Demanda fraca e tarifaço fazem PIB do Japão encolher 1,8% no terceiro trimestre

Carros japoneses têm queda nas vendas e lotam parques das montadoras e dos portos (Kyodo)

A economia japonesa caiu 1,8% anualizado no terceiro trimestre de 2025 (de julho a setembro), interrompendo seis trimestres consecutivos de crescimento, segundo dados oficiais divulgados nesta segunda-feira (17). Em relação ao trimestre anterior, a queda foi de 0,4%.

A contração foi puxada pela redução das exportações, que diminuíram 4,5% em meio ao tarifaço de Trump, e pelo fraco desempenho da demanda interna.

As montadoras, um pilar da indústria japonesa, viram seus envios despencar. O efeito sobreposto das tarifas dos EUA elevou ainda mais os custos das exportações japonesas, minando diretamente sua competitividade no mercado norte-americano e forçando as montadoras a absorverem parte do impacto reduzindo preços, de acordo com a mídia japonesa.

Também o investimento em habitação recuou no Japão, devido a novas regras de eficiência energética.

Dados do Gabinete do Japão indicaram que o consumo privado, que representa mais da metade da produção econômica, cresceu 0,1%. Isso representou uma desaceleração em relação a 0,4% no segundo trimestre, indicando que os altos custos de alimentos aumentaram a relutância dos consumidores em gastar, segundo o relatório.

O índice de preços ao consumidor núcleo de Tóquio subiu 2,8% ano a ano em outubro, permanecendo acima da meta de inflação de 2% do Banco do Japão, segundo dados preliminares divulgados pelo Ministério do Interior e Comunicações do Japão na sexta-feira.

Em particular, os preços dos alimentos aumentaram 6,7% em relação ao ano anterior. O Ministério da Agricultura anunciou na sexta-feira que os preços do arroz continuaram quebrando recordes, com o preço médio no varejo (5 quilos) subindo para 4.316 ienes (US$ 27,90) durante a semana de 3 a 9 de novembro, um recorde desde maio.

Por outro lado, segundo o Asia Times, em setembro, os salários reais japoneses caíram pelo nono mês consecutivo, já que a inflação superou o salário nominal. “Naquele mês, o salário nominal médio, ou ganhos totais em dinheiro, subiu 1,9% ano a ano, para 297.145 ienes (US$1.922). Isso ficou bem aquém de um aumento de 3,4% nos preços ao consumidor no mesmo mês”.

Assim, enquanto o impulso interno de crescimento da economia japonesa está enfraquecendo, o ambiente externo se torna cada vez mais complexo e severo.

Notavelmente, em meio a essa crise econômica mais ampla, se destacam como pontos positivos o setor de turismo e o desempenho do mercado de ações do Japão. Até agora neste ano, o índice de ações Nikkei 225 do Japão subiu mais de 28%, enquanto o turismo permaneceu robusto.

No entanto, o principal fator por trás dessas tendências positivas é o iene fraco. O iene caiu cerca de 4,5% em relação ao dólar até agora neste trimestre, o maior número entre seus pares do Grupo dos 10, segundo a Bloomberg.

Embora um iene mais fraco tenha atraído muitos turistas estrangeiros e muitos investimentos estrangeiros, injetando vitalidade externa de curto prazo na economia japonesa, também teve um custo alto para um país fortemente dependente de importações de recursos.

Os preços vertiginosos de energia, alimentos e outras matérias-primas importadas foram repassados aos consumidores domésticos, corroendo ainda mais o poder de compra das pessoas.

Isso destaca uma contradição fundamental: um fator que faz o Japão parecer “atraente” para os mercados externos está silenciosamente minando os alicerces de sua economia doméstica.

Pior ainda, quando a demanda externa é forte, um iene fraco pode impulsionar as exportações e mascarar fraquezas subjacentes no consumo e investimento internos. Mas quando a demanda externa desacelera, essa fragilidade interna se torna uma grande restrição ao crescimento.

Para o Asia Times, outra preocupação se coloca: “uma queda contínua desencadearia uma intensa volatilidade do iene e o desmantelamento do chamado ‘yen-carry trade’. Vinte e cinco anos mantendo as taxas em, ou próximas, de zero transformaram o Japão na maior nação credora do mundo”.

“Por décadas, fundos de investimento tomaram empréstimos baratos em ienes para apostar em ativos de maior rendimento ao redor do mundo. Por isso, movimentos repentinos do iene devastam os mercados praticamente em todos os lugares. Tornou-se um dos ofícios mais concorridos do mundo, especialmente propenso a correções acentuadas”.

A publicação também se referiu ao “dilema do BOJ”, o BC japonês: “Aumentando demais as taxas, o BOJ será culpado pela recessão que está por vir. Aumentar os custos de empréstimos muito lentamente, a inflação deste ano se torna enraizada”.

Note-se que a primeira vez em muito tempo que o Japão aumentou a taxa de juro foi em janeiro, para 0,5%, o que significa que continua praticando juros negativos. Registre-se que a relação dívida/PIB, que era 39% em 1990 chegou a 100% no início dos anos 2000, o que dobrou em 2011 e atualmente já é maior que 250%.

Também pesam sob o Japão as leoninas exigências do governo Trump para moderar seu tarifaço contra as montadoras japonesas, que incluiu uma promessa de investir US$ 550 bilhões nos EUA até o final do segundo mandato do biliardário.

Na semana passada, o ministro da Revitalização Econômica, Minoru Kiuchi, afirmou que “é necessário desenvolver políticas econômicas e fiscais (…) que sejam adaptadas às novas condições econômicas, como as tendências inflacionárias” e revelou ter sido orientado pela premiê Sanae Takaichi “a trabalhar arduamente como coordenador das medidas econômicas para ‘transformar a ansiedade em relação ao futuro em esperança'”.

Essa situação levou o jornal chinês em língua inglesa, o Global Times, a observar, comentando as imprudentes declarações de Takaichi sobre Taiwan, que em tal contexto precário, qualquer movimento político que possa agravar a incerteza externa exige alta vigilância. E essas graves declarações, concluiu, “estão, sem dúvida, adicionando riscos desnecessários à já frágil economia japonesa”.

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