
Dezenas de intelectuais, jornalistas e escritores de todo o mundo realizaram no último final de semana uma vigília on-line internacional de 36 horas em defesa do editor do WikiLeaks, Julian Assange. O evento foi a terceira vigília organizada desde março passado, quando – por pressão dos Estados Unidos – as comunicações de Assange foram interrompidas pelo governo equatoriano desde sua embaixada de Londres.
A vigília reflete o amplo apoio ao editor do WikiLeaks e o repúdio à tentativa de forçá-lo a se submeter à custódia de estadunidenses e ingleses, onde Assange enfrenta acusações de espionagem por expor minúcias das ilegais e injustas operações imperiais.
Daniel Ellsberg, cuja divulgação dos Documentos do Pentágono em 1971 expôs a profundidade e a amplitude dos crimes de guerra dos Estados Unidos no Vietnã, traçou um paralelo entre suas próprias atividades e os registros de guerra do WikiLeaks, de 2010, sobre o que foi feito no Iraque e no Afeganistão. “Eu realmente esperei quase 40 anos, depois que os Documentos do Pentágono saíram, para alguém fazer o que eu fiz”, frisou Ellsberg, apontando similaridades entre os ataques feitos contra ele e a perseguição de Assange. “Fui acusado de 12 crimes, um total de 150 anos de prisão. Nixon tinha em mente para mim o que Hillary Clinton e Barack Obama tinham em mente para Julian Assange”, disse ele. Ellsberg frisou ainda que por conta do WikiLeaks ter exposto “as operações imperiais em todo o mundo”, é “quase certo” que Assange seja extraditado para os EUA, caso o governo equatoriano ceda às pressões que vêm recebendo.
Para o jornalista Chris Hedges, escritor vencedor do Prêmio Pulitzer, dentro do aparato de inteligência dos EUA, há um “ódio maníaco por Julian e WikiLeaks”. “Eles têm que pegá-lo, têm que fazer dele um exemplo para que não haja mais Julian Assanges”, acrescentou. Defendendo ações “anti-imperialistas”, Hedges afirmou que os governos estavam usando “o método clássico, que é usar o WikiLeaks, ou dissidentes como eu, como agentes de uma potência estrangeira”. “As elites não querem reconhecer que é a desigualdade social, que eles criaram, o que criou essa perda de fé na ideologia dominante do capitalismo global”, enfatizou.
William Binney, um ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional dos EUA – que ajudou a expor a vigilância em massa da população americana -, disse que os governos “não podem permitir a verdade. Então eles têm que suprimi-lo, minimizá-lo e tentar fazer com que as massas do público não acreditem nele”. Binney denunciou que o isolamento de Assange pelo governo equatoriano foi “basicamente um tipo de técnica de tortura”. “É uma técnica que psicólogos desenvolveram com a CIA como tratar as pessoas para fazê-las se sentir muito isoladas”, alertou.