A kakistocracia, leitores, é o governo dirigido pelos piores, pelos menos qualificados e pelos mais inescrupulosos – e, acrescentamos nós, pelos mais imbecis. Vejamos aqui um breve exemplo.
Várias das pessoas presentes à reunião de Bolsonaro com o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, na quarta-feira (07/08), relataram um ataque de nervos do sr. presidente, por conta de uma ação do fisco contra um de seus irmãos, que é comerciante em São Paulo.
Em meio ao ataque, Bolsonaro acusou a Receita de estar infiltrada por “petistas” que estariam “perseguindo sua família”.
Algo que, disseram os auditores fiscais, é impossível, devido aos critérios usados, expostos em recente Carta Aberta (v. HP 06/08/2019, Receita Federal denuncia proibição de investigações a “agentes públicos”).
Apenas, os auditores fiscais não distinguem autoridades – ou familiares de autoridades – em suas investigações ou ações.
Bolsonaro, que havia atacado o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por este detectar as movimentações financeiras suspeitas de seu filho Flávio, e de seu faz-tudo Fabrício Queiroz, agora quer remover auditores da Receita – e não apenas os auditores fiscais que localizaram as irregularidades nas declarações de seu irmão.
“Um dos alvos é a chefe do centro de atendimento da Receita Federal na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, que cuida dos processos relativos à região onde mora a família Bolsonaro. Nomeada no governo Michel Temer, ela compartilha críticas contra a atual gestão em suas redes sociais. Outro foco é a fusão da superintendência da Receita em Minas Gerais com a do Espírito Santo e Rio de Janeiro, vista como o momento para trocar o responsável pela área”, segundo o jornal Valor Econômico, que entrevistou as pessoas que presenciaram o ataque de Bolsonaro (v. Bolsonaro acusa Receita Federal de perseguir sua família, Valor, 12/08/2019).
Do que se pode depreender: o critério de Bolsonaro é a perseguição política – essa que ele acusa os auditores fiscais de fazer contra ele.
Perseguidores que acusam os outros de perseguirem é, aliás, algo muito conhecido. Não somente do ponto de vista psiquiátrico. Além disso, é um equivalente do ladrão que sai gritando: “pega ladrão!”.
Bolsonaro disse a jornalistas, em café da manhã, que está descontente com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.
Não apenas porque o presidente do Coaf, Roberto Leonel de Oliveira Lima, nomeado por Moro, declarou que a suspensão das investigações com base em informações do órgão prejudicará o combate à corrupção, narcotráfico, sonegação e outros delitos (v. HP 08/08/2019, Para esconder corrupção da família, Bolsonaro ataca o presidente do Coaf).
A suspensão das investigações com base em dados do Coaf, em decisão do atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, teve o objetivo de impedir a continuação do inquérito sobre os delitos de Flávio Bolsonaro (v. HP 17/07/2019, Toffoli decide acobertar crimes de Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz).
Moro, disse Bolsonaro aos jornalistas, procurou Toffoli, no fim de julho, para tentar convencê-lo a revogar a suspensão das investigações. Por isso, Bolsonaro estava tão irritado com Moro.
Quanto ao presidente do Coaf, Bolsonaro ordenou a Guedes, ministro da Economia – para onde o órgão foi transferido, ao ser retirado da autoridade de Moro – que o demitisse.
Ficou, então, claro porque Bolsonaro estava tão desesperado para que o Coaf não ficasse com Moro.
Porém, até Guedes tem dificuldade de demitir um funcionário que nada fez de errado, exceto cumprir com a sua função.
Assim, Guedes, depois de dizer que queria uma solução “institucional”, quer enviar o órgão para o Banco Central (v. HP 10/08/2019, Para acobertar filho, Bolsonaro joga Coaf no BC e “corta a cabeça” do órgão).
C.L.
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