
Cena retrata fielmente a condição de Estado Pária de Israel no mundo, análoga à vivida pela África do Sul do Apartheid. Das quase 200 delegações, só ficaram oito.
O plenário da 80ª. Assembleia Geral da ONU se esvaziou nesta sexta-feira (26) diante da acintosa presença do genocida – cujo mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional segue em vigor – Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, cena que é em si uma expressão gráfica da cada vez mais evidente condição de Estado pária aos olhos da humanidade.
Ficaram no plenário apenas as delegações dos seguintes países: Estados Unidos, Reino Unido, Noruega, França, Itália, Espanha, Finlândia e Suíça, além de uma comitiva da União Europeia.
A comitiva do Brasil, que usava os tradicionais lenços palestinos Kafieh, também deixou o local. A ONU tem 193 países-membros, dos quais 80% já reconhecem a Palestina. É o segundo ano consecutivo em que o plenário da Assembleia Geral da ONU se esvazia à chegada do chefe do genocídio em Gaza.
A retirada de dezenas de delegações se fez em meio a estrondosas vaias a Netanyahu, cena que retrata o repúdio do mundo inteiro à reedição, por Israel, contra os palestinos, do genocídio dos judeus perpetrado pelos nazistas, e adicionando ao supremacismo racista a fixação pelo “espaço vital”. Ou “Eretz Israel”, na versão século 21, como recentemente lembrado como “projeto histórico” pelo próprio Netanyahu.
Veja a retirada no vídeo produzido pelo Guardan:
Ao que se somam requintes de perversidade como matar de fome crianças, mulheres e idosos, bloqueando a comida e, ainda, remédios e combustível; mandar atirar nos famintos atraídos para os quatro centros de “distribuição”; arrasar até o chão Gaza, bombardear hospitais, destruir escolas e abrigos, e assassinar jornalistas e socorristas.
Manifestantes, muitos deles judeus, protestaram contra o genocídio, diante da sede da ONU em Nova Iorque e em frente ao hotel onde está hospedado. Netanyahu sequer escapou, mesmo em Israel, no aeroporto Ben Gurion, da ojeriza de familiares dos reféns, por decretar a morte destes com seu assalto final à Cidade de Gaza e recusa a qualquer acordo de cessar-fogo.
Insultando o mundo e perseverando na autoincriminação, Netanyahu insistiu em se gabar de crimes hediondos, como o assassinato, com pagers, de civis e líderes libaneses, os bombardeios ao Iêmen, Síria, Iraque e Irã – embora silenciando sobre a agressão ao Catar, o país mediador. Voltou a exibir seu mapa do “Oriente Médio amaldiçoado”.
Do plenário esvaziado, encenou dirigir-se “aos reféns”, supostamente graças a autofalantes na invadida Cidade de Gaza. O que, provavelmente, soará para estes – e seus familiares – como um cínico e macabro aviso de que a “Diretriz Hannibal” está chegando.
Netanyahu disse ainda que o “trabalho em Gaza ainda não acabou” – isto é, o genocídio e a deportação em massa. Possivelmente para instaurar uma Riviera sobre Cadáveres, como alardeiam impunemente, configurando a intenção de latrocínio.
Voltou à surrada tese de que o Estado palestino seria um “prêmio” aos “terroristas”, como se a decisão da ONU de 1948 fosse apenas a aprovação a Israel e não, como de fato, a criação de Israel e de um Estado Palestino, esta ainda por cumprir.
Ele agradeceu a Trump pelo ataque ao Irã – aliás, repetindo a traiçoeira manobra de pressionar o outro lado a se reunir para decidir sobre uma proposta de acordo apresentada e inadiável, buscando a decapitação da liderança do “inimigo”.
Fez a mais descarada apologia de que Israel está acima das leis internacionais e das normas de convivência humanas.
Apesar de toda essa arrogância ao longo de quarenta minutos e esforço para sugerir que a impunidade de Israel não será detida, o discurso é contradito por sua recente declaração, chamando Israel a se preparar para viver seu “Momento África do Sul (do Apartheid) de isolamento generalizado perante a humanidade. O que fez, alucinadamente, propondo aos israelenses como “saída” sua metamorfose para uma “Super Esparta”. Ou um Estado-gueto, observariam atentos analistas da questão.
Para não ofender o ego do cúmplice Trump, Netanyahu limitou suas confissões e arreganhos a 40 minutos. Após o término de seu odiento discurso, as delegações voltaram ao salão para retomar a reunião conforme programado.