Após as denúncias de assédio sexual contra o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, novas revelações de assédio moral e perseguição política foram reveladas na última semana.
De acordo com reportagem do G1, o Ministério Público do Trabalho, ainda em 2020, recebeu denúncias de cerca de 500 funcionários, ex-gestores do banco, afirmando que foram rebaixados de função ou transferidos a postos de trabalho distantes de suas casas para forçá-los a aderir ao plano de demissão voluntária (PDV), anunciado à época.
Também nesta semana, em reportagem do Globo, servidores da Caixa relataram a perda de cargos como forma de retaliação após a apuração de filiação partidária dos funcionários.
De acordo com o advogado do banco, Sebastião Barza, era como uma “lista de pessoas que não eram desejadas”. Barza perdeu o cargo de assessor jurídico em fevereiro de 2020, após a descoberta de que ele se filiou ao PT em 1997 – antes mesmo de entrar no banco. Apesar de garantir nunca ter feito militância política na Caixa, e dizer que se desfilou do partido, Barza relatou ter ouvido que ele iria para outro prédio para evitar o encontro de Pedro Guimarães “com esquerdistas”. Após a perda de função, Barza voltou para a Bahia, seu estado de origem.
“O que me foi dito é que, em razão disso [da filiação ao PT], eu perderia minha função de consultor jurídico, porque não se admitiriam esquerdistas dentro da matriz. E que, para dar continuidade ao meu trabalho, teria que continuar em outro prédio, para que o presidente e as outras pessoas não topassem com esquerdistas nos corredores”, declara Barza.
O advogado afirma que o medo de retaliações impediu a formalização de denúncias à época. “Esse medo coletivo, em uma fase em que o governo estava forte, foi o que determinou que as pessoas se calassem e não denunciassem. Nós intuímos que isso seria abafado, pela força do governo na época e pela tônica. E que isso poderia se voltar contra a gente. Agora que estourou, que o Pedro Guimarães caiu, as pessoas podem tomar um pouco mais de coragem”, disse.
O procurador responsável pelos processos, Carlos Eduardo Carvalho Brisolla, afirma que está reunindo provas desde dezembro de 2020. “No atual momento, estou em fase de oitiva de testemunhas, aberto a quem quiser vir depor”. A ConTraf [Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro] e a Fenae [Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal] foram admitidas no feito e estão apresentando alegações”, informa.
Em nota, o MPT destacou que a investigação teve início durante o período mais crítico da pandemia da Covid-19. “Além disso, muitos documentos do procedimento encontram-se sob sigilo, a fim de se preservar, especialmente, a identidade e os dados pessoais dos empregados. O tema exige análise ampla e oitiva de várias testemunhas para que se possa adotar as providências cabíveis, de acordo com a conclusão alcançada pela valoração das provas colhidas”, diz nota.