“A elevação de 1 ponto percentual da Selic é injustificável. Ela é um sequestro da agenda de crescimento econômico”, destacou o líder empresarial
O diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Rafael Lucchesi, em entrevista ao programa Em Ponto da Globo News, no dia 12 de dezembro, afirmou que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 12,25% ao ano, e sinalizar mais duas altas de 1 ponto cada na próximas reuniões. “É totalmente injustificável, a elevação futura, ela é um sequestro da agenda de crescimento econômico. É algo que não interessa ao país”, afirmou.
“Na prática, representa uma contratação de uma forte retração por uma política monetária altamente contracionista”, ressaltou o diretor da CNI. “O Brasil precisa fazer uma discussão mais ampla sobre essa política contracionista. Nós vamos entrar no 35º mês com uma taxa de juros restritiva e contracionista. Isso significa menos emprego, menos crescimento, menos investimento, menos prosperidade”.
“Do ponto de vista da realidade, de como ela se apresenta, mesmo com esse debate da questão fiscal, que é um debate importante , o controle da inflação também interessa ao setor produtivo, mas a sociedade brasileira tem também claros interesses em manter um ambiente macroeconômico que privilegie o investimento, que assegure o crescimento econômico, que assegure o crescimento do emprego, o bem-estar da população, porque esse é o objetivo maior de todos nós. Não há justificativa para esse cenário que está sendo colocado. É um ataque especulativo contra a economia brasileira”, denunciou.
Veja a seguir a entrevista de Rafael Lucchesi na Globo News
“Muito ruim para a trajetória de desenvolvimento econômico. E por que a CNI acha totalmente injustificável e incompreensível? O Banco Central está ignorando pelo menos seis elementos importantes que deveriam ser fatores para a definição da taxa de juros.
“Nós temos uma politica fiscal que já vinha perdendo fôlego. Nós já vínhamos tendo uma redução do dispêndio. O segundo semestre de 2024 já vai ter uma redução de 1,8% frente ao segundo semestre do ano passado. Fora isso, na mesma semana que o governo anuncia um pacote de redução de despesas, com R$ 30 bi de redução em 2025 e R$ 41 bi de redução em 2026, política essa proposta pelo Banco Central, sugerida pelo Banco Central, de maneira totalmente paradoxal há esse aumento de 1%.
“O segundo elemento, é o cenário internacional. Hoje o Banco Central Europeu anunciou uma redução da taxa de juros, a quarta consecutiva. Semana que vem, o FED [banco central do EUA] vai reduzir a taxa de juro também. Então, há um contraponto da taxa de juro brasileira, vis-à-vis, às sinalizações do mercado internacional.
“O mercado de trabalho já vem desacelerando desde agosto. Se nós colocarmos até outubro, há uma redução da criação de emprego de 29% em 2024, de janeiro a outubro, frente a 2023.
“O crédito vem se retraindo também, até pela elevação da taxa de juro.
“O PIB no terceiro trimestre teve uma variação de 0,9% frente a 1,4% do segundo trimestre. E a projeção para o ano que vem é de 2% do PIB frente a um crescimento estimado esse ano de 3,4%.
“Também, a parte de alimento e energia, que representou pressões inflacionárias em 2024. As previsões do clima para 2025 é que tanto alimentos, como também energia, vão ter redução de custos. Fora que há também uma projeção de estabilidade no preço de commodities, sobretudo petróleo.
“Então, se nós pegarmos esses seis elementos, não há nenhuma justificativa para essa decisão do Copom, que na prática representa uma contratação de uma forte retração por uma política monetária altamente contracionista.
“O Brasil está entre as três maiores taxas de juros do mundo. Ela se equipara a Turquia e a Rússia, só fica abaixo dessas duas. É algo muito ruim para a economia.
“Nós estamos num triênio de recuperação econômica. O Brasil precisa fazer uma discussão mais ampla sobre essa política contracionista. Nós vamos entrar no 35º mês com uma taxa de juros restritiva e contracionista. Isso significa menos emprego, menos crescimento, menos investimento, menos prosperidade.
“Qual é o interesse da sociedade, da população? É claro que a estabilidade macroeconômica é um bem fundamental, uma conquista, mas da forma como o Banco Central tem trabalhado, de forma até injustificável, essa sobrevalorização da taxa de juro, isso acaba sendo um elemento muito ruim para a sociedade. O Brasil precisa fazer uma discussão mais ampla sobre isso.”
Ao comentar sobre a decisão de que o aumento de mais dois pontos percentuais serão acrescidos na taxa Selic nas próximas duas reuniões e que, segundo o repórter, já “está na mesa dos economistas”, Lucchesi respondeu:
“Não na mesa dos economistas, mas de alguns economistas. [… ] sobre a qualidade do crescimento que o Brasil vem tendo, sobretudo em 2024, puxado pela indústria de transformação. Por que isso é importante? Porque a indústria tem um efeito muito dinâmico sobre a economia. São elos mais complexos, mais longos, cadeias mais longas, pagam melhores salários. Isso gera um efeito mais dinâmico, mais sustentado para o crescimento econômico. Para o Brasil, um país de mais de 200 milhões de habitantes, uma população economicamente ativa de mais de 110 milhões de habitantes, um crescimento dessa qualidade é muito importante.
“A elevação de 1%, ela é totalmente injustificável, a elevação futura, considerando esses seis elementos que eu falei há pouco, ela é um sequestro da agenda de crescimento econômico. É algo que não interessa ao país. Por isso eu coloco que o Brasil precisa fazer uma discussão mais ampla.
“Não faz o menor sentido essa elevação da taxa de juro, sobretudo essa sinalização de um crescimento futuro.
“O Brasil tem uma inflação relativamente baixa, de 4,6%. Lembro que m 2022 a inflação estava em 12% e a taxa Selic em 13,25%. Então, nós precisamos de mais prudência, de uma compreensão mais ampla da realidade, das decisões do Banco Central. Elas estão em desacordo com o quadro econômico e elas estão se contrapondo ao interesses do desenvolvimento sustentável que uma das premissas que o Banco Central deve observar nas suas decisões.
Sobre o “fiscal”, conforme questionado, Rafael Lucchesi respondeu:
“O mercado financeiro representa 8% do PIB brasileiro, nós precisamos ouvir os outros 92% do PIB brasileiro quando nós discutimos isso. É claro que a agenda fiscal é uma preocupação, uma preocupação também do setor produtivo. Mas nós temos uma razoável estabilidade fiscal. O governo lançou um pacote de redução de despesas, nós acreditamos que o Congresso está demonstrando sensibilidade sobre esta questão e a decisão, na mesma semana, pelo Banco Central em aumentar 1%, e sinalizar aumentos à frente, ela vai contra o interesse público, contra as premissas que o Banco Central poderia estar observando.
“Então, do ponto de vista da realidade, de como ela se apresenta, mesmo com esse debate da questão fiscal, que é um debate importante, o controle da inflação também interessa ao setor produtivo, mas a sociedade brasileira tem também claros interesses em manter um ambiente macroeconômico que privilegie o investimento, que assegure o crescimento econômico, que assegure o crescimento do emprego, o bem-estar da população, porque esse é o objetivo maior de todos nós. Não há justificativa para esse cenário que está sendo colocado. É um ataque especulativo contra a economia brasileira. Nós precisamos de mais serenidade, de mais prudência, entender que há um avanço importante na questão fiscal e que isso certamente vai projetar para o próximo ano, se houver bom senso do Banco Central, um ambiente mais favorável para investimento produtivo, para geração de emprego, para crescimento econômico.”