“Ele não é louco, foi decisão política”, disse Luiz Mandetta, ex-ministro da Saúde. Ele deixou o cargo em 16 de abril de 2020 diante da postura negacionista do ex-presidente. Ele foi o primeiro ministro da Saúde de Bolsonaro
Após a suspensão do nível máximo de alerta global para a Covid-19, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta avalia que as decisões tomadas pelo antigo chefe, ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sobre a pandemia foram racionais e políticas.
Em entrevista ao jornal Estado de Minas, o médico criticou a forma como o ex-presidente conduziu a questão sanitária no país.
“As pessoas acham que ele é louco, mas foi decisão política, com começo, meio e fim. Foi decisão deliberada e consciente, porque informei por escrito e avisei qual era a projeção de mortes nesse cenário de confusão informacional e de falta de coordenação de Brasília, caso fosse adotada a tese da ‘imunidade de rebanho’, dentro da máxima do [então ministro da Economia] Paulo Guedes, de que entre economia e saúde, ficaria com a economia”, afirmou Mandetta.
Mandetta foi demitido do cargo de ministro após pouco mais de 1 ano à frente da pasta, em 16 abril de 2020, após se recusar a seguir a linha negacionista criminosa de Bolsonaro sobre a pandemia.
CAOS INFORMACIONAL
Na visão do médico, 350 mil mortes, cerca de metade do total de mortes oficiais, poderiam ter sido evitadas no Brasil caso o então presidente da República não tivesse politizado o tema e difundido o caos informacional.
Segundo o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, a doença não é mais considerada emergência sanitária de alcance internacional.
Adhanom é biólogo e acadêmico. É autoridade mundial em saúde pública. É também pesquisador da malária reconhecido internacionalmente e doutor em saúde comunitária, é o diretor-geral da OMS, desde 2017.
Mandetta foi o primeiro nome a assumir o Ministério da Saúde sob a gestão Bolsonaro no Palácio do Planalto. Após a demissão dele, o médico oncologista Nelson Teich ocupou a cadeira durando menos de 1 mês. Por divergências similares com o presidente deixou a pasta.
No lugar dele, assumiu o então general da ativa do Exército, Eduardo Pazuello, que ficou à frente da pasta entre maio de 2020 e março de 2021.
CAOS PAZUELLO
Sob Pazuello, o Ministério da Saúde oficializou medidas como o uso da cloroquina como tratamento da Covid-19 e o país viveu o período mais crítico da pandemia, acumulando recordes na média de mortes causadas pela doença.
Pressionado por parlamentares, Bolsonaro demitiu o militar e, no lugar dele, escalou o médico Marcelo Queiroga, que foi quarto e último ministro da Saúde.
Na visão de Mandetta, Pazuello chegou ao ministério por meio de intervenção que tinha como objetivo ter na pasta nome subserviente ao presidente da República, como forma de gerenciar a pandemia ao gosto do negacionismo, que Bolsonaro privilegiou, como forma de agradar a base eleitoral dele.
‘INTERVENÇÃO NO MINISTÉRIO DA SAÚDE’
O ex-ministro declarou que a nomeação de Pazuello, da área de logística do Exército, como ministro, significou uma “intervenção” com o que tem de “mais desqualificado” na pasta. “Se o Exército tem generais da área da saúde, por que não colocaram um deles?”, ponderou Mandetta. Médico, o ex-ministro foi 1º tenente do Exército antes de ser deputado federal.
“Porque queriam uma pessoa servil, e sem compromisso com o combate à Covid-19. […] Foi uma decisão política que levou muitas pessoas à morte. E não foi decisão política tomada sem ter sido avisado”, denunciou o ex-ministro.
“Fizemos três cenários, e o cenário mais pessimista que projetamos, foi exatamente aquele que Bolsonaro escolheu: o caos informacional e a desarticulação do sistema de saúde. Bolsonaro foi para esse cenário de forma completamente consciente. E eu mandei por escrito”, disse Mandetta.
Com mais de 701 mil mortes, o Brasil é o segundo país que mais registrou óbitos pela Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, que tiveram mais de 1,1 milhão de perdas pelo novo coronavírus. Em todo o mundo, foram 6,9 milhões de mortes.
É bem possível que esse número de mortes no Brasil esteja subestimado, em razão da subnotificação por mortes ocasionadas pelo vírus da Covid-19.
M. V.