A 8ª reunião da CPI foi com o gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo. As informações prestadas confirmam que, se o governo não tivesse ignorado a proposta da empresa e editado medida provisória para dar segurança jurídica ao contrato, a vacinação no país poderia ter se iniciado em dezembro do ano passado. “Se nós tivéssemos adquirido essa vacina e começássemos a vacinação no dia 14 de dezembro, quantas vidas, dessas 428.256, não teriam sido salvas?”, indagou o vice-presidente da Comissão, senador Randolfe Rodrigues.
O gerente-geral da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, afirmou que a farmacêutica fez em 14 de agosto de 2020, a primeira oferta de venda de vacinas para o Ministério da Saúde. Murillo foi o depoente da sexta oitiva na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, no Senado, nesta quinta-feira (13).
No depoimento, ele disse que eram dois tipos de ofertas, de 30 ou 70 milhões de doses do imunizante, que estava em desenvolvimento, com as mesmas condições de compra.
Segundo Murillo, em 18 de agosto, a Pfizer voltou a fazer as ofertas de 30 e 70 milhões de vacinas, mas naquele momento havia quantitativo adicional para o Brasil ao final de 2020. Houve, segundo ele, uma terceira oferta em 26 de agosto, com os mesmos números de doses. Também naquela ocasião, a Pfizer havia conseguido um pouco mais de unidades para o primeiro trimestre de 2021.
Ainda segundo Murillo, as negociações eram feitas com o Ministério da Saúde. As primeiras reuniões ocorreram em maio e junho. Eram encontros exploratórios em que a Pfizer compartilhou o status de desenvolvimento da vacina. Em 16 de julho, a empresa forneceu ao Ministério da Saúde “expressão de interesse” de fazer negócio com o governo brasileiro, disse Murillo.
Então, em 6 de agosto, a pasta manifestou “possível interesse” no imunizante da farmacêutica, relatou Murillo. “Como consequência, no dia 14 de agosto oferecemos nossa primeira oferta, vinculante”, disse.
FUTURO DO PRETÉRITO DO INDICATIVO
O trágico tempo verbal que vive o país diante da calamidade sanitária e de saúde, em razão de a pandemia do coronavírus já ter levado a óbito, oficialmente, mais de 428 mil brasileiros, até esta data.
O Brasil poderia ter aplicado 17,62% mais vacinas contra a Covid-19 até março, se a proposta de fornecimento do imunizante apresentada ao governo Bolsonaro em 26 de agosto de 2020 tivesse sido aceita. Mas como o governo simplesmente ignorou as ofertas, não houve acordo, segundo o diretor geral da Pfizer.
Em depoimento, Murillo afirmou que a farmacêutica apresentou pelo menos seis propostas ao governo Bolsonaro entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021, mas que o acordo só foi assinado em março deste ano.
Pelas propostas, o Brasil poderia receber as primeiras doses da vacina contra a Covid da Pfizer ainda em dezembro do ano passado. Mas, como as propostas não foram aceitas, as primeiras doses só foram entregues no segundo trimestre deste ano.
O Brasil deve receber 14 milhões de vacinas da Pfizer até 30 de junho. Pela proposta de agosto, seriam 18,5 milhões de doses entregues até a mesma data.
REUNIÃO COM WAJNGARTEN E GUEDES PARA TRATAR DE VACINA
Murillo afirmou à CPI que se reuniu com o ex-secretário de comunicação Fabio Wajngarten e com o ministro da Economia, Paulo Guedes para discutir questões relacionadas à vacina.
“Nessa ocasião [17 de novembro], eu estive nessa reunião com o Sr. Fabio Wajngarten e dois representantes da Secom. No dia 12 de setembro, duas pessoas, nossa diretora jurídica e nossa diretora da área corporativa, estiveram em uma reunião com o sr. Fabio Wajngarten e representantes da Secom”, disse Murillo.
O executivo afirmou também que a Pfizer teve contato com representantes do Ministério da Economia, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), alguns deputados e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para tratar das vacinas.
À CPI, Murillo disse que as negociações foram feitas com o Ministério da Saúde e justificou que as conversas com o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten aconteceram porque havia o entendimento “de uma possível coordenação dele”.
“Nossa negociação foi com o Ministério da Saúde. As conversações com o sr. Fabio Wajngarten, em nosso entendimento, foram de uma possível coordenação dele, mas nós não conhecemos o funcionamento”, disse.
“QUANTAS VIDAS PODERIAM TER SIDO SALVAS”
“Então, três países da América Latina, Chile, Costa Rica e México, iniciaram a vacinação. Em 14 de dezembro: Chile, Costa Rica e México. Poderia ter sido Chile, Costa Rica, México e Brasil, poderia ter sido”, ponderou Randolfe.
“É uma pergunta elementar e eu não a estou fazendo para o senhor [o depoente], mas é uma pergunta sobre a qual se deve refletir nesta CPI: se nós tivéssemos adquirido essa vacina e começássemos a vacinação no dia 14 de dezembro, quantas vidas, dessas 428.256, não teriam sido salvas?”, questionou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). E emendou: “É uma pergunta elementar.”
“Não estamos falando só de Estados Unidos e de Reino Unido, estamos falando de três países da América Latina, com economias inferiores à nossa. Estamos falando do México, da Costa Rica e do Chile, economias infinitamente inferiores à nossa, e são países que não têm um plano nacional de imunização, que não têm um sistema único de saúde tal qual nós temos aqui”, acrescentou.
“Então, é só este registro, que eu considero muito importante para demonstrar algumas argumentações falaciosas que pairam aqui, da parte de alguns colegas da CPI”, asseverou Randolfe.
O senador confrontava-se com alguns governistas que afirmaram, falaciosamente, na reunião que não haveria condições do Brasil fazer uso do imunizante da Pfizer em 2020 pois o mesmo só foi aprovado pela agência reguladora dos EUA no início de dezembro, algo que foi, inclusive, informado ao governo brasileiro, precisamente, no dia 7 de dezembro, pelo embaixador norte-americano.
Portanto, como bem assinalou o senador Randolfe, se, naquele momento, o contrato já tivesse sido assinado e se o governo houvesse providenciado o marco legal para amparar a aquisição, através de medida provisória, dias depois, com a anuência da Anvisa, a vacinação poderia ter sido iniciada no país, o que só aconteceu mais de um mês depois, em janeiro, com a aplicação das primeiras doses da Coronavac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, em parceria com a Sinovac chinesa.
Randolfe, então, perguntou ao depoente: “Até o Brasil firmar o contrato, que foi agora no mês de março, quantos países já haviam firmado?”
“Não tenho o dado exato, senador, mas posso conseguir. Prefiro, realmente, procurar essa informação para dar a Vossa Excelência o dado exato”, respondeu o representante da Pfizer.
“Nós temos informação extraoficial, não sei se o senhor pode confirmar ou não, de que mais de 60 países, até janeiro ou fevereiro, teriam”, completou Randolfe, demonstrando de forma cabal – e mais uma vez – a negligência do governo com a vacina.
M. V.