhas, ministra, que vai resolver o problema das crianças. É uma política séria, social, de amparo a essas meninas e às suas famílias. Hoje o dia inteiro será de solidariedade ao Ministério Público do Pará, de solidariedade a essas crianças que precisam de proteção, não de fábrica de calcinhas. Nosso repúdio, do povo paraense, das mulheres do Brasil, em relação à infeliz declaração da ministra Damares, mais uma, mas essa passou dos limites. A causa das crianças serem abusadas é que elas não usam calcinha? Quer dizer, a vítima é que é a culpada? Crianças de 9, 10, 11 anos? Pelo amor de Deus! Vamos juntos nessa cruzada com a gente. O dia inteiro será de repúdio a essa declaração”.
O Movimento Articulado das Mulheres da Amazônia também repudiou, em nota emitida na quinta-feira (25), os comentários de Damares.
“Repudiamos e desaprovamos publicamente a postura da Ministra Damares que devido à sua ignorância e total desconhecimento da realidade dos povos amazônicos, se reporta de forma indigna e desrespeitosa à condição de vida das mulheres e crianças amazônidas. O conteúdo expresso ao se reportar sobre a violência sexual praticada contra as mulheres, jovens e crianças traduz de forma agressiva, machista, misógina e discriminatória a prática do governo brasileiro ao tratar a questão da violência praticada contra mulheres jovens e crianças no Brasi”, diz a nota.
Veja o vídeo de Fáfá de Belém:
Íntegra da nota do Ministério Público do Pará
Leia a íntegra da nota das Mulheres da Amazônia:
“Nota de Repúdio
Nós, mulheres da Amazônia, ribeirinhas, pescadoras, camponesas, estrativistas, parteiras tradicionais, quebradeiras de côco, erveiras, indígenas, negras, de matriz africana, do campo, da floresta, das águas e das cidades, repudiamos e desaprovamos publicamente a postura da Ministra Damares que devido a sua ignorância e total desconhecimento da realidade dos povos amazônicos, se reporta de forma indigna e desrespeitosa a condição de vida das mulheres e crianças amazônidas. O conteúdo expresso ao se reportar sobre a violência sexual praticada contra às mulheres, jovens e crianças traduz de forma agressiva, machista, misógina e discriminatória a prática do governo brasileiro ao tratar a questão da violência praticada contra mulheres jovens e crianças no Brasil.
A manifestação da Ministra, ao se referir às mulheres e às meninas da Amazônia, que sofrem diariamente as consequências do descaso e ausência do estado brasileiro, em não promover a distribuição de renda justa para aplicar em políticas públicas que garantam a geração de trabalho, emprego e renda para as mulheres desta região, demonstra o quanto o governo brasileiro está distante da realidade dos povos amazônicos. Não bastasse a posição delinquente e preconceituosa do governo brasileiro contra o povo nordestinos, agora presenciamos o discurso de um Ministério constituído para resguardar os direitos das mulheres, vindo a público se manifestar contra as mulheres do Norte, da Amazônia brasileira!
Diante dessa triste e perversa realidade, as entidades, organizações, movimentos sociais de mulheres, coletivos feministas dos nove Estados da Amazônia Brasileira, que integram o Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia, denunciam, junto às autoridades, órgãos nacionais e internacionais, a violação institucional dos direitos das cidadãs brasileiras que vivem nas florestas, no campo e nas cidades amazônicas!
Exigimos respeito e políticas públicas!
POR MIM, POR NÓS, POR TODAS!
Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia/ MAMA
Esta ministra também é desequilibrada mentalmente, não é doida, é maldosa como o capetão.