A deputada federal Alê Silva (PSL-MG), que denunciou ter recebido ameaça de morte de Marcelo Álvaro Antônio, contou que está sendo alvo de ataques e perseguições, após ter confirmado a existência do esquema de candidaturas de laranjas comandado pelo ministro do Turismo na eleição de 2018, em Minas Gerais.
De acordo com a parlamentar, conversas privadas, de texto e áudio, que teve com membros do partido e assessores estão sendo divulgadas de forma falsificada nas redes sociais, além de outras que ela não reconhece e classifica como “fake news”.
“Eu sei que esses prints e áudios têm que passar por uma perícia técnica e eu vou deixar para entregar isso no momento oportuno dentro dos autos para evitar especulação”, assinalou Alê Silva, nesta terça-feira (16), que é do mesmo partido de Bolsonaro.
Alê Silva critica seus colegas do PSL e diz que eles agem igual àqueles que antes condenavam. “Muitos começaram a me detonar nas redes sociais perguntando onde estão as provas e as pessoas que me perguntam isso são exatamente aquelas que brigavam com os correligionários do PT quando eles perguntavam onde estavam as provas. Então eu vi uma ironia muito grande. Estão agindo exatamente igual aqueles que eles sempre condenaram”, disse a deputada.
“Alguém perguntou-me por aqui: ‘Cadê as provas’? Eu pensei: ‘Acho que eu já ouvi isso antes…’”, escreveu ela.
No domingo (14), o presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), anunciou que Alê Silva seria impedida de participar do grupo de WhatsApp da bancada em função das denúncias e a repercussão do episódio.
A parlamentar disse que já não participava do grupo há dois meses, após constatar vazamentos dos diálogos. “Infelizmente, nosso nobre presidente não teve o prazer de me excluir”, afirmou. Segundo a deputada, ela procurou Bivar ainda em janeiro para discutir as ameaças que teriam sido feitas pelo ministro.
CLEUZENIR
A deputada enviou um ofício ao governo de Portugal, informando que outra denunciante do caso de laranjas no partido corre risco de vida caso retorne ao Brasil.
O documento encaminhado pela deputada às autoridades portuguesas reforça um pedido de asilo feito por Cleuzenir Barboza, que foi candidata a deputada estadual pelo PSL no Estado e denunciou o esquema de laranjas ao Ministério Público.
Cleuzenir se mudou para Portugal com o filho no ano passado. Ela também afirmou ter sido ameaçada e, no dia 2 de abril, pediu asilo político, que está sendo analisado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
A parlamentar informa às autoridades de Portugal que o PSL, comandado no período eleitoral por Marcelo Álvaro, tentou envolver a candidata a uma cadeira no legislativo mineiro no esquema. Alê Silva escreve no ofício que, “por não compactuar com esse tipo de procedimento, ela (Cleuzenir) se viu obrigada a fazer a respectiva denúncia aos órgãos públicos competentes, ainda que isso lhe custasse a sua saída de sua terra natal”.
Segundo a deputada, a iniciativa de enviar o documento foi “em razão de conhecer de perto os fatos e de ter plenas convicções dos riscos à vida e à integridade física da requerente e de seu filho caso permaneçam no Brasil”.
A denúncia de ameaça de morte contra Alê Silva provocou a reação da Procuradoria e da Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados. Uma reunião conjunta dos dois órgãos foi convocada para estudar medidas de proteção à parlamentar.
Para a líder da minoria na Casa, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), a denúncia feita pela deputada é grave e medidas para protegê-la precisam ser adotadas. “Acho que qualquer denúncia contra uma mulher e, particularmente, uma parlamentar assume uma gravidade enorme, porque ela é uma representante política”, afirmou.
“Obviamente, todos têm direito ao contraditório. Mas se ela faz uma denúncia aguda… e não é a primeira vez que essa questão de candidatos laranjas vêm à pauta, e nenhuma medida do governo foi tomada em relação ao ministro”, criticou.
Até agora, Bolsonaro tem optado por se manter em silêncio sobre as acusações contra o ministro do Turismo. Quatro candidatas do PSL de Minas afirmaram terem sido usadas ou recebido propostas para ser laranja do partido nas eleições.
O caso das candidaturas laranjas é investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público em Minas e em Pernambuco.
A PF vê elementos de participação de Álvaro Antônio na fraude.
As denúncias se avolumam e se tornam mais consistentes a cada dia que passa, mas Álvaro Antônio permanece ministro do Turismo de Bolsonaro.
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