Estado sofre com tempestades há uma semana, 55 mortes já foram confirmadas
Até a noite desta quarta-feira (29), o estado de Minas Gerais já havia confirmado a morte de 55 pessoas em decorrência das chuvas no mês de janeiro. Mais de 50 mil pessoas estão desabrigadas ou desalojadas e perderam tudo, além de dezenas de pessoas que seguem desaparecidas. Em paralelo a esta situação, o governo Jair Bolsonaro, tem o menor gasto com prevenção de desastres naturais, enchentes e inundações dos últimos 11 anos.
De acordo com boletim da Defesa Civil, 44.929 pessoas estão desalojadas e 8.259 estão desabrigadas. Chove forte em todo o estado de Minas Gerais há uma semana, desde sexta-feira (24).
A morte mais recente registrada aconteceu em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, capital do estado. Trata-se de uma mulher arrastada pela enxurrada. Segundo boletim divulgado pela Defesa Civil de Minas Gerais nesta quarta-feira (29), o maior número de vítimas fatais foi registrado em Belo Horizonte, onde o total de mortos chega a 13. Em seguida vem Betim (6); Ibirité e Luisburgo (5, em cada). O registro é de que 42 pessoas morreram soterradas e 11 afogadas ou por outras causas, após serem arrastadas pelas águas.
Belo Horizonte tem estragos em diversos pontos. As regiões Barreiro, Centro-Sul e Oeste da cidade foram as mais atingidas. Janeiro, nem acabou e já é o mês mais chuvoso da história de Belo Horizonte desde o início da medição climatológica há 110 anos, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Até quarta-feira, o mês acumulou 932,3 milímetros de chuva na cidade, também de acordo com o Instituto nacional. O recorde anterior era o de janeiro do ano de 1985, quando o acumulado do mês foi de 850,3 milímetros.
101 cidades decretaram situação de emergência. Uma das regiões que foi duramente castigada pelas tempestades é a Zona da Mata.
Além, de perder suas casas e em muitos casos seus parentes, as pessoas precisam lidar com a falta de água que atinge municípios do interior, como Barra Longa, Ponte Nova e Raul Soares, justamente por causa das enchentes e do uso de mangueiras em excesso pelos moradores que tentam remover a lama de suas moradias e pertences.
A produtora de café Márcia Lourenço dos Reis, de 40 anos, mãe de dois adolescentes de 14 e 17 anos, moradora de Barra Longa, ficou em choque ao ver o Rio Matipó engolir sua casa, arrancando tudo que tinha de dentro e deixando apenas algumas paredes e o telhado. Aos poucos, ela reúne forças para resolver o que fazer de sua vida. “Fomos com a roupa do corpo para a casa da minha mãe. Estamos comendo o que os outros nos dão na rua. Não sabemos como vai ser a nossa vida. Não temos mais casa e perdemos tudo”, afirmou.
Na cidade de Matipó, a água do rio que dá nome ao município subiu cinco metros, deixando centenas de desabrigados.
Uma mulher morreu durante o soterramento de uma casa no distrito de Padre Fialho. A casa em que ela estava ficou sob escombros. Ocupavam o local ainda seus pais, avô e cunhada, mas eles conseguiram se salvar, segundo o coordenador da Defesa Civil da cidade, Eduardo Moreira.
A vítima foi retirada e levada para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Uma outra casa também desabou, mas estava vazia.
O nível do Rio Matipó só desceu depois de três dias. “O alagamento foi escandaloso. Só lembro de algo parecido em 1985”, disse Eduardo Moreira, de 61 anos.
CORTES E DESCASO
Somente uma semana depois que as tempestades começaram a inundar cidades inteiras em Minas Gerais, Bolsonaro anunciou que irá realizar um sobrevoo nas regiões atingidas.
Segundo nota oficial, ele deverá ir acompanhado do seu ministro da Defesa, Fernando Azevedo e deverá se encontrar com o governador mineiro, Romeu Zema.
A demora é mais uma prova do desrespeito deste governo com o povo. Os mesmos responsáveis pelos ataques à Previdência e pelo caos no INSS, não tomaram nenhuma atitude com relação às chuvas.
Sob as ordens de Paulo Guedes, o governo empenhou menos de um terço dos recursos previstos no Orçamento da prevenção de desastres e enchentes.
Em 2019 , a verba que estava prevista para prevenção de desastres naturais era R$ 306,2 milhões, valor muito menor do que nos anos anteriores. Em 2012, por exemplo, o valor equivaleria, hoje, corrigido pela inflação, a R$ 4,2 bilhões.
Do total orçado para o ano passado, apenas R$ 99 milhões foram liquidados (quando o dinheiro do orçamento é efetivamente gasto).
A maior parte desses R$ 306,2 milhões foram orçados para obras contra cheias e inundações (R$ 167,4 milhões). Contudo, nada dessa verba foi liquidada.
Já o orçamento de 2019 para ações de prevenção foi quase todo empenhado (quando o dinheiro é reservado depois de um contrato assinado para garantir o pagamento), mas os projetos não foram executados e o dinheiro não foi liquidado.
Para 2020, a verba de combate a desastres naturais é ainda menor do que a orçada em 2019, se trata de R$ 284 milhões. Uma redução de 11%, em comparação ao ano passado.