Como seus terroristas estão sendo corridos na Síria e a Coreia saiu bem na fita nos Jogos de PyeongChang, maníacos de guerra de Washington recebem uma mãozinha do The New York Times
Incontestável imperador das fake news há décadas, o New York Times, em artigo para Judith Miller nenhuma botar defeito, asseverou que “especialistas da ONU” afirmaram que “a Coreia do Norte vem enviando suprimentos para o governo sírio que poderiam ser usados na produção de armas químicas”, acrescentando adiante que “os EUA e outros países acusaram o governo sírio” de “usar armas químicas contra civis”, notadamente no “leste de Ghouta”, e citando o uso de “gás cloro” ali.
Mais adiante, o NYT alega que foram fornecidos “válvulas, termômetros e ladrilhos à prova de ácido”. O suposto relatório de “200 páginas”, que poderá ser ou não divulgado em março, foi convenientemente vazado para o NYT e outros jornais após o encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang, em que a Coreia Popular venceu o ‘ouro da diplomacia’ e isolou os maníacos de guerra de Washington, ao mesmo tempo em que se intensificavam indícios de nova provocação com gás tóxico em Ghouta, na Síria, num quadro de vitória à vista do governo Assad.
Após o desastre da invasão do Iraque, o NYT, para salvar a face, demitiu sua ‘jornalista’ (além de agente da CIA) Judith Miller, que entrevistava “ativos” da CIA para alardearem inexistentes “armas de destruição em massa de Sadam”, que logo viravam manchetes de capa, até o carniceiro W. Bush obter o cenário para o assalto ao petróleo iraquiano. Uma das historias mais ridículas era a dos “tubos de alumínio” para “centrífugas de urânio”, parte do “programa nuclear de Sadam” – tudo uma mentirada abjeta. Sintetizada na cena do então secretário de Estado Colin Powell, perante a ONU, com um vidrinho falso de antrax.
Também foi o NYT que deu ares de verossimilhança à fabricação do Pentágono do ‘incidente no Golfo de Tonkin’, o inventado “ataque norte-vietnamita” a dois navios de guerra americanos que serviu de pretexto para a escalada da guerra.
Como o New York Times fez um mea culpa de araque após a guerra do Iraque, não deixa de ser interessante destacar como manchetes essenciais para os tambores de guerra soarem eram apoiadas por alegações sem a mínima comprovação. Como no caso dos tubos de alumínio, de que o Iraque “tinha procurado comprar” “milhares de tubos de alumínio especialmente projetados” para as “centrífugas do seu programa nuclear”. Afinal, comprou, ou tentou comprar? (Depois da ocupação se soube que os canos eram para irrigação).
Sintomaticamente, o título da mais recente falseta do NYT é “ONU liga Coreia do Norte ao Programa de Armas Químicas da Síria”. O que foi ironizado por um analista como “NYT liga os dois vilões preferidos de Washington, Kim e Assad”. Há poucos dias Trump ameaçou a Coreia com a “fase 2” – estaria também pensando – ou a junta que manda enquanto ele tuita – em uma “fase 2” contra a Síria?
Na verdade, não é a ONU, mas um “painel de supostos especialistas”, criado sob a resolução 1718 do Conselho de Segurança, e que não faz parte do corpo da organização e incumbido de listar alegações trazidas por países membros sem julgar sua veracidade. Isso, na melhor das hipóteses, porque o comitê de acompanhamento das sanções contra o Iraque ficou conhecido por estar infestado de espiões da CIA e satélites (além do Mossad).
Conforme a Associated Press, a “informação” sobre a suposta visita de delegação técnica norte-coreana em agosto de 2016 veio de “outro estado membro”, que teria asseverado ainda que “técnicos coreanos continuam a operar instalações de armas químicas e de mísseis em Barzeh, Adra e Hama”. O que foi categoricamente desmentido pelo governo sírio.
Assim como os canos de alumínio para irrigação foram metamorfoseados pela mídia a serviço da CIA e do Pentágono em “tubos de centrífugas de urânio”, para montar o pretexto para a invasão do Iraque, agora vem a história das “válvulas, termômetros e ladrilhos resistentes a ácidos” – que poderiam ter muitos usos civis e quem sabe até alguns militares, mas o menos provável deles, o para armas químicas, na observação do site Moon of Alabama.
Aliás, segundo o relatório, um país teria asseverado que os ladrilhos suportariam “altas temperaturas”, enquanto para outro, seria “resistente a ácido”. Em suma, poderia ser qualquer coisa.
Como a cartada da “luta contra o Estado Islâmico” não sustenta mais a intervenção imperial na Síria, mesmo com esta tendo entregue seu arsenal de armas químicas, que destruído sob controle da Organização para Proibição das Armas Químicas, sempre que é dado algum passo para dar fim ao conflito na nação árabe, intensificam-se as provocações, pelos bandos terroristas e mercenários, com armas químicas rudimentares.
DESARME
A Síria abriu mão do arsenal de armas químicas, que era sua dissuasão contra as bombas atômicas de Israel, por proposta da Rússia, o que deteve ataque militar direto dos EUA ao governo legítimo da Síria, a que os neocons tentavam então empurrar Obama. Em 2013, a OPAQ testemunhou a destruição das armas químicas sírias. As provocações desses bandos terroristas são recompensadas por ataques como o de abril passado do governo Trump contra uma base síria e, agora, o presidente francês Macron, que ameaça se somar à intervenção no caso de suposto uso de armas químicas.
Não só a Síria não tem mais armas químicas, como está vencendo em todas as frentes sem elas, tem inteira compreensão de que elas são quase o único pretexto que restou aos imperialistas para novos crimes contra a Síria.
Entre as evidências da perfídia compartilhada entre a Síria e a Coreia Popular, o “relatório” cita envio de “rolamentos de esfera e cabos de fibra ótica”, por respectivamente 56.000 euros e 48.000, via o banco Tanchon. Se fuçarem bem, talvez achem algumas garrafas do precioso ginseng.
Em suma, trata-se de um “relatório” vazado para o NYT cometer seu papel usual de ventarola da máquina de guerra ianque. Ou quem sabe o NYT embarcou em uma marola cuja utilidade simplesmente é desviar a atenção do sufoco de Trump e seu desgoverno em Washington. Até seu genro teve a credencial rebaixada pela CIA.
ANTONIO PIMENTA