Delgatti disse que o ex-presidente prometeu indulto e pediu para ele invadir o sistema das urnas. Senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI, aponta o ex-chefe do Executivo como autor de gravíssimo cometimento de crime e quer quebra de sigilos
A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI do Golpe, no âmbito do Congresso Nacional, declarou nesta quinta-feira (17), que o hacker Walter Delgatti Netto, ouvido nesta quinta, forneceu à comissão de inquérito elementos que dão “fortes condições” para considerar o pedido de indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao término dos trabalhos do colegiado.
Durante o depoimento, o hacker expôs esquema que envolveu o ex-presidente da República e colaboradores diretos, que visava manipular o resultado das eleições presidenciais de 2022, a fim de se manter no poder.
Indiciamento, é o ato formal, realizado eventualmente durante inquérito policial, no caso da CPI, quando a autoridade se convence de que determinada pessoa é a autora da infração penal. Antes do formal indiciamento, a pessoa é tratada apenas como suspeita ou investigada.
“ORDEM DE UM PRESIDENTE DA REPÚBLICA”
Delgatti, no depoimento, declarou que sabia que estava cometendo crime ao atuar contra o processo eleitoral, mas que agiu por “ordem de um presidente da República”.
O hacker afirmou, então, que, em reunião com Bolsonaro antes das eleições de 2022, o então presidente garantiu que concederia indulto a ele, caso fosse preso por ações sobre as urnas eletrônicas.
No depoimento, Delgatti declarou que o ex-presidente questionou se ele seria capaz de invadir as urnas eletrônicas para testar a “integridade” dos equipamentos.
GRAMPO EM MORAES
O hacker disse que ouviu que o entorno do então presidente já havia conseguido grampear Moraes e que Bolsonaro pediu a ele que “assumisse a autoria” do grampo.
Delgatti afirmou que, em reunião com assessores de Bolsonaro, pediram para ele criar “código-fonte” falso para sugerir que a urna eletrônica era vulnerável.
Ele disse que orientou técnicos do Ministério da Defesa a elaborar relatório sobre as urnas. O documento foi entregue ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em novembro de 2022.
Delgatti afirmou que a deputada Carla Zambelli (PL), mediadora entre ele e Bolsonaro, teria prometido a ele emprego na campanha à reeleição do então candidato Bolsonaro.
QUEBRA DOS SIGILOS DE BOLSONARO
A senadora Eliziane Gama declarou a intenção dela de solicitar a quebra dos sigilos de Bolsonaro. Até o momento, não houve requisições para a quebra de sigilo ou a convocação do ex-chefe do Executivo para comparecer à comissão.
“Eu diria que hoje os elementos apresentados a essa comissão nos dão fortes condições de, ao final, termos o indiciamento do ex-presidente Bolsonaro. Precisamos compatibilizar com as quebras que nós estamos defendendo que ocorra. Dentre elas as quebras de sigilos, os relatórios do Coaf e as quebras telemáticas”, afirmou a relatora.
“Nós vamos pedir além do telemático também os RIF [Relatórios de Inteligência Financeira], porque uma das perguntas que nós temos hoje no nosso plano de trabalho é ‘quem financiou?’ [os atos golpistas de 8 de janeiro]. Nós temos ‘quem pensou?”, ‘quem projetou?’, temos também ‘quem financiou?’”, afirmou Eliziane Gama em entrevista à GloboNews.
PF QUER OUVIR BOLSONARO E MICHELLE
Na última sexta-feira (11), a PF (Polícia Federal) solicitou a quebra de sigilos do ex-presidente Jair Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle.
Além de requerer que ambos prestem depoimento no âmbito do caso que envolve os presentes oficiais que foram ilegalmente negociados no exterior por assessores presidenciais.
O ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito, ainda não avaliou essas solicitações.