É incrível, caro leitor, mas você sabia que, de um dia para noite, diante dos tarifaços de Trump que não poupam nenhum país do mundo, aliado ou não dos EUA, o Elon Musk ficou US$ 13,3 bilhões mais pobre?
RECUO DAS AÇÕES DO APOIADOR
As ações da Tesla recuaram quase 7% na abertura dos mercados nesta segunda-feira (3) e atingiram também a empresa do arquibilionário, cuja fortuna foi amealhada historicamente à sombra das compras governamentais de produtos e serviços, especialmente nas áreas espacial e de defesa.
Hoje, a fortuna de quem é considerado o homem mais rico do planeta está estimada em US$ 410 bilhões, ou seja, R$ 2,3 trilhões, encolhida em alguns bilhões de dólares nesta segunda-feira, 3, em razão das ordens de Donald Trump para impor tarifas de 25% sobre produtos do México e do Canadá, além de taxar em 10% as importações da China.
A perda ocorre depois que Musk se tornou o principal financiador da campanha de Trump. Para se ter uma ideia do valor investido na eleição do amigo e atual mandatário norte-americano (ao contrário do Brasil, nos EUA as empresas podem apoiar financeiramente os candidatos, não importa o valor), em moeda brasileira, foi algo em torno de US$ 250 milhões (R$ 1,4 bilhão) e, agora, perdeu aproximadamente R$ 78 bilhões, uma ninharia perto de sua fortuna total. Nenhum bilionário fez mais para eleger Trump.
O tarifaço foi anunciado no sábado, 1º. Antes do acordo desta segunda entre Trump e a presidente do México, Claudia Sheinbaum, para suspender a tarifa sobre os produtos mexicanos, o mau humor no mercado financeiro refletia nas ações da Tesla, com bolsas operando em queda no mundo todo.
Por volta das 12h20, as ações da montadora caíam 7,31%, aos US$ 375,03 em Nova York. Por conta da desvalorização das ações de sua fabricante de veículos, Musk estava tendo perdas US$ 13,3 bilhões em sua fortuna, aproximadamente R$ 78,5 bilhões. As informações são do ranking dos bilionários da Forbes.
No governo de Trump, o bilionário foi colocado como líder do Departamento de Eficiência Governamental, o DOGE, e, já no posto, tem anunciado sucessivos cortes nos gastos públicos, inclusive aqueles direcionados à ajuda humanitária que os EUA assumiram junto à comunidade das nações.
Apesar de não ser uma entidade oficial dentro do governo dos Estados Unidos, o DOGE possui o objetivo de orientar o presidente na redução de despesas públicas e na desregulamentação de diversos setores, algo que soa como música aos ouvidos dos próceres do capitalismo daquele país.
A estratégia da dupla – Trump e Musk – consiste em reduzir os gastos e investimentos considerados nocivos ao “mercado” hoje dominado pelos grandes cartéis e oligopólios, especialmente os das redes digitais, da indústria automobilística, do petróleo e das finanças, por óbvio. Quanto ao da indústria bélica, embora Trump tenha falado que iria reduzir os gastos do país com armamentos e tropas, até o momento nenhuma medida concreta foi adotada, o que demonstra a influência que esse setor continua tendo junto à Casa Branca, aliás, desde o final da 2ª Guerra Mundial.
Alguns podem perguntar: o que Musk teria feito junto a Trump diante de monumental prejuízo. Provavelmente nada, pois, da mesma forma que uma canetada do atual ocupante da Casa Branca move bilhões de um lado para outro, da noite para o dia, invariavelmente, do bem para o mal, pode e deve ocorrer o inverso a qualquer momento, se é que o bilionário já não recuperou o prejuízo com a suspensão do tarifaço, pelo menos em relação ao México e Canadá, diante da decisão dos governos desses países de retaliar na mesma moeda, desnudando o recuo trumpista como típico de um blefador que não consegue ir às últimas consequências em razão da decadência da economia dos EUA frente à China, ao BRICs e a outros polos de desenvolvimento mundiais.
O fato é que a presença de Trump no governo dos EUA, um neofascista comprometido até a medula com os megamonopólios privados, apenas escrachou essa decadência e a natureza imperialista daquele país, bem como tornou mais nítido o caráter antidemocrático do sistema político norte-americano, dominado, até os dias hoje, pela ditadura dos cartéis privados, como diria Kurt Mirow, seja das armas, do petróleo, da indústria farmacêutica, dos bancos e, agora, mais recentemente, das redes digitais, cujos tentáculos estão em diversas partes do mundo.
Musk é apenas mais uma novidade, mas não uma novidade qualquer, pois nenhum outro presidente, pelo menos que se tenha notícia, republicano ou democrata, desses partidos que se revezam no poder nos EUA há décadas, ousou colocar como seu auxiliar, ainda que numa estrutura paralela, um sócio proprietário desses mastodontes econômicos vicejados pelo Estado norte-americano, muitos dos quais com faturamento superior à riqueza de muitas nações pelo mundo afora. Até então, apenas seus prepostos assumiam tais funções.
Uma lógica que não tem como persistir por muito tempo, pois está lastreada, acima de tudo, com raras exceções, nas bolhas criadas nas bolsas de valores, cujas oscilações se dão em razão, essencialmente, da prática da especulação, descoladas que se encontram no momento das economias reais dos países em que operam.
MARCO CAMPANELLA