O deputado Coronel Tadeu (PSL-SP), que na tarde de terça-feira (19), arrancou e pisoteou um quadro ilustrado, exposto dentro da Câmara Federal, com uma charge comemorativa do Dia da Consciência Negra que denunciava as mortes da população negra nas comunidades brasileiras, voltou a manifestar prepotência e o preconceito racial, em entrevista à Folha de S. Paulo.
Ele disse que “os negros são mortos por policiais por serem maioria no tráfico”. A charge destruída mostra um jovem negro algemado sendo morto por um policial, que virava as costas para ele, com o título “O genocídio da população negra”. “O tráfico absorve uma boa parte das pessoas que moram nas comunidades, e a maioria dessas pessoas é de origem negra”, afirmou o parlamentar.
“Então, portanto, o resultado disso é que, em confronto com policiais, as [pessoas] que estão no tráfico acabam sendo vitimadas no confronto. E aí, se a maioria é negra, o resultado só pode ser esse”, prosseguiu o Coronel Tadeu, acrescentando que não teme estar sendo acusado formalmente de racismo por diversos parlamentares.
“Claro que eles [a oposição] faz o jogo deles, e eles vão me acusar de racista, fascista, tudo que é ‘ista’. Eu não preciso estar bem com eles, eu preciso estar bem com minha consciência”, afirmou o parlamentar racista.
Mesmo sendo advertido pelo presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), pelo vandalismo de arrancar charge da exposição e rasgá-la, o deputado bolsonarista insistiu que não tinha cometido nenhum delito e que faria tudo de novo.
“Podia ter sido feito de maneira diferente, mas o que de fato precisava era aquele cartaz ser retirado”, afirmou o aprendiz de fascista. A obra vandalizada é do cartunista Carlos Latuff e trazia dados sobre violência contra negros. “Se fazem isso contra um cartaz, imagine contra gente de carne, osso e pele negra!”, afirmou o cartunista.
O texto da charge informava que os jovens negros são as principais vítimas da ação letal das polícias no Brasil e explicava também que a população negra é maioria no sistema carcerário do Brasil. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2019 mostram que 75,4% dos mortos em intervenções policiais são negros.
O parlamentar não só destruiu o quadro, como filmou o momento em que pisa e quebra o quadro e divulgou seu vandalismo nas redes sociais. Na gravação, o deputado fez ironia afirmando que é “claro que o racismo é crime”.
E continua: “Coisa mais abominável hoje na sociedade brasileira e mundial. Isso é racismo, policial de boina preta, arma na mão, sujeito negro. Isso quer dizer o quê? Que a polícia só mata preto? Isso aqui não vai ficar na parede, Isso aqui é contra a polícia.”
Em seguida, ele arranca o quadro da parede e continua: “A polícia está para defender a sociedade. Um abraço para vocês, eu vou queimar esse cartaz que não deveria estar aqui”.
Outro deputado bolsonarista, Daniel Silveira (PSL-RJ), o mesmo que num comício durante a campanha eleitoral quebrou e expôs ao público aos berros uma placa em homenagem à vereadora Merielle Franco, covardemente assassinada por milicianos, discursou na mesma linha em apoio ao troglodita qua arrancou a charge da Câmara.
“Há mais negros com arma, mais negros cometendo crime, mais negros confrontando a polícia”, disse ele. O coronel Tadeu concordou integralmente com as palavras racistas do parlamentar fluminense.
Autor da charge, Carlos Latuff condenou a atitude do deputado que destruiu a placa. “Quando esse policial [o deputado é coronel] promove essa agressão, ele está confirmando a mensagem da charge. Está confirmando não só a violência policial, como a tentativa de censura de toda violência policial”, disse, em publicação nas redes sociais. “Vejo isso com zero surpresa, na verdade ele está confirmando a truculência da polícia brasileira.”
Para ele, “a censura é estúpida, idiota, justamente porque acaba promovendo a imagem”. “Se não tivesse nenhum incidente, seria mais uma exposição, no momento que tem esse ataque você acaba colocando holofotes sobre a imagem e sobre o tema da imagem.”
Quatorze parlamentares já ajuizaram representação ao procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitando a abertura de inquérito civil e criminal contra os deputados federais Daniel Silveira (PSL-RJ) e Coronel Tadeu (PSL-SP). Na representação os deputados o afirmam que a ‘a atitude não condiz com a postura esperada de qualquer cidadão, muito menos um parlamentar eleito’.
Em relação a Daniel Silveira, os deputados destacam fala do parlamentar no plenário da Câmara. Ele afirmou que a ‘maior população carcerária é formada por negros no Brasil porque mais negros cometem crimes’. “Agora, não venha atribuir à Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro as mortes, porque um negrozinho bandidinho (sic) tem que ser perdoado”, declarou. A fala, segundo os deputados, tem conotação racista, configurado como crime inafiançável e imprescritível no Código Penal.
Coisas assim jamais poderiam acontecer, a humanidade criou um documento chamado de Direitos Humanos e os direitos humanos devem ser respeitados. Todo ser humano, branco, negro, ou amarelo, deve ser respeitado. E o que vemos infelizmente na sociedade brasileira sempre foi muito preconceito racial e social, gostaria de ver um Brasil melhor e mais fraterno em 2020, que respeitasse todas as pessoas, todo ser humano deve ser respeitado, seja rico, pobre ou miserável.