O hacker Walter Delgatti Neto confirmou que Jair Bolsonaro “sabia” e “solicitou” que fosse inserido no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), após uma invasão, um mandado de prisão falso contra o ministro Alexandre de Moraes.
Delgatti prestou depoimento por videoconferência para a CPI dos Atos Antidemocráticos que acontece na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Quando invadiu o sistema do CNJ, o hacker inseriu um mandado de prisão contra Moraes, cujo texto era encerrado dizendo “faça o L”.
Questionado no depoimento se Bolsonaro sabia do crime, respondeu: “Tanto sabia, quanto solicitou esse feito”.
Walter Delgatti Neto ficou conhecido por sua participação na “Vaza Jato” e foi contactado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP) para participar dos ataques contra as urnas eletrônicas que estavam sendo instigados pelo governo Bolsonaro.
A deputada prometeu um emprego para Delgatti e realizou pagamentos que totalizaram R$ 40 mil.
“A Carla e o Bolsonaro queriam um jeito de mostrar que o sistema era vulnerável. Eu me lembro que a mensagem” com o texto que deveria ser inserido no sistema do CNJ “veio como encaminhada, então ou ela redigiu em outro celular e encaminhou ou alguém redigiu e encaminhou pra ela”.
Um dos planos era que Walter Delgatti produzisse um código-fonte falso para ser usado em uma peça de propaganda no dia 7 de setembro de 2022. Na propaganda, seria inserido o voto em um candidato, mas a urna iria registrar o voto em outro.
“Eles queriam que eu fizesse um código” falso para depois mostrar “inserindo um voto e imprimindo outro”, relatou.
“Eu ouvi do Duda Lima”, marqueteiro que fez a campanha de Bolsonaro, “que ser possível alterar o voto é uma coisa, mas o povo vendo sendo alterado é outra”. O plano deu errado porque eles não conseguiram uma urna eletrônica para ser usada.
Ao ser questionado pelo relator da CPI, deputado Hermeto (MDB), o hacker afirmou que acredita haver um vínculo entre as movimentações para descreditar as urnas eletrônicas e os ataques do dia 8 de janeiro, e que enxerga uma nítida participação do ex-presidente neste processo.
“A ideia era o caos. Desde antes, a ideia dele [Bolsonaro] caso não ganhasse, era causar um caos a ponto de ser refeita a eleição ou então de continuar no poder sem ser por meio democrático, acredito”, afirmou Delgatti.
Ainda na CPI dos Atos Antidemocráticos, Walter Delgatti voltou a dizer que Jair Bolsonaro lhe deu “carta branca” para agir contra as urnas.
Depois disso, “fui até o Ministério da Defesa e tive, além da autorização do presidente, da carta branca, tive [a autorização] do Ministério da Defesa”. Ele esteve, segundo conta, cinco vezes no Ministério para conversar com técnicos que buscavam brechas nas urnas eletrônicas para acusar as eleições de fraude.
A “carta branca foi dada no encontro no [Palácio da] Alvorada e de forma tácita e expressa, no encontro no posto de combustível [com Carla Zambelli]”, disse Walter.
O depoimento aconteceu de maneira remota porque o hacker está preso desde o dia 2 de agosto, exatamente no contexto das investigações sobre a invasão aos sistemas do CNJ.
ZAMBELLI
Durante o depoimento, em resposta ao deputado Gabriel Magno (PT), Delgatti afirmou que, durante as apurações do segundo turno das eleições de 2022, a deputada Zambelli entrou em contato com ele pedindo para que ele atacasse o sistema do TSE para derrubar a apuração. “No segundo turno, a Carla Zambelli me ligou e perguntou se eu conseguiria fazer um ataque DDoS que derrubasse o sistema que enviava os votos naquele dia. Eu disse que, em cima da hora, eu não tinha ferramentas para executar”, afirmou.
Ataque DDoS é uma invasão hacker com o objetivo de exceder a capacidade que o site tem de lidar com diversas solicitações, impedindo seu funcionamento correto.