
A deputada federal Alê Silva (PSL-MG) prestou depoimento na quarta-feira (10) à Polícia Federal em Brasília e denunciou o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, por ameaça de morte. Ela disse que foi informada por um correligionário sobre a ameaça que ocorreu no fim de março, em Belo Horizonte.
A parlamentar mineira confirmou a existência de esquema de candidaturas laranjas comandado por Marcelo Álvaro Antônioem Minas Gerais e pediu proteção policial.
“Duas laranjas, Debora Gomes e Milla Fernandes, são da minha região. Eu andei palmo a palmo todo o Vale do Aço e nunca ouvi falar delas durante o período de campanha. […] Tudo o que eu pesquisei e o que foi relatado pelas laranjas que acusaram o ministro tem extrema consistência”, afirma a deputada federal.
Segundo a parlamentar, ela ouviu o relato da ameaça de morte no dia 1º de abril, uma segunda-feira, em seu escritório político de Ipatinga. Nesse dia, um político do PSL de Minas que esteve com Álvaro Antônio em Belo Horizonte (ela diz ter repassado o nome do político à Polícia Federal) foi de carro da capital mineira a Ipatinga (216 km) para lhe relatar o que havia ocorrido pessoalmente – evitando assim falar por telefone.
“Eu de fato me sinto ameaçada, pelos últimos acontecimentos. Ele (o ministro) não fala diretamente comigo. Essas pessoas não usam mais telefone, têm medo de estar grampeadas. Então mandam interlocutores. Um deles me disse que ele estava com ódio mortal de mim, que se eu soubesse de mais alguma coisa, que era para eu ficar quieta”, contou a deputada.
“Ele disse para eu parar, esquecer esse assunto, não levar isso adiante porque senão a minha vida e a da minha família correria risco”, diz Alê Silva, segundo quem o político reproduziu frase que teria sido dita por Álvaro Antônio: “Essa pessoa me disse que ele falou assim: ‘Eu vou parar a minha vida para acabar com a vida dela’”.
Afirmando temer represálias no partido, ela encaminhou o material e os relatos que tinha à Associação Patriotas em Foco, de sua cidade, Coronel Fabriciano. A entidade fez uma representação ao Ministério Público dias antes da publicação da primeira reportagem sobre o caso.
“Prometi na vida pública combater a corrupção e jamais iria me calar diante do surgimento de um foco de corrupção tão perto de mim. Senti-me na obrigação de levar os fatos ao conhecimento do Ministério Público. No início me mantive em silêncio por receio da reação dos envolvidos. Agora vieram sérias ameaças, que se concretizaram através de interlocutores do ministro”, afirma.
O ministro do Turismo, que deve ser o próximo a deixar o governo, disse que a deputada move uma “campanha difamatória” contra ele, em razão da disputa pelo controle de diretórios municipais em suas bases eleitorais em MG.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), líder da Minoria na Câmara, informou pelo Twitter que entrou com medidas protetivas em favor da deputada. Os órgãos foram acionados pela deputada que prestou solidariedade a Alê Silva.
Feghali diz que nesta segunda-feira (15) haverá reunião do conjunto de mulheres para tomar medidas sobre a denúncia.
“Ministro do Turismo denunciado não só por esquema de candidaturas laranjas, mas agora por ameaça de morte a uma colega da mesma legenda? Não só os órgãos competentes devem apurar, como o ´presidente´ não pode se omitir. Gravíssimo!”, disse a parlamentar no Twitter.
As candidatas laranjas que trouxeram à tona o escândalo envolvendo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, foram Lilian Bernardino, Milla Fernandes, Débora Gomes e Naftali Tamar.
Uma das ex-candidatas, Débora Gomes recebeu R$ 72 mil para realizar sua campanha eleitoral e obteve apenas 885 votos. Do valor recebido, gastou R$ 30 mil em empresas cujo dono é Reginaldo Soares e R$ 7,6 mil em outra de Mateus Von Rondon. Além disso gastou R$ 10 mil em uma empresa cuja dona é sócia de Reginaldo na anterior.
Outra que recebeu R$ 72 mil foi Milla Fernandes que teve apenas 324 votos. Em seus gastos declarados à Justiça Eleitoral constam R$ 4,9 mil para Mateus. A ex-candidata Lilian Bernardino é bastante próxima de Haissander Souza de Paula, que foi assessor no gabinete de Marcelo Antonio de 2017 até o início deste ano.
Lilian recebeu R$ 65 mil da direção nacional do PSL e obteve 196 votos. Deste total, R$ 14,9 mil foram para duas empresas de Reginaldo Soares, outros R$ 10 mil para a empresa de sua sócia e R$ 11 mil para a empresa de Mateus Von Rondon. Por fim, a ex-candidata Naftali Tamar recebeu R$ 70 mil do partido, teve 669 votos e pagou R$ 9 mil para uma empresa de Mateus.
Mas além das quatro, outros casos vieram à tona. Outra ex-candidata, Zuleide Oliveira contou que se reuniu pessoalmente com o ministro, que fez a proposta a ela. Zuleide receberia R$ 60 mil para a campanha, mas deveria devolver R$ 45 mil.
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