Menos de 24 horas após ter perdido o controle da Câmara dos Deputados, o presidente Donald Trump demitiu seu ministro da Justiça [‘procurador-geral’, no jargão norte-americano], Jeff Sessions, que enviou carta renunciando “a pedido”.
Trump agradeceu pelo Twitter ao demitido e lhe desejou boa sorte. O presidente anunciou que o chefe de gabinete de Sessions, Matthew Whitaker, atuará como procurador-geral em exercício, até que seja encontrado um substituto.
Na carta de demissão, Sessions se gabou de ter feito sua parte “para restaurar a imigração” – aquela separação à força das crianças dos pais sumariamente deportados que chamou de “tolerância zero” – e se disse “honrado” de ter trabalhado para implementar “a agenda de aplicação da lei” de Trump. Coube também a Sessions o triste papel de algoz das cidades-santuário, que protegem os imigrantes ilegais, através do corte dos fundos federais, que depois foram considerados ilegais por tribunais.
Trump, que várias vezes tornou públicas suas repreensões a Sessions por este ter se declarado impedido de encabeçar a supervisão da investigação de Robert Mueller do suposto “Russiagate” – o “complô com Putin em 2016” -, possivelmente deseja ter na retaguarda alguém mais confiável, na medida em que a perda da Câmara para os democratas significa que cada ato seu começará a ser observado com lupa pela bancada oposicionista e há ameaças até mesmo de abrir processo de impeachment.
Em agosto, circulou na Câmara fornida lista de razões para colocar o laço no pescoço de Trump, que vão desde os negócios da família, até ao descaso com o furacão em Puerto Rico, às declarações de imposto de renda.
Em fevereiro, uma tuitada de Trump indagava: “se toda a intromissão russa ocorreu durante o governo Obama, até 20 de janeiro, por que eles não são objeto de investigação?” “Por que Obama não fez algo sobre a intromissão? Por que os crimes dos Dem não estão sendo investigados?”, continuou cutucando, para ele mesmo responder: “Pergunte a Jeff Sessions”.
Trump não escondia considerar Sessions o responsável por abrir o espaço para a nomeação de Mueller, que encetou um cerco a vários dos seus auxiliares mais próximos, sempre acusando-os de algum mal feito passado, sem ligação com a campanha presidencial, mas os levando a fechar acordos para contar o que sabiam sobre o conluio. Até o advogado pessoal de Trump por anos, considerado seu quebra-galho, mudou de lado.
Com o autoimpedimento de Sessions, a supervisão de Mueller ficou a cargo do vice-procurador-geral, Rod Rosenstein, cuja demissão chegou a ser aventada várias vezes, mas desmentida por Trump no mês passado. Já Whitaker, no passado, fez críticas à atuação do investigador especial.
Os democratas reagiram à renúncia de Sessions, com seu líder no Senado, Chuck Shumer, considerando “muito suspeito” o momento de saída do procurador-geral. Ele ameaçou desencadear “uma crise constitucional” se a demissão de Sessions se tornar um “prelúdio” para encerrar ou conter a investigação de Mueller.