“Estes assassinatos são também uma consequência da difamação dos ativistas humanos e ambientais pelo presidente Bolsonaro e do desmantelamento da legislação ambiental e de direitos humanos”, afirma a deputada
Anna Cavazzini, a alemã deputada do parlamento europeu e vice-presidente da Delegação do Parlamento Europeu para o Brasil, denunciou que “as mortes do jornalista Dom Phillips e do ativista dos direitos indígenas Bruno Pereira são notícias terríveis. As autoridades brasileiras devem investigar imediatamente os antecedentes destes assassinatos e levar os responsáveis à Justiça. […] Estes assassinatos são também uma consequência da difamação dos ativistas humanos e ambientais pelo presidente Bolsonaro e do desmantelamento da legislação ambiental e de direitos humanos”.
Para a deputada, que é presidente da Comissão de Comércio e Globalização do Parlamento, a questão vai além da morte dos dois homens: “Este e o futuro governo brasileiro devem fazer todos os movimentos possíveis para assegurar que os ativistas dos direitos humanos, ambientais e climáticos sejam mais bem protegidos no futuro. Essa falta de atenção pode ter consequências graves”.
FAMÍLIA DE DOM É GRATA AOS QUE PARTICIPARAM DAS BUSCAS
Um comunicado divulgado pela família do jornalista britânico, Dom Philips, expressa a dor que a família sofre após a confirmação da morte do profissional. Os corpos que podem ser de Dom e do indigenista Bruno Araújo Pereira foram encontrados na região do Vale do Javari, no oeste do Estado e a perícia pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC) está prevista para começar já nesta sexta.
O texto divulgado pela família de Dom Philips está em nome da irmã Sian, do irmão Gareth, e seus parceiros e filhos. Os parentes também lamentam a morte de Bruno Pereira e agradeceram àqueles que participaram dos dias de buscas.
“Estamos com o coração partido pela confirmação de que Dom e Bruno foram assassinados e estendemos nossas mais profundas condolências a Alessandra, Beatriz e aos demais familiares brasileiros de ambos os homens. Somos gratos a todos que participaram da busca, especialmente aos grupos indígenas que trabalharam incansavelmente para encontrar evidências do ataque”.
PROTESTOS NA SEDE DO PARLAMENTO EUROPEU EM BRUXELAS
Uma delegação da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) protestou em frente ao prédio do Parlamento Europeu, em Bruxelas, na quinta-feira (16), exigindo respostas sobre o desaparecimento do jornalista e do indigenista, no Vale do Javari. Ativistas do movimento ambientalista internacional Extinction Rebellion estavam também na manifestação.
Bruxelas tem sido palco de inúmeras visitas de líderes indígenas brasileiros em busca do envolvimento da União Europeia em suas lutas. No mês passado, a líder indígena Maria Leusa Kaba Munduruku esteve na Bélgica para denunciar as mineradoras e explicar que elas são responsáveis por prejudicar grupos indígenas e destruir a floresta tropical mais importante do mundo. Munduruku tentou convencer os legisladores do bloco europeu a reforçar propostas para responsabilizá-los.
“Vim à Europa para denunciar isso e dizer às pessoas que compram ouro que ele vem com o sangue indígena, e elas são culpadas por isso também” afirmou Munduruku. “Eles são os perpetradores da violência que está acontecendo no Brasil”, denunciou.
O grupo da APIB está na cidade europeia para participar de reuniões com eurodeputados.
A Comissão Europeia divulgou, em fevereiro passado, uma proposta com novas regras para responsabilizar as empresas que fazem negócios na União Europeia e que são responsáveis por abusos dos direitos humanos em suas cadeias de suprimento. A iniciativa também contempla dar às vítimas o direito de processar por danos. A proposta ainda está sendo discutida no Parlamento Europeu.
ONU EXIGE REPARAÇÃO PARA AS FAMÍLIAS
A ONU, junto com ativistas ambientais e de direitos humanos, também expressou nesta quinta-feira indignação com os assassinatos e exigiu que o governo garanta a investigação do crime.
“Esse ato brutal de violência é chocante e pedimos às autoridades brasileiras para garantir que as investigações do caso sejam imparciais, transparentes e que as famílias das vítimas recebam reparação”, disse a porta-voz do Escritório de Direitos Humanos da ONU, Ravina Shamdasani.