Defesa da solidariedade contra a desigualdade entre os povos prevalece na Cúpula do G20

Lula de braços dados com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa (Ricardo Stuckert)

Sem a presença dos EUA, países declaram que a lógica do predomínio unipolar deve ser rompida

Os chefes de Estado e de governo das vinte maiores economias do mundo – com exceção dos EUA, que boicotaram explicitamente o evento – defenderam ações comuns pela transição energética, por uma política de combate às mudanças climáticas e condenaram as desigualdades sociais, em aberta contrariedade às posições adotadas pelo governo Trump.

Sob o tema “solidariedade, igualdade e sustentabilidade”, a 20ª Cúpula de Líderes do G20, realizada em Joanesburgo (África do Sul), reuniu neste sábado e domingo (22 e 23), 18 países e representações da União Europeia e da União Africana, Os países reunidos no G20 representam 85% do PIB global e cerca de dois terços da população mundial, dando passos importantes na cooperação. A ausência dos EUA ajudou muito na consolidação desta caminhada contribuindo com a adoção gradual de mecanismos multilaterais, rompendo com uma lógica unipolar e partindo em direção a estruturas mais inclusivas que reflitam melhor a diversidade de interesses.

“A adoção da Declaração da Cúpula envia um sinal importante ao mundo de que o multilateralismo pode e consegue alcançar resultados”, afirmou o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Fazendo menções implícitas à ausência dos EUA na cúpula, Ramaphosa defendeu uma ação integrada do G20 na busca da implementação de políticas públicas na busca do desenvolvimento comum. De acordo com representantes sul-africanos, Trump deixou claro ao longo do ano que vetaria qualquer tipo de menção a um comportamento em relação a medidas como a adoção da energia renovável.

“Não devemos permitir que nada diminua o valor, a importância e o impacto da primeira presidência africana do G20”, afirmou Ramaphosa, colocando por terra a alegação de Trump de que não participaria do evento pelo fato da maioria negra do país anfitrião perseguir sua minoria branca. A mesma preocupação não foi adotada pelos EUA durante décadas de apartheid, onde os negros eram confinados em bantustões, isolados e massacrados pela política racista.

O governo norte-americano não apenas decidiu ignorar o evento, como também determinou que nenhuma autoridade do país fosse à Joanesburgo, dando as costas a qualquer enfoque divergente. O boicote estadunidense tentou pôr em xeque até mesmo o futuro do grupo – que adota todas as decisões por consenso -, fazendo com que um representante da Casa Branca declarasse cinicamente que uma posição sem a sua participação era “uma vergonha”. Na prática, dita “autoridade” buscava blindar Trump de ter de ouvir críticas às suas recentes condutas.

LULA DEFENDE COMBATE À DESIGUALDADE

Presente ao evento, o presidente Lula condenou reforçou o multilateralismo, frisando a necessidade do bloco trabalhar de forma integrada para resolver conjuntamente tensões como a do Sudão e a de Gaza, alertando que o combate à desigualdade deveria ser declarada uma emergência global.

Como se não bastasse esta postura execrável, o presidente estadunidense vem atuando para minar de todas as formas o multilateralismo e as organizações que o representam, como o G20, na tentativa de perpetuar a explorações dos países pobres – como são a maioria dos africanos – pelas potências centrais, visando a manutenção de relações neocoloniais. Entre os exemplos denunciados pelo G20 encontra-se os níveis abusivos do serviço da dívida, que mantêm nações inteiras impedidas de crescer e se industrializar, para perpetuar a parasitagem do sistema financeiro dos EUA e das potências europeias.

Pelo fato da ausência do principal beneficiário do assalto às suas riquezas, os anfitriões conseguiram pela primeira vez em um G20 a aprovação de um documento bastante claro e específico sobre a exploração e beneficiamento de minerais críticos. Na sua redação, lembraram que são detentores de reservas desses minerais e devem ter apoio para beneficiá-los no seu próprio território, a industrializá-los, gerando emprego e renda, movimento estratégico para impulsionar o crescimento soberano da economia desses lugares.

A avaliação é que da África ao Sul da Ásia, e da América Latina ao Sudeste Asiático, países do Sul Global lutam contra o endividamento excessivo, a vulnerabilidade climática e a transição industrial. “O que buscam do sistema internacional não é caridade, mas um ambiente mais equitativo para se desenvolverem”, aponta a reportagem do Global Times.

Outro ponto essencial, diante de ameaças e provocações como a do governo dos Estados Unidos contra a Venezuela, é o respeito à Carta das Nações Unidas. Em conformidade com as suas determinações, assinalam em sua declaração final, que “exortamos todos os Estados a absterem-se da ameaça ou do uso da força para buscar a aquisição territorial que viole a integridade territorial, a soberania ou a independência política de qualquer Estado”.

O documento conclama também à promoção de “relações amistosas entre as nações, inclusive por meio da promoção do respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, idioma ou religião”. “Somente com a paz conseguiremos a sustentabilidade e a prosperidade”, enfatizaram. 

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