Jair Bolsonaro discursou na “27ª Edição da Marcha para Jesus”, realizada pelas igrejas evangélicas, na quinta-feira (20), na Zona Norte de São Paulo. O ato seria, teoricamente, para celebrar a “paz e o amor em Cristo”, mas Bolsonaro, segurando a bandeira de Israel, não se dignou a respeitar o lema da passeata. Aproveitou para fazer apologia de decreto das armas, que foi rejeitado pelo Congresso Nacional. (Leia aqui: Senado derruba decreto das armas de Bolsonaro por 47 a 28)
Chamou a atenção dos participantes da caminhada a presença destacada de uma grande bandeira de Israel, na qual Bolsonaro se apoiou, durante todo o seu pronunciamento. A bandeira oficial do palanque não era a do Brasil, como era de se esperar, mas sim a de Israel (!??).
Mantendo-se o tempo todo grudado à bandeira, Bolsonaro seguiu em sua cruzada pró-violência. Disse que quer armar o país e fez o seu gesto característico com as mãos, apontando em direção ao público como se atirasse com uma metralhadora (quem sabe uma UZI, israelense é claro).
O intento de Bolsonaro de liberar a posse de armas, acabará, segundo a opinião do desembargador Alcides da Fonseca Neto, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, fortalecendo todas as milícias que existem no país. (Leia aqui: “Liberar posse e porte de armas ajuda as milícias”, diz desembargador do TJ-RJ)
Não é a primeira vez que Bolsonaro demonstra o seu servilismo a Israel e EUA e o seu desprezo pelo Brasil. Assim que ele desembarcou no aeroporto de Tel Aviv, durante sua viagem ao Oriente Médio, no início do mandato, Bolsonaro disse, em seu primeiro discurso: “Eu amo Israel!”. (Leia mais: Bolsonaro em Israel: ruptura com história da diplomacia brasileira)
Poderia ser apenas um gesto de cortesia com o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, mas, não era. Bolsonaro seguiu rasgando elogios a Israel e desmerecendo o Brasil durante toda a viagem. Fez isso, por exemplo, em entrevista a jornalistas brasileiros que cobriam a comitiva. Veja o que ele disse, por exemplo, ao falar das diferenças entre os dois países:
“Olha o que eles [israelenses] não têm e vejam o que eles são. Olha o que nós [brasileiros] temos e vejam o que não somos”. Ou seja, ele afirmou, sem a menor cerimônia, que “nós brasileiros não somos nada”.
O Brasil realmente tem muita coisa. Muitas riquezas. Principalmente um povo trabalhador, dedicado e criativo. Tem uma engenharia capaz de construir uma Embraer, por exemplo, e descobrir petróleo a sete mil metros de profundidade, mas tem também gente desprezível como Bolsonaro e Paulo Guedes que pregam a entrega de tudo para os monopólios estrangeiros.
Aliás, é o que eles estão tentando fazer com o pré-sal e, efetivamente, estão fazendo com a própria Embraer, entregando-a para a americana Boeing. É gente que considera que o brasileiro não é capaz de construir e nem de criar nada. Só defendem o que vem de fora. No caso de Bolsonaro, defende exclusivamente o que vem dos EUA e de Israel. (Leia: Bolsonaro diz que vender a Embraer para a Boeing “preserva os interesses nacionais”)
O tão badalado “exemplo” de Israel, que Bolsonaro não para da repetir, como o melhor lugar do mundo, não tem base nenhuma na realidade. É uma farsa. Israel não passa de um mero protetorado americano no Oriente Médio, sustentado com dólares e armas americanas. Não fosse isso, não conseguiria impôr a sua contumaz violência contra os povos da região.
A bajulação de Bolsonaro a Israel foi tanta nos últimos tempos que desagradou até mesmo os senadores brasileiros. Em audiência com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ocorrida em abril naquela casa, os parlamentares cobraram do presidente que ele preste mais atenção às empresas brasileiras de segurança ao invés de fazer lobby com o intuito de trazer empresas de Israel para “vender serviços e bens por aqui”.
“Tecnologia sensível, por exemplo, que é especialidade de Israel, é especialidade de Santa Catarina”, observou o senador Esperidião Amin (PP-SC), lembrando que apesar de Santa Catarina possuir o Sapiens Parque, um centro de alta tecnologia neste setor, Bolsonaro vai buscar tecnologia lá fora “e, até hoje, não se dignou a visitar-nos”, protestou o parlamentar.
E não é só Israel que Bolsonaro ama. Em visita a Washington, ele não teve dúvida: bateu continência para a bandeira americana. Só faltou jurar fidelidade.
Não só isso. Em jantar oferecido a direitistas norte-americanos após sua posse, ele disse aos especuladores presentes que seu governo “não veio para construir nada” no Brasil. “Não queremos construir nada no Brasil. Nós chegamos ao governo para desconstruir as coisas que foram feitas”, afirmou o presidente.
Logo depois de Bolsonaro, falou também aos empresários o ministro Paulo Guedes, funcionário dos bancos que ocupa o Ministério da Economia com a função de destruir a Previdência, aumentar os ganhos dos bancos e “vender todas as estatais” aos estrangeiros.
Vejam a pérola de capachismo dita por ele no jantar:
“Merecemos um tratamento diferente daquele que tínhamos antes”, disse Guedes. “O presidente ama a América, eu amo a América”. “O presidente ama os americanos, e eu também, claro, estudei aqui. Adoro Coca-Cola, a Disneylândia”, acrescentou o ministro, na ocasião. (Leia mais: Guedes: “eu e o presidente amamos a América. Adoro Coca-Cola, a Disneylândia”)
E a falta de vértebra de Guedes não parou por aí: “Estamos abertos para negócios”, anunciou. “Se vocês forem lá, podem comprar várias coisas, podem comprar imóveis”, afirmou, apontando para os leilões de áreas do setor público.
“Nós estamos vendendo. “(…) nós vendemos 12 aeroportos. Daqui 3 a 4 meses nós vamos vender petróleo, o Pré-Sal. Estamos abertos para investimentos privados”, prosseguiu o Ministro da Economia de Bolsonaro.
Por tudo isso, fica fácil entender porque Bolsonaro discursa agarrado à bandeira de Israel e porque ele bate continência para a bandeira americana. Faz isso porque não passa de um serviçal, um lacaio dos monopólios americanos e, por tabela, também dos israelenses.
Aliás, o slogan que ele vive repetindo a toda hora, deveria ser trocado. Deveria ser um que esteja mais de acordo com esse comportamento servil. Alguma coisa do tipo “Israel acima de tudo e Deus acima de todos” ou “EUA acima de tudo e Deus acima de todos”. Ou os dois acima de tudo…Afinal de contas, essas são as duas bandeiras que Bolsonaro ama e venera.
SÉRGIO CRUZ
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